Foto: Vinicius Ricieri/Nossa Cidade |
Trem paralisado em Cambé por tratores dos produtores rurais. continua após a publicidade |
?Agricultores falidos não podem alimentar o Brasil.? A mensagem estava em uma das faixas dos produtores rurais que continuavam bloqueando a ferrovia em Maringá, no norte do Estado. Na mesma região, também os bloqueios na linha férrea de Marialva e Cambé seguiam para o quarto dia de protestos. Tanto tempo de ?impedimento? à produção já gera prejuízo e danos para alguns setores. A América Latina Logística (ALL) não tem mais espaço para os trens parados; e os avicultores não conseguem comprar alimento para as aves.
Tratores e caminhões permaneciam parados sobre a linha férrea na Avenida Dezenove de Dezembro, em Maringá. Além de faixas de protesto, lá os agricultores fizeram questão de desfilar com um caixão, simbolizando que ?Lula estaria enterrando a agricultura nacional?. Próximo à rodoviária, um trem parado chegava a atrapalhar o trânsito da cidade. Segundo o Sindicato Rural, os bloqueios permanecem em cooperativas, empresas, rodovias e ferrovias, e os agricultores estão dispostos a permanecer até a última conseqüência. No município, profissionais do transporte da carga também aderiram ao movimento, que mobilizava mais de mil pessoas, como informou o transportador maringaense Reinaldo Gabriel.
De acordo com a ALL, somente na região em que os três trechos estão parados, no Paraná, são movimentados até 28 mil toneladas por dia de soja e açúcar, além de combustível – diesel e gasolina – e cimento. A empresa relembra que as liminares de reintegração de posse foram emitidas no primeiro dia de protesto, mas ainda não foram cumpridas. Em nota a ALL informa que o não cumprimento está causando transtornos. ?Os pátios da empresa na região estão lotados. Uma composição de 90 vagões está parada em Cambé e outra de 75 vagões em Maringá. Caso os trechos não sejam liberados pelos agricultores, há risco de interrupção de outros cruzamentos férreos.? Ainda segundo a companhia, a ALL ?pode deixar de faturar cerca de R$ 1 milhão/dia com a paralisação da operação no norte do Paraná?. A empresa também reclama do prejuízo que o peso dos tratores e caminhões geram à linha férrea.
O presidente da Associação Paranaense de Avicultores (Apavi), Victor Bertol, reclama que o movimento dos agricultores está impedindo que pequenos produtores da região comprem ração adequada para garantir a produção do setor. ?Como eles estão obstruindo as saídas da Cocamar, estamos com um problema. Os pequenos produtores da região de Maringá precisam de farelos de soja, cuja única fonte é a Cocamar. Enquanto não está conseguindo comprar o produto, eles estão alimentando as galinhas com farelo de trigo, que não tem as proteínas necessárias e serve apenas para manutenção. Também estamos vivendo em crise, não trabalhamos com estoque, pois não trabalhamos com capital de giro. Pode ser que a nossa produção caia até 80%. Estamos de mãos atadas. Se acabar a ração vamos fazer o que com nossas galinhas?, reclama Bertol.
A equipe de O Estado tentou entrar em contato com a Cocamar, mas a sede da empresa, em Maringá, estava fechada devido ao feriado local. Como as manifestações continuam também nos demais estados, o Ministério da Agricultura, que ainda não sinalizou para os manifestantes, também foi procurado, mas, segundo a assessoria de imprensa, somente sexta-feira é que deverá ter uma posição. Já o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado, Newton Ribas, se diz favorável às manifestações que considera ?justíssimas?. ?Estamos apoiando isso, principalmente porque as medidas do governo (federal) foram paliativas quando a situação é macroeconômica. Precisamos reverter esse quadro, em relação a políticas cambiais e juros bancários. No plantio o dólar estava próximo aos R$ 3 e na colheita beira os R$ 2. Essa é uma situação insustentável, da qual o agricultor está pagando todo ônus nacional?, afirma Ribas.
Em Umuarama, PR-323 foi interrompida ontem
Em Umuarama, caminhoneiros solidários aos agricultores interromperam o tráfego na PR-323, na região de Cruzeiro do Oeste, impedindo a passagem de caminhões de cargas, excetuando os que transportavam carga viva, em dois turnos: das 9h às 12h e das 14h às 17h . A intenção dos manifestantes é de manter a mesma rotina até segunda-feira. Na terça, os caminhoneiros da região pretendem aderir à greve nacional dos agricultores, marcada para a próxima terça-feira.
Além de apoiar as reivindicações dos agricultores, eles protestaram contra o preço pago hoje pelo frete, que não chega a R$ 2,00 o quilômetro. Eles pedem o tabelamento em R$ 3,50, no mínimo. Os caminhoneiros também aproveitaram a movimentação para protestar em relação ao preço dos pneus dos veículos, que chegam a custar a metade no preço no país vizinho, o Paraguai.
A fila de caminhões chegou a 3 km de extensão no sentido Maringá-Umuarama e a 1,5 km no sentido contrário. Os carros de passeio, mesmo em meio ao congestionamento, tiveram a passagem liberada.
