Falta de chuvas está castigando
todas as regiões do Estado.

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A estiagem que castigou a lavoura pode comprometer de 15% a 20% da produção total de soja do País e gerar prejuízos da ordem de R$ 2 bilhões. No Paraná, a quebra da safra pode chegar a 25% da produção. As estimativas são da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja) que, preocupada com os prejuízos da lavoura, vai pedir ajuda ao governo federal durante encontro de governadores que acontece amanhã, em Rio Verde (GO).

?O agricultor vai ficar no vermelho. Ele comprou os insumos quando o dólar estava a R$ 3,20 e hoje está a R$ 2,60. Vai ficar endividado, terá que arrolar a dívida e vai ficar descapitalizado para a próxima safra?, apontou o presidente da Aprosoja, Gustavo Gonçalves, acrescentando que o custo de produção aumentou quase 35%, especialmente por conta da variação cambial.

No ano passado, o País produziu 49,5 milhões de toneladas de soja. Para este ano, a estimativa inicial era de 66 milhões mas, segundo Gonçalves, deve ficar em 55 milhões de toneladas ou, até menos, por conta da falta de chuva. ?A estiagem atingiu todos os estados produtores, de São Paulo ao Rio Grande do Sul. No Paraná, a situação é mais complicada porque não choveu por quase 20 dias no final de janeiro e parte de fevereiro, durante uma fase crítica de enchimento dos grãos?, explicou. No Rio Grande do Sul, segundo levantamento da Emater, a quebra da produção pode chegar a 35%. No Paraná, a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento ainda não divulgou os números oficiais da quebra da safra 2004/2005.

Ajuda

De acordo com Gustavo Gonçalves, a categoria vai aproveitar o encontro de amanhã em Rio Verde (GO), com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, e governadores de diversos estados, para pedir ajuda ao governo federal. ?A gente espera alguma reação do governo. Se ele não ajudar, o problema vai virar uma grande bola de neve. Com a agricultura endividada, descapitalizada, o comércio vai parar e a indústria vai ficar cada vez mais devagar?, apontou Gonçalves.

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Entre as reivindicações estão a renegociação de dívidas dos produtores e o estabelecimento de um preço mínimo de 11 dólares a saca de soja. A Aprosoja vai pedir ainda que o governo federal brigue na Organização Mundial do Comércio (OMC) pelo fim do subsídio de US$ 2 bilhões que é dado aos sojicultores norte-americanos.

Cinco governadores já confirmaram presença na reunião, entre eles Marconi Perillo, de Goiás; Germano Rigotto, do Rio Grande do Sul; Blairo Maggi, do Mato Grosso, Zeca do PT, do Mato Grosso do Sul; e Marcelo Miranda, do Tocantins. Do Paraná, ninguém havia confirmado presença até ontem, segundo a assessoria de imprensa do governo do Estado. Estarão em pauta a política de crédito rural, os instrumentos de apoio à comercialização da safra e políticas de interesse do agronegócio.

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Ocepar

O presidente da Organização das Cooperativas no Estado do Paraná, João Paulo Koslovski, encaminhou ontem, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva um estudo detalhado que aponta para este ano um cenário de dificuldades para o setor do agronegócio. Depois de um ano em que o agronegócio e as exportações puxaram a economia do País, o crescimento do PIB este ano pode estar comprometido. Entre as medidas sugeridas ao governo federal estão a liberação de recursos da ordem de R$ 500 milhões para amparar a comercialização do trigo da safra de 2004, cujos preços praticados estão abaixo do preço mínimo em cerca de 20%.; renegociação das parcelas vencidas e do custeio da safra de trigo; liberação de R$ 1 bilhão para custeio do plantio da segunda safra de milho e trigo/2005 cujo plantio ocorrerá a partir de março, entre outros. 

Coamo não arrisca números

Para o presidente da Cooperativa Agrícola de Campo Mourão (Coamo), José Aroldo Galassini, a quebra da safra deve ser bastante grande este ano. Ele não arrisca, no entanto, percentuais. ?Cada dia sem chuva, o percentual aumenta e muito. Qualquer previsão de safra, portanto, fica furada?, afirmou Galassini.

Segundo ele, a quebra deve ser maior em regiões do arenito, como áreas próximas a Umuarama, no Noroeste. ?São áreas novas, que não estão bem corrigidas. Nesses locais, a quebra pode chegar a 30% ou 50%?, arriscou Galassini.

Mas não é só a seca que está castigando os agricultores. ?Os juros agrícolas aumentaram. Também aumentaram os custos de produção, por conta da ferrugem asiática. Além disso, o estoque mundial é muito grande, os preços internacionais estão em baixa e o dólar está desvalorizado?, citou.

Para driblar a crise, Galassini acredita que o governo federal deverá interceder. ?Aumentaram muito os custos e os investimentos. O governo vai ter que fazer alguma coisa.? Apesar das dificuldades, Galassini garantiu que a Coamo está bem estruturada. ?Estamos bem capitalizados. Já tivemos outras crises na agricultura e vamos ajudar os produtores no que for necessário?, tranqüilizou. (LS)

Letras de crédito já estão disponíveis

O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ivan Wedekin, participa hoje, às 9h, na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), em São Paulo, do primeiro do leilão de venda de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Trata-se de um dos títulos agrícolas lançados no final do ano passado pelo ministro Roberto Rodrigues para ampliar a capacidade do setor privado de financiar a atividade agrícola.

O leilão das primeiras LCAs, lastreadas em Cédulas de Produto Rural (CPRs), será realizado pelo sistema eletrônico do Banco do Brasil. O primeiro pregão também contará com a presença do presidente da BM&F, Manoel Félix Cintra Neto e do vice-presidente de Agronegócios do BB, Ricardo Conceição.

As LCAs darão condições aos bancos de se refinanciarem, ampliando a oferta de crédito rural. Hoje as instituições financeiras deixam de comprar CPR quando o orçamento para este fim se esgota. Com o novo título os bancos podem pegar esse estoque de CPR e vender no mercado, só que envelopando com o nome ?LCA? que pode ser revendido para um novo investidor, ampliando sua capacidade de financiar a atividade agrícola.

O mesmo mecanismo funcionará para os Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCAs), também lastraeados nas CPRs ou em outros títulos emitidos por produtores rurais ou cooperativas. A diferença é que os CDCAs serão emitidas por empresas do agronegócio. Estas empresas que hoje financiam a agricultura, seja adiantando dinheiro ao produtor ou os insumos necessários à produção, também terão capacidade de se refinanciarem, empacotando as CPRs e os outros títulos, agora com a denominação de CDCAs.

A expectativa é de que haja uma expansão significativa da capacidade de financiamento da atividade agrícola por esses dois grupos: bancos e empresas.

Para atrair os investidores, o Ministério da Agricultura conta com o próprio desempenho do setor agrícola brasileiro.

Por meio das instituições financeiras e das empresas do agronegócio, os novos títulos vão conseguir aproximar o produtor rural do investidor urbano que é avesso a riscos pouco dimensionáveis.