O projeto de lei complementar (PLC) 116, que abre o mercado de TV a cabo para as operadoras de telefonia e acaba com as restrições para o capital estrangeiro no setor, está prestes a entrar na pauta de votação do Senado em meio a muitas divergências no setor. Essas diferenças ficaram evidentes hoje em audiência pública conjunta de cinco comissões do Senado que apreciarão o projeto: a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT), Comissão de Educação, Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e Comissão de Meio Ambiente (CMA).

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Algumas entidades, como a Associação Brasileira de Programadores de TV por Assinatura (ABPTA), ameaçam recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o projeto de lei seja aprovado no Congresso Nacional. “Os programadores internacionais não são contra a entrada das teles, nem do número de usuários de TV a cabo, mas contra o ‘bode’ que apareceu nesse projeto”, afirmou Marcos Bitelli, representante da ABPTA.

Ele se referiu a um dos pontos do projeto, que impõe cotas e horários de exibição de conteúdo nacional nos canais de TV a cabo. “Defendemos que retirem as cotas, pois isso destrói as especificidades dos canais”, ressaltou Bitelli. Por essa razão, a APTA, ameaça ir à Justiça caso o projeto seja aprovado nesses termos. “Se passar na CCJ, não passa no STF”, disse.

Luciana Ferri, diretora jurídica da Home Box Office (HBO), também se posicionou contra as cotas, sob o argumento de que isso descaracteriza os negócios da empresa no País. “Nós devíamos ser estimulados, não obrigados”, destacou.

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Francisco Mistrorigo, vice-presidente da Associação Brasileira das Produtoras Independentes de Televisão (ABPI-TV), porém, critica a oposição dos canais estrangeiros a essa determinação. “A SKY cumpre essa cota na França. A HBO também cumpre em outros países. Por que não querem cumprir aqui?”, questiona.

Outro ponto sensível do projeto é a restrição para que radiodifusores tenham mais de 50% do capital de empresas de telecomunicações. “Não sou contra as teles distribuírem canais de TV a cabo. Mas elas não podem ter o monopólio. o projeto não tem salvaguardas contra concentração de mercado. O processo tem que ser ordenado”, afirmou João Carlos Saad, presidente da Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra). Daniel Slaviero, representante do SBT, e Márcio Novaes, da Record, também são contra essa restrição.

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Também são polêmicos os procedimentos que têm sido adotados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para alterar as regras do setor. Desde o ano passado, a agência tem alterado regulamentos e normas para destravar o mercado, como a fixação do preço de R$ 9 mil por outorga de forma ilimitada e a retirada de restrições para que as concessionárias de telefonia fixa prestem o serviço por meio de empresas com CNPJ distinto. Algumas entidades entendem que o órgão regulador está extrapolando o seu papel. Evandro Guimarães, representante das Organizações Globo, por exemplo, considera que a Anatel está “extrapolando” seu papel. Por essa razão, ele apoia a aprovação do PLC 116.

Ara Apkar Minassian, superintendente de serviços de comunicação de massa da Anatel, afirmou, porém, que as mudanças que estão sendo promovidas pela agência não ferem nem a Lei do Cabo, nem a Lei Geral de Telecomunicações (LGT). “Não há extrapolação de competências. Tão logo o Congresso aprove o PLC 116, a Anatel terá que adaptar toda a sua regulamentação”, enfatizou.

Apesar de não haver consenso entre os diversos agentes do setor, muitas entidades defendem a aprovação do projeto de modo a se criar um novo marco regulatório. O presidente da Ancine, Manoel Rangel, considera “decisivo” o papel do PLC 116 para aumentar os serviços de TV a cabo no País. “É a melhor resposta para ampliar a oferta do serviço no País. É perfeito? Não. Mas é preciso se instituir um novo marco regulatório”, ponderou. Ele se referiu à limitação do serviço de TV a cabo a apenas 262 municípios brasileiros.

Eduardo Levy, representante da Telebrasil, que representa as operadoras de telefonia, também apoia o projeto de lei como forma de promover, além da expansão dos serviços de TV a cabo, maior oferta de banda larga.