A queda do dólar e a melhora nos indicadores financeiros do país ajudaram o governo a reduzir em 84%, só nos três primeiros meses deste ano, a parcela da dívida pública de curtíssimo prazo que tem de ser renovada diariamente ? o chamado “overnight”. A redução na dívida no “over”, além de trazer alívio para as contas do governo, pode significar menor pressão sobre a inflação e sobre as cotações do dólar, explicam os economistas.

A dívida no “over” era comum no começo dos anos 90 e tinha sido aposentada pelo Plano Real. Mas, no fim do ano passado, voltou com força total. Em dezembro, a quantidade de títulos que precisavam ser renovados a cada dia chegou a estratosféricos R$ 59,34 bilhões, o equivalente a 9% da dívida pública total. Essa quantia caiu para R$ 25,93 bilhões em fevereiro e para cerca de R$ 9,5 bilhões em março.

O mercado aos poucos está depositando confiança no governo Lula, que mostrou compromisso com a austeridade fiscal ? afirma Carlos Cintra, gerente de Renda Fixa do Banco Prosper. ? Quando o governo precisa reduzir o prazo de parcela da dívida para apenas um dia, é sinal de que os investidores temem que esses compromissos não serão honrados.

Cintra lembra que, no ano passado, além da crise de confiança, o mercado sofreu com a crise nos fundos de investimento, que são os compradores finais dos títulos do governo. Sem interesse pelos fundos, os bancos preferiram deixar seus recursos diariamente no “overnight”.

Como os juros reais (taxa que desconta a inflação) estão elevadíssimos, hoje não há riscos de fuga para o dólar ou para o consumo. Mas, em 2002, o dinheiro no ?over? pode ter pressionado a inflação.

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