Quebra na soja americana reduz área de milho no Paraná

A quebra na safra de soja norte-americana (de 78 milhões para 72 milhões de toneladas), anunciada na última quinta-feira pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), não se refletiu somente no aumento das cotações da commoditie. Para a safra 2003/2004, os produtores paranaenses já sinalizavam a substituição de áreas de milho por soja, devido à maior rentabilidade. Com a diminuição da oferta americana, a queda de 8% prevista para a safra normal de milho no Estado foi ampliada para 15%, segundo estimativa da Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná). Em conseqüência, a área plantada de soja deve crescer 9%, contra os 6% de acréscimo inicialmente projetados.

Os mesmos percentuais de variação são esperados na produção. Neste ano, o Paraná colheu 10,9 milhões de toneladas de soja e 8,3 milhões de toneladas da safra normal de milho. Juntos, soja e milho representam aproximadamente 85% da área plantada de grãos no Paraná. “Os produtores estão replanejando o plantio da próxima safra”, informa o engenheiro agrônomo Flávio Turra, da gerência técnica-econômica da Ocepar. “No inverno, quem puder vai plantar o milho safrinha na área onde foi plantado soja.”

O maior interesse dos produtores pela soja decorre da valorização da commoditie. No mercado internacional, os preços para venda futura evoluíram cerca de 8% em uma semana. Por ser uma commoditie dolarizada, o repasse foi imediato nos preços pagos aos produtores paranaenses. Na Cocamar, por exemplo, a saca valorizou 5,30% em uma semana, sendo cotada ontem a R$ 35,80. O mesmo percentual de ganho foi obtido pelos produtores de milho, cotado a R$ 14,00 a saca.

Turra destaca que o recuo na área destinada ao milho e o aumento do espaço para plantio de soja ocorrerá em todo o País. Mesmo assim, descarta a possibilidade de desabastecimento de milho no mercado interno, em função da boa safra 2002/2003. “O País produziu 44 milhões de toneladas para um consumo de 37 milhões de toneladas. Tem um excedente de 7 milhões de toneladas para ser consumido na passagem do ano e ainda sobra para consumo no ano que vem”, comenta o engenheiro agrônomo.

Se o risco de faltar milho está aparentemente eliminado, por outro lado a redução de oferta tende a aquecer os preços do produto, conforme Turra. “É uma questão de oferta e demanda. O milho é mais sensível. Quando há safras grandes, o preço cai muito e beneficia o consumidor de milho. Quando a safra é pequena, o produto sobe”, pondera Turra. Ele lembra, no entanto, que nesse ano o preço pago ao produtor pelo milho já caiu muito por conta do maior direcionamento do plantio para a soja. “O que teria que acontecer é uma estabilidade maior de preços com uma produção mais constante. A tendência a médio prazo é que as oscilações reduzam sua amplitude, com possibilidade de o Brasil se inserir com mais força no mercado internacional, proporcionando melhor remuneração”, prevê.

Para o consumidor, o repasse da possível alta do milho em 2004 ainda é incerto. Vai depender do ritmo de crescimento da economia brasileira. “Há uma certa defasagem nos preços, principalmente na carne de frango, porque a indústria não consegue repassar o aumento de custos. As margens no mercado interno estão muito achatadas e a renda do consumidor está reprimida”, analisa Turra. Diante deste cenário instável, a lucratividade das indústrias está concentrada nas exportações.

Clima favorece aumento da safra

Brasília 

(AE) – O sexto levantamento da produção agrícola, que será divulgado hoje pelo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deverá confirmar que as boas condições climáticas dos últimos meses favoreceram a safra 2002/2003. Especialistas apostam que a estimativa indicará produção superior aos 120,16 milhões de toneladas previstos em junho pelo governo. “São Pedro é o grande responsável pelo excelente resultado da safra deste ano”, afirmou o analista da AgroConsult, Hugo Flumian.

A nova previsão da Conab consolidará a produção na safra de verão e trará uma reavaliação das culturas de inverno, colhidas no segundo semestre do ano. No caso das culturas de primeira safra (de verão), o governo confirmará o reinado da soja, com colheita de pouco mais de 52 milhões de toneladas em 2002/03. É com esse número que o mercado trabalha, afirmou o analista da Céleres, Núcleo Agropecuário da MPrado Consultoria Empresarial, Leonardo Sologuren.

No caso das culturas de inverno, a safrinha de milho deve ser destaque no levantamento. “A produção neste ano foi excelente. Sem geada, a produtividade do milho foi muito boa. Grande parte da safra foi colhida e o clima daqui para frente deve favorecer o encerramento dos trabalhos de campo”, disse o técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra.

Ele calcula que 75% das lavouras de milho do Paraná já foram colhidas e estima que a safra no Estado, um dos principais produtores de milho do País, chegará a 5,5 milhões de toneladas na safrinha. A previsão do governo é de 4,326 milhões de toneladas. Para Turra, o governo reavaliará as previsões, inclusive para outros estados.

Em Mato Grosso, outro grande pólo de produção, o discurso é o mesmo. “A safrinha de milho neste ano foi excelente. Prova disso é que não há armazéns no Estado para estocar os grãos. A produção deve chegar a 2,6 milhões de toneladas”, disse a economista da Federação da Agricultura do Mato Grosso (Famato), Rosemeire Cristina dos Santos. O último levantamento da Conab indica colheita de 2,3 milhões de toneladas de milho em Mato Grosso.

Para o trigo, o clima nas próximas semanas determinará a produção na safra 2002/03, mas Flávio Turra, da Ocepar, acredita que a produção no Paraná chegará a 2,8 milhões de toneladas. Em junho, a Conab estimou produção de 2,342 milhões de toneladas. Cerca de 15% da safra foi colhida no Estado. “Choveu um pouco nos últimos dias, o que deixou os produtores apreensivos quanto à qualidade, mas por enquanto não há confirmação de prejuízos.”

Os produtores gaúchos também estão otimistas com o trigo. “Por enquanto, o clima não atrapalhou. A produção no Estado deve chegar a 2 milhões de toneladas”, afirmou o assistente técnico estadual de trigo da Emater-RS, Ataide Jacobsen. Em junho, o governo estimou colheita de 1,706 milhão de toneladas de trigo no Rio Grande do Sul.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo