Comércio colorido de verde e amarelo: ainda falta estímulo. |
Diferente das últimas edições, a Copa do Mundo deste ano ainda não trouxe reflexos significativos para a economia brasileira. As poucas lojas que investiram em decoração verde-amarelo não exageraram nos enfeites. O baixo rendimento da seleção brasileira de futebol também não aqueceu o campo de brindes promocionais – canetas, chaveiros, botons e bandeiras – como em anos anteriores.
Nas casas especializadas em artigos esportivos, o aumento de vendas ainda é tímido. Sem motivo para comemoração, o movimento nas distribuidoras de fogos de artifício está apagado.
Num ponto, comerciantes e economistas concordam: os negócios só vão deslanchar quando o time brasileiro conquistar a confiança do torcedor. “Como o Brasil teve uma fase classificatória muito ruim, o consumidor ficou com um pé atrás. Dependendo dos resultados positivos, o comércio vai aquecer e dobramos o volume de vendas”, prevê Wilson Dib, gerente da Janjão Artigos Esportivos. “Decoramos a loja antecipadamente e estamos otimistas. Como a chave do Brasil é fácil, acredito que vamos vender bem”, planeja.
Por enquanto, a Janjão está vendendo entre quatro e seis camisas oficiais da seleção brasileira por dia, cada uma custando R$ 112,90. “Essa semana o pessoal começou a entrar no clima da Copa e as vendas melhoraram bastante. A gente atende muito turista, que sempre leva uma amarelinha”, relata Dib. Muitas empresas compraram camisetas para distribuir aos fornecedores e clientes ou uniformizar empregados. “O carro-chefe é a camisa oficial, mas também vendemos bandeiras, bolas, chuteiras, bonés e calções”, conta. Uma bandeira oficial sai por R$ 35 na Janjão.
Desânimo
“Se o time estivesse melhor, a expectativa seria outra. O horário também é outro fator que atrapalha. Não há porque ir para o bar tomar cerveja ou comer um churrasquinho às seis da manhã, sabendo que você terá trabalhar logo depois”, considera Vamberto Santana, consultor econômico da Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio/PR). Mesmo com o desânimo, frisa, o período da Copa sempre apresenta incremento de vendas. “É possível que ao longo da disputa dos jogos, a seleção desperte credibilidade e mude o perfil de consumo em uma ou duas semanas”, avalia.
Santana aposta no crescimento das vendas de bandeiras, apitos, camisetas, toalhas, bonés e chaveiros. “São coisas que as empresas e até alguns políticos mandam fazer”, comenta. No entanto, ele destaca que a elevação das vendas em junho estará mais relacionada à inexistência do racionamento de energia e do impacto da crise argentina, que no ano passado afetaram o comércio, do que por influência da Copa. “As indústrias podem estar produzindo mais, mas com produtos estocados”.
Festa (?)
Nas distribuidoras de fogos de artifício, as projeções são otimistas. A Aymoré Fogos calcula aumento de 80% no movimento. “A expectativa é grande, mas a previsão é para depois do primeiro jogo da seleção. Para a estréia, o pessoal não está confiante e as vendas estão muito fracas”, ressalta o gerente Leandro Antoniolli. “Se