Queda da volatilidade pressiona bancos dos EUA e UE

A diminuição da volatilidade observada nos mercado financeiros internacionais já começa a pressionar o resultado dos bancos. Como o sobe-e-desce dos preços diminuiu nos últimos meses, no caso do mercado de câmbio para o menor nível desde 2007, o volume de operações que passa pelas mesas também caiu. Com isso, bancos revisam para baixo as estimativas de receita. Grandes instituições nos Estados Unidos e Europa afirmam que o faturamento com essas transações poderia cair até 25% no segundo trimestre de 2014.

Levantamento feito pelos analistas do setor bancário do Deutsche Bank mostra que três dos grandes bancos internacionais já reconhecem que as receitas cairão diante do ambiente econômico atual, que conta menor volatilidade e giro financeiro reduzido. O banco alemão cita que o JP Morgan, Citigroup e Credit Suisse são três casas que já alertaram que o resultado do segundo trimestre de 2014 será pressionado.

O Citi estima que as receitas podem cair entre 20% e 25% no segundo trimestre na comparação com igual período de 2013. A área financeira da casa explica que a falta de confiança dos investidores e algumas incertezas econômicas estão por trás da redução da volatilidade e dos volumes negociados. No JP Morgan, a expectativa é de contração de até 20%. O Credit Suisse não cita cifras, mas confirma a mesma tendência, diz o levantamento do Deutsche.

O Citibank destaca especialmente o fraco resultado visto este mês na comparação com igual mês do ano passado. Em maio de 2013, vale lembrar, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) emitiu o primeiro alerta sobre a perspectiva de normalização da política monetária. O sinal gerou uma reviravolta no mercado financeiro mundial com a reorganização dos investimentos, o que gerou forte volatilidade e elevou expressivamente os volumes negociados por bancos e corretoras.

O presidente executivo do Goldman Sachs, Gary Cohn, afirmou em evento esta semana em Nova York que o ambiente atual é “bastante difícil” para os bancos, pois o que move os negócios do setor é justamente a volatilidade. Se os mercados não se movimentam, o investidor não precisa fazer transações, destacou em sua apresentação. No primeiro trimestre, o Goldman já sentiu pressão nas negociações de ativos de renda fixa, que tiveram queda no faturamento e contribuíram para o encolhimento de 11% no lucro.

A volatilidade no mercado de câmbio está nas últimas semanas nos menores níveis desde 2007, mostra um estudo do Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês). Os economistas da instituição, que é formada pelos maiores bancos do mundo, citam alguns fatores para explicar a maior calmaria. A economia global ganhou força nos últimos meses, embora em um ritmo mais lento que o esperado e, mais importante, as expectativas sobre as mudanças da política monetária nos Estados Unidos estão mais firmemente ancoradas. Wall Street espera que as compras de ativos se encerrem no final do ano e os juros voltem a ser elevados em meados de 2015. Com isso, os próprios juros dos títulos do Tesouro norte-americano têm caído para os menores níveis desde junho de 2013.

O IIF alerta que esse cenário calmo pode mudar a qualquer momento e cita dois fatores capazes de fazer isso. Uma eventual mudança de percepção sobre os próximos passos da política monetária do Fed e uma piora da crise na Ucrânia. Se nenhum fato novo ocorrer, a expectativa é que a volatilidade continue baixa, sobretudo porque em junho começa o verão no hemisfério norte, período tradicionalmente marcado por menor volume de negócios no mercado financeiro nos países do primeiro mundo.

O estrategista do Standard Bank, Steven Barrow destaca que, sem haver novidades no cenário, o ambiente menos volátil deve seguir estimulando as operações de “carry trade”, principalmente com o euro. Neste tipo de estratégia, o investidor toma dinheiro em países de taxa de juros mais baixa, como na Europa, e aplica em mercados com juros maiores, como o Brasil. Além do “carry trade”, os investidores tem procurado aplicar mais em bolsa. Uma das evidências, diz ele, é o nível recorde das bolsas norte-americanas. Só nesta semana, com feriado nos EUA na segunda-feira, o S&P500 bateu dois recordes de pontuação. “Esse cenário mais calmo, porém, pode mudar a qualquer hora”, destaca ele.

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