Moradores carentes de Antonina e Guaraqueçaba, no litoral do Estado, que ganham em média um salário mínimo por mês, estão encontrando uma alternativa para complementar a renda familiar e, ao mesmo tempo, auxiliar na preservação do meio ambiente.
Trata-se do projeto para meliponicultura, que é a criação racional de abelhas sem ferrão (nativas) para extrair o mel, organizado e incentivado pela Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).
Além do dinheiro extra, a criação auxilia a natureza, uma vez que esses insetos são responsáveis por quase 90% das polinizações, garantindo a perpetuidade da flora nativa.
De acordo com o mestre em agroecossistema e engenheiro florestal do projeto, Luis Antonio dos Santos de Freitas, o trabalho com a meliponicultura teve seu pontapé inicial em 2005, com o desenvolvimento de estratégias.
No ano seguinte, a SPVS forneceu toda a estrutura necessária para que as famílias pudessem iniciar a produção e em 2007 foi criada a Associação dos Criadores de Abelhas Nativas da Área de Preservação Ambiental de Guaraqueçaba (Acriapa).
“Já estamos na terceira colheita do mel. As duas primeiras, ocorridas no verão de 2007/2008 e no final de 2008 foram bem modestas, de 30 quilos e 40 quilos, respectivamente. A última, agora em fevereiro, foi de 130 quilos, considerada muito boa. Os produtos estão sendo vendidos atualmente em frascos com 65 gramas, com o preço de R$ 7. Segundo os nossos cálculos, estima-se que o meliponicultor que obteve a melhor produção deve receber R$ 1.200”, informa.
O mercado para o mel das abelhas nativas ainda está restrito, segundo o engenheiro. Ele diz que o produto não tem o selo do Serviço de Inspeção do Paraná para Produtos de Origem Animal (SIP/POA), contudo, em breve essa situação deve se reverter.
“Ainda não existe uma legislação específica para tratar das abelhas nativas, entretanto, estamos conversando com a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) para obter essa qualificação. Por enquanto, o mel está sendo vendido apenas em feiras, eventos e na sede da Acriapa. Mas em breve esperamos que ele possa ser encontrado em outros lugares, como supermercados”, conta Freitas.
Uma grande vantagem para o meliponicultor reside na qualidade do produto e no seu preço. Por agregar certos valores, o quilo do produto pode chegar a R$ 100. Além disso, o sabor diferenciado, mais úmido e ácido, e o fato de ser um alimento rico e protéico que, dizem, possui propriedades terapêuticas que fortalece o corpo contra gripes, resfriados e dores de garaganta, tornam esse mel um produto altamente disputado.
“Esse mel é mais refinado que o mel comum. Ele é muito utilizado para doces e chás e é consumido principalmente por pessoas que dão preferência aos produtos naturais. Há um mercado bom para esse produto”, garante o engenheiro.
O investimento para a criação das abelhas nativas é outro atrativo. O meliponicultor vai precisar de materiais baratos (o mais caro é a caixa, que custa entre R$ 30 e R$ 40) e não precisará de roupas especiais, uma vez que as abelhas não possuem ferrão.
“A relação custo-benefício é bem interessante para o produtor. Eles usam materiais que podem ser reaproveitados, como telhas e garrafas pet, utilizadas para fazer a armadilha para capturar a família”.
A Acriapa não permite aos seus associados que a captura das abelhas seja danosa para a natureza. “Eles só podem pegar as abelhas por meio das armadilhas. Não é permitido que eles derrubem árvores para apanha-los. Todo o processo não pode afetar o meio ambiente”, encerra Freitas.
Exportações brasileiras dobraram em 2008
O Brasil dobrou o valor das exportaçõe,s de mel em 2008. O setor alcançou a cifra recorde de US$ 43,57 milhões, aumentando em 42% o faturamento em relação a 2007, que foi de US$ 21,2 milhões.
O volume também cresceu, passando de 12,9 mil toneladas para 18,27 mil toneladas. O que ajudou a dar um incremento maior nos valores foi o preço médio obtido pelo produto, que ficou em US$ 2,83 o quilo.
O principal destino do mel brasileiro foi os Estados Unidos. Os norte-americanos foram responsáveis pela importação de 73,1%, gerando uma receita de US$ 31,84 milhões.
A Alemanha ficou em segundo lugar, comercializando US$ 7,188 milhões, o que corresponde a 16,5% das importações e o Canadá foi o terceiro mercado comprador do mel nacional, com um volume de vendas em US$ 2,308 milhões, o que corresponde a 5,3%.
O Paraná foi o quinto colocado em exportação de mel. O lucro obtido com o produto foi de US$ 3,8 milhões. São Paulo foi o estado campeão em exportação, com US$ 13,3 milhões.
Rio Grande do Sul (US$ 8,69 milhões), Ceará (US$ 6,74 milhões) e Piauí (US$ 4,41 milhões) completam a lista dos cinco estados que mais exportaram o produto.
O própolis apresentou um crescimento surpreendente, aumentando em 156%, obtendo US$ 114,398 mil em exportação. Minas Gerais, São Paulo e Piauí foram os estados que mais exportaram.
Apesar do crescimento do mel e de própolis, a exportação da cera de abelha teve uma ligeira redução em 1,3% nos valores e de 18,4% em peso, no período entre 2008 e 2007. Grande parte do destino da cera (87%) foi para o Japão, comercializando US$ 4,27 milhões.