Governo quer conter marcha prevista para Brasília
Brasília (AE) – Preocupado com a possibilidade de uma nova manifestação de agricultores tumultuar Brasília na terça-feira, e servir de munição aos partidos oposicionistas, o governo corre para tentar divulgar até sexta-feira medidas adicionais de apoio ao agronegócio. Num jantar na noite de terça-feira passada na casa do deputado Dilceu Sperafico (PP-PR) o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, sinalizou a parlamentares da bancada ruralista que medidas podem ser anunciadas pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ainda nesta semana.
A data mais provável para a divulgação é sexta-feira, pois Rodrigues tem um encontro às 10h com lideranças do agronegócio do Mato Grosso, um dos estados mais prejudicados pela crise. ?O governo está preocupado com o movimento. A data de sexta-feira tem a ver com a possibilidade de esvaziamento das manifestações marcadas para terça-feira, mas tenho dúvidas se as medidas poderão amenizar o clima. Acho que o remédio será em dosagem inferior à necessária?, disse uma fonte que participou do jantar
No encontro, Genro não falou de forma clara sobre as medidas que podem sair na sexta-feira. Também não ficou claro se haverá um pacote de medidas ou apenas uma ?medida de impacto?. Um dos participantes do jantar ironizou: ?O medo é que essa medida tenha um impacto tão forte que acabe com o setor. Do jeito que estamos combalidos, imagina se poderemos agüentar uma medida de impacto?. O encontro, segundo ruralistas, teria sido pedido pelo ministro.
Outra fonte esperava mais do jantar com Genro. ?O clima foi esse: nós já ouvimos isso. O governo sempre promete e nunca cumpre?, disse um parlamentar. Alguns ruralistas afirmaram que Genro teria dito que uma das possibilidades é que o governo anuncie medidas para garantir os preços mínimos estabelecidos pelo governo. ?Também pode haver alguma renegociação de dívida e também medidas para compensar a valorização do real frente ao dólar?, completou.
Mobilizados nos estados desde o dia 21 de abril para chamar a atenção do governo para a crise que atingiu o setor – o prejuízo nos últimos dois anos é estimado em R$ 30 bilhões – os produtores chegarão a Brasília na terça-feira mas, ao contrário do ?tratoraço? do ano passado, eles não devem trazer máquinas para a Esplanada dos Ministérios. A movimentação promete ser política. Os protestos nos estados não serão abandonados e os produtores pretendem continuar a bloquear estradas.
De acordo com deputados, a CNA e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) devem protocolar no Palácio do Planalto um documento responsabilizando o governo federal por qualquer incidente que venha a acontecer durante as manifestações nos estados e em Brasília. As duas representações negam que estejam por trás das manifestações.
Banco do Brasil anuncia renegociação de dívidas
Brasília (ABr) – As agências do Banco do Brasil (BB) estão autorizadas a negociar, desde ontem, a prorrogação das dívidas de custeio agrícola vencidas no ano passado e a vencerem neste ano. A informação foi dada pelo vice-presidente de Agronegócios do banco, Ricardo Conceição. Segundo ele, o BB prorrogou dívidas no valor de R$ 2,5 bilhões em 2005, mas cerca de metade já foi quitada.
O dirigente do banco lembrou que a autorização para isso foi dada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) há duas semanas e disse que a renegociação está liberada para os produtores que tiveram perda nas safras de algodão, arroz, milho, soja, sorgo e trigo.
De acordo com Ricardo Conceição, a contratação da prorrogação por mais um ano será automática, com juros de 8,75% ao ano. Basta procurar as agências do BB até o dia 31 de julho.
Quanto à quebra de safra verificada em outras lavouras, ele informou que o BB também renegociará os débitos, que serão examinados caso a caso. As recomposições poderão ser para pagamento em até cinco anos, mas os juros ficarão um pouco mais altos, entre 14 e 20% ao ano.
Ricardo Conceição reconheceu que ?são juros altos, mas bem menores do que aqueles cobrados pelos fornecedores dos agricultores?. Ele explicou que o objetivo do BB é equacionar quaisquer dificuldades financeiras dos agricultores para que possam continuar na atividade.
Por esse motivo, os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que eram usados para ajudar os produtores rurais a pagar seus fornecedores, agora serão ampliados para quitar outras dívidas além do FAT Giro; e o Banco do Brasil dispõe de R$ 1,4 bilhão para isso.
O diretor do BB destacou também que o banco colocou R$ 1 bilhão de recursos próprios para financiamento de estocagem via Empréstimos do Governo Federal (EGF), a partir de hoje. O objetivo, adiantou, é proporcionar recursos ao produtor rural para que ele armazene seu produto para venda futura, em melhores condições de comercialização.
Ele enfatizou que os agricultores interessados nessa operação, com juros anuais de 8,75%, devem depositar sua produção nos armazéns credenciados, e procurar sua agência de relacionamento para contratar créditos limitados de acordo com o produto: de R$ 500 mil a R$ 1 milhão (algodão), de R$ 400 mil a R$ 800 mil (milho), de R$ 200 mil a R$ 600 mil (arroz, sorgo e trigo) e de R$ 150 mil a R$ 800 mil (soja), dependendo da região produtora.