Ditados populares dizem que a vida começa aos 40 anos. As dificuldades e erros vividos até então originam uma rotina de mais maturidade e sapiência. Só que existe um porém. Os profissionais dessa faixa etária vêem as dificuldades no trabalho aumentar, mesmo com a experiência. Os setores com mais desemprego nessa faixa etária são Administração e Engenharia.
Dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) realizada pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), indicam que o desemprego depois dos 40 anos foi de 4,04% na Região Metropolitana de Curitiba em dezembro de 2003. A taxa geral de desemprego do mesmo período foi de 6,5%.
Os quarentões representam 34,75% do total de pessoas inseridas no mercado de trabalho (473.135). Desse total, 19.098 estão desempregados, o que representa 21,59% do total de pessoas sem trabalho. O Ipardes ainda apurou que todas eles (os quarentões) têm experiência profissional anterior.
Quando perdem o emprego depois dos 40 anos, essas pessoas não conseguem voltar tão facilmente ao mercado de trabalho. Mas por que, se teoricamente elas acumularam muita experiência ao longo dos anos e é justamente isso que os empregadores querem?
Os motivos são diversos, como explica a professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de Minas Gerais, Maria Lúcia Rodrigues Correa, mestre em Administração e especialista no assunto. Um deles é a pura redução de custos. “Antigamente uma pessoa entrava na empresa e ficava a vida inteira. Este empregado acaba custando mais, pois usa mais os benefícios oferecidos e tem um salário maior”, comenta. “Ele desempenha uma atividade que um jovem recém-formado também pode realizar, só que mais atualizado e custando menos”, conta.
De acordo com Maria Lúcia, outro motivo é o paradigma da sociedade em valorizar somente o jovem. “Além disso, parece que a sociedade não percebeu que a tecnologia médica estendeu a expectativa de vida. Hoje pode-se viver até os 100 anos. As pessoas se aposentam aos 55 anos e depois? Vai fazer o quê?”, questiona. “Elas querem continuar fazendo parte do processo”.
Autoconhecimento
Para tentar permanecer no mercado de trabalho, Maria Lúcia dá algumas dicas. A mais importante de todas, de acordo com ela, é buscar o autoconhecimento. “É preciso montar a empresa Você S.A.”, comenta. Para ela, o estímulo para continuar esperto no trabalho vem de como a pessoa sabe lidar com seus problemas, os da empresa, e como resolvê-los. “Hoje em dia os empresários querem alguém com atitude e rapidez, que sabe trabalhar com prazo curto e pressão, sem ficar se lamentando ou com estresse”, revela.
Depois do autoconhecimento, Maria Lúcia orienta para que o profissional invista na carreira com a realização de cursos. “A educação deve ser permanente. O volume e a velocidade das informações é tão grande que, mesmo se estiver inteirado, não consegue dar conta de tudo”, justifica a professora. “Só que não pode pensar que fazendo uma pós-graduação, por exemplo, tudo estará resolvido. Tem que correr atrás”.
Mecânico
Ela explica que aquele profissional mecânico, que entra na empresa, bate cartão, faz o que mandam e vai embora, está totalmente fora dos planos dos empresários. “Os empregadores querem profissionais que agreguem valores. É necessário se inteirar com a empresa, saber como ela está inserida no mercado, quais seus objetivos, sua filosofia”, afirma Maria Lúcia.
A aparência também precisa estar em ordem. E não é só da beleza propriamente dita. Vender alegria e saúde para colegas de trabalho, chefes e clientes, pode ser a ferramenta para conquistar mais confiança. “É inadmissível ver uma pessoa que descuida da aparência porque está nos 40. O visual é muito importante. Pode ser considerado como uma gentileza que a pessoa faz com os outros”, diz Maria Lúcia.
Caso a pessoa já tenha perdido o emprego, todas as orientações já citadas permanecem. A professora acredita que outro fator importante é não lastimar a saída da empresa e correr atrás de oportunidades. “Tem que parar de chorar e encontrar coragem para recomeçar e investir em si próprio”, aponta. Um dos cursos que Maria Lúcia incentiva a fazer é o de vendas. “Todo mundo tem que ser vendedor. Você é um produto e também precisa vender idéias”, explica.
“Requisitos” fecham oportunidades
Maria Lúcia acredita que exista uma contradição no quesito experiência profissional. Quando é muito jovem, não consegue emprego porque não tem experiência. Se a pessoa já tem uma grande bagagem, ela não é aceita porque é qualificada demais para o serviço ou é muito cara. “É uma contradição, mas é o que acontece. Muitas vezes os empresários falam que têm vagas e não são preenchidas porque está difícil de atender os requisitos”, conta.
A dificuldade de arranjar trabalho está baseada em dois fatores do mercado atual. Hoje em dia, as empresas estão optando por contratar serviços de colaboradores terceirizados, sem nenhum vínculo com quem solicita o trabalho. “As pessoas recebem por nota fiscal”, conta Maria Lúcia. Isto diminui o número de empregos formais.
Mesmo sabendo dessa realidade, a professora não orienta a montar a própria empresa depois de sair de um emprego. “A maior parte das pessoas não é de emprendedores. Elas montam empresas que fecham em até dois anos justamente por causa disso”, comenta Maria Lúcia. O ideal é continuar investindo em si mesmo para estar apto às exigências do tão concorrido mercado de trabalho.
Emprego formal dá estabilidade
O analista de sistemas Júlio César Pokrywiecki, 37 anos, sentiu dificuldades em retornar ao mercado de trabalho depois de prestar serviços como terceiro. Em outubro de 2002, os projetos engatilhados não deram certo e ele resolveu tirar férias até o final do ano, para depois procurar um emprego. “E eu queria voltar como funcionário, em regime de CLT”, conta.
Pokrywiecki ficou parado até fevereiro do ano passado, quando foi chamado por um banco para realizar serviços terceirizados. Ele acabou aceitando e, 45 dias depois, foi chamado pela direção da empresa para regularizar a sua situação. “Eu optei pelo emprego formal por causa da estabilidade. Mesmo recebendo bem abaixo do que estava acostumado”, afirma. “Eu preferi assim porque tenho dois filhos e até então não tinha juntado dinheiro para a minha aposentadoria”, aponta.
Pokrywiecki está cursando o terceiro ano da faculdade de administração de empresas, dez anos depois de ter se formado em analista de sistemas. “Eu queria voltar a estudar para mudar o meu perfil técnico e também seguir nessa carreira”, comenta. “E é natural você ter que fazer cursos para se atualizar”. Pokrywiecki fala que retornaria aos estudos mesmo estando desempregado para fazer a reciclagem de conhecimentos. “Quem não tem cursos, faculdade e pelo menos um idioma, não tem muita chance de sobreviver no mercado”, acredita.
Para ele, o desemprego aos 40 anos não acontece em função da idade propriamente dita. “O problema está no enquadramento financeiro”, avalia. Ele acha que os profissionais mais experientes custam caro, pois já passaram por problemas durante a carreira. “Na verdade, as empresas não estão dispostas em pagar muito. Dependendo do perfil do empresário, ele prefere contratar dois ou três jovens e moldá-los em um perfil técnico, a recrutar pessoas mais experientes, mesmo sabendo que pode trazer mais resultados para a empresa”, afirma.