Rio
(AG) – A queda do dólar frente ao real no mercado brasileiro este ano não foi só mérito da política econômica do governo Lula. Em parte, a moeda americana caiu aqui pelos mesmos motivos que a levaram a amargar perdas frente ao euro: a baixíssima taxa de juros dos Estados Unidos, que incentivou a migração de recursos dos EUA para a Europa e despertou o apetite dos investidores por ativos então considerados de altíssimo risco, como os títulos brasileiros.A taxa básica de juros nos EUA está hoje em 1,25% ao ano, seu menor patamar das últimas quatro décadas. Diante de um rendimento tão baixo, os investidores destinaram parte de seu dinheiro para a Europa, onde os juros são o dobro do que nos EUA: 2,5%. E também voltaram seus olhos para os altíssimos rendimentos oferecidos pelos países emergentes.
“O excesso de liquidez, graças às baixas taxas de juros nos EUA, proporcionou a volta do apetite pelos piores riscos de crédito”, explica Paulo Tenani, estrategista do Citigroup Asset Management no Brasil.
Com mais investidores comprando títulos da dívida externa brasileira, a taxa de juros paga por esses papéis, que chegou a ser a terceira maior do mundo no ano passado, recuou para a quinta posição em maio. E as empresas brasileiras voltaram a tomar empréstimos no exterior. Foram mais de US$ 7 bilhões em captações este ano. Com mais recursos ingressando no Brasil, o dólar caiu 16% frente ao real.
Foi justamente em relação às divisas dos países com pior avaliação de risco que a moeda americana sofreu as maiores perdas. Frente ao peso argentino, por exemplo, a queda do dólar foi de 15% este ano.
Na Ásia, as quedas não foram tão intensas. O economista Marcelo Nonnenberg, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, lembra que os países asiáticos têm por política forçar que suas moedas acompanhem a variação do dólar. O governo japonês fez muitas intervenções no câmbio, para evitar uma alta forte do iene. Com isso, a moeda americana só caiu 0,45% no Japão este ano.
Ou seja, na prática foi mesmo o euro que se valorizou. E, no caso do Brasil, as condições internas também contaram. Com as medidas de austeridade fiscal e monetária do novo governo Lula, os analistas deixaram de temer a moratória da dívida pública. Mário Mesquita, economista-chefe do ABN Amro, lembra que houve uma correção dos exageros de 2002, quando o dólar chegou a R$ 3,99.