A citricultura da Flórida, estado situado na região sudeste dos Estados Unidos que responde por cerca de 35% da produção de suco de laranja no mundo, vive um período tumultuado, de forte quebra ocasionada por intempéries e, principalmente, de falta de perspectivas. Em recente visita realizada àquele estado, o presidente e o superintendente da Paraná Citrus (a fábrica de suco concentrado e congelado de laranja da Cocamar, em Paranavaí), José Fernandes Jardim Júnior e Antonio Ailton Basso, constataram a preocupação dos produtores norte-americanos.
Após os furacões que varreram a Flórida nos últimos meses, os pomares de laranja sofreram estragos de tal monta que a produção deverá cair de 292 milhões de caixas em 2004 para apenas 170 milhões em 2005, segundo informações de especialistas do setor.
Os brasileiros ouviram dos mesmos especialistas que os pomares poderão demorar dez anos para recuperar-se e retomar o mesmo volume de produção do ano passado.
Os furacões, no entanto, contribuíram para produzir um outro tipo de dano, não menos grave: a intensa proliferação do cancro cítrico, doença que ataca os frutos, já presente em 90% dos pomares da Flórida.
Futuro incerto
A intensa especulação imobiliária naquele estado norte-americano jogou para o espaço o preço das terras e limitou a expansão da citricultura. Para se ter idéia, um acre (4.000 m2) na região produtora de laranja não sai por menos de US$ 7 mil. Projetando essa cotação em reais, o fazendeiro teria que desembolsar mais de R$ 100 mil por um único alqueire (24,2 mil m2), por exemplo, o que encareceria demais a atividade.
Não bastasse, o citricultor enfrenta outro problema: a escassez de mão-de-obra para serviços como a colheita, sendo o atual contingente de trabalhadores formado principalmente por mexicanos que entram ilegalmente no país. E que cobram caro pelo trabalho.
A saída, bastante onerosa, tem sido investir na mecanização da colheita: hoje, pelo menos 40% dos pomares são colhidos com máquinas e essa operação, cada vez mais sofisticada, inclui até mesmo o uso de robôs.
Um conjunto colhedor de laranja, que não sai por menos de US$ 1 milhão e leva sete anos para se pagar, derriça e recolhe os frutos de uma árvore em menos de dez segundos.
Bem organizados
Jardim Júnior, que é também vice-presidente da Cocamar, observou que a organização é um ponto forte entre os citricultores da Flórida. Unidos em entidades representativas influentes, eles são contemplados com subsídios para produzir e um mercado protegido para seu produto. O suco brasileiro, por exemplo, para ingressar nos Estados Unidos, esbarra em pesadas barreiras comerciais.
O marketing é também uma ferramenta que os produtores valorizam. Do valor de cada caixa de laranja produzida, eles destinam 9% para que suas entidades trabalhem o mercado consumidor.
Bem informados, conhecem tudo sobre a região produtora de laranja de seu principal concorrente, o Brasil, país que responde por mais de 60% da produção mundial de suco e merece respeito por ser extremamente competitivo no mercado internacional.
Estado começa colheita de ?um ano fraco?
Com uma carga de frutos menor do que a do ano passado, o citricultor Francisco Carlos Maraus, dono de 13,9 mil pés de laranja no município de Alto Paraná, região de Paranavaí, prepara-se para iniciar a colheita em seu pomar. Na média dos dois anos, ele costuma produzir mais de três caixas por planta. Este ano, entretanto, a estiagem reduziu a carga da planta em 20%, por ter ocorrido justamente no período de florada.
Maraus é um dos centenas de produtores que estão iniciando a safra e a Paraná Citrus, a fábrica de suco concentrado e congelado de laranja da Cocamar, situada em Paranavaí, planeja receber 3 milhões de caixas de 40,8 quilos, o mesmo volume do ano passado.
?Se tivesse ocorrido em outro período, quando os frutos já tivessem ?pegado?, a perda seria bem menor. Tivemos muito aborto na florada por causa da falta de chuva. Em compensação, os frutos estão bem maiores e bonitos?, avalia Maraus, que começou a plantar laranja em 1994, com 7 mil pés da variedade pêra. Hoje, dos 20 alqueires que possui, apenas dois ainda não foram ocupados por pomares.
Vantagens
Outras vantagens destacadas pelo produtor são não ter que replantar todo ano e utilizar pouca mão-de-obra, a não ser na colheita. É basicamente a família quem executa a maior parte dos serviços. ?Mas o que dá mais tranqüilidade é o fato de as plantas não sofrerem tanto com a estiagem como as culturas anuais. O produtor não se torna refém do tempo, e as perdas são bem menores?, diz. Bem estruturada, a família já vivia tranqüila com as atividades que desenvolviam antes de implantarem o pomar. Com a laranja, entretanto, a situação melhorou muito e hoje a atividade é sua principal fonte de renda. ?É uma boa opção para se trabalhar?, comenta Maraus.