O Dia das Crianças se aproxima e com ele os pais precisam administrar os mais diferentes tipos de desejos dos homenageados. Mais do que presentear, a data pode ser uma ótima oportunidade de inserir ou reforçar dentro do universo familiar a importância de usar de forma consciente o dinheiro. E um meio de se praticar isso, com as crianças que já fazem as quatro operações matemáticas, é oferecer dinheiro no lugar do presente. Pode parecer impessoal, mas muitos representantes da nova geração aprovam a medida.

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É o caso do estudante Henrique Serathiuk, de 9 anos. Ele conta que costuma ganhar presentes dos pais, mas é com o presente do bisavô que ele percebe a evolução do seu poder de compra. “Ele me dá R$ 50 a cada data comemorativa e quando chega a última celebração, o Natal, eu tenho R$ 250 para gastar no que eu quiser e dá para comprar muito mais coisas”. Além do Natal, ele ganha R$ 50 no início de todo ano, na Páscoa, no aniversário e no Dia das Crianças. Quanto a gastar no que bem entender, a mãe Cláudia pondera dizendo que tenta supervisionar os gastos. “Tento evitar que ele gaste por impulso, para que ele não se frustre depois ou compre algo desnecessário”, conta. Ela também dá uma mesada de R$ 20 para que os filhos aprendam na prática a lidar com o dinheiro de forma equilibrada. Outra maneira utilizada por ela para que os filhos aprendam o valor do dinheiro é levando-os para o trabalho. “Eles realizam pequenas atividades como encaixotar os livros e depois recebem um pagamento. Comecei a ganhar meu próprio dinheiro aos 12 anos e acho que isso foi fundamental para o meu desenvolvimento”, explica.

Esse tipo de atenção da família com a educação financeira das novas gerações encontra apoio tanto entre os especialistas das áreas de finanças quanto de diferentes linhas pedagógicas. “Esse trabalho não pode ser terceirizado para a escola ou para uma série de livros que tratam do tema. É na dinâmica familiar que os planos, inclusive financeiros, precisam ser conversados de forma a engajar todos os integrantes”, analisa a diretora da Escola Projeto 21, Yara Amaral. Para ela, há um hiato entre a informação e a formação na sociedade atual. “As crianças têm muita informação, mas nem sempre se converte em formação. E é isso que consolida os valores”, afirma. Comparar o valor de um brinquedo, por exemplo, ao salário da empregada doméstica que presta serviços na casa é uma forma de aproximar as crianças da realidade.

Na Projeto 21, esse contato com a realidade se deu por meio da própria grade curricular. Neste ano, duas turmas do 5º ano do Ensino Fundamental se engajaram no Projeto Cofre e reuniram capital para fazer um piquenique entre a turma e ajudar uma gestante nas compras do enxoval. “O projeto teve início porque eles não percebiam o valor das moedas e, por meio de vários conteúdos previstos para o ano como porcentagem, etc, eles conseguiram trabalhar com diferentes situações da vida real. Como isso aconteceu na época em que eles trabalhavam na disciplina de Ciências como sistema reprodutor, o projeto atingiu essa dimensão”, recorda Yara. Para os estudantes Daniel Brehmer e Ana Vitória, ambos com 10 anos de idade, a experiência rendeu uma lição que muitos adultos custam a aprender. “Juntar dinheiro antes para gastar depois é muito bom”, recomenda Ana Vitória. Daniel compartilha da mesma opinião e acrescenta. “Pesquisar antes de gastar também faz toda a diferença para o dinheiro render mais”. A dica de pesquisar é baseada no conhecimentos empírico das duas turmas. Com R$ 181 eles conseguiram comprar uma cadeira de bebê para automóvel, que poderá ser usada como bebê conforto. “Na pesquisa, a gente encontrou até por R$ 300 o mesmo produto”, recorda Daniel.

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Previdência privada

Além de viver em um período em que os índices inflacionários permitem um planejamento financeiro, muitas crianças de hoje já ganham dos pais um plano de previd&ec,irc;ncia privada. “Tem criança que não completou um ano e o pai já está investindo”, observa o assessor de investimentos da corretora AGL Investimentos, Ubirajara Rosado. Mais vantajoso que a poupança, esse tipo de investimento é uma clara demonstração de que o tempo de poupança faz toda a diferença na rentabilidade e no futuro. “Aplicar R$ 200 hoje é uma antecipação do capital que será necessário para pagar uma faculdade depois, só que com a diferença que no futuro o desembolso será muito maior”, explica. Mas Rosado alerta que entre um plano e outro, a diferença entre as taxas é muito grande, ultrapassa 50%, por isso é importante avaliar qual produto oferece maior rentabilidade líquida.

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Claro que todo esse cuidado precisa ter suporte na preparação da criança. E o plano de previdência privada também serve de ponto de partida para a transformação do comportamento financeiro de toda a família. “É uma via de mão dupla. Da mesma forma que aprendemos muito sobre preservação do meio ambiente com os filhos, podemos repassar para eles nossa preocupação com o futuro financeiro deles e, com isso, todos ganham”, indica o educador financeiro Álvaro Modernell, sócio-fundador da Mais Ativos, que está no oitavo livro sobre educação financeira para as crianças e já vendeu cem mil exemplares. A obra O Tesouro do Vovô, que será lançada no dia 20 de outubro, trata de educação previdenciária. Para ele, mais do que simplesmente poupar pensando no futuro, os futuros investidores devem ser preparados para gastar bem. “Não basta só poupar. Temos que consumir bem agora visando sempre um equilíbrio entre presente e futuro”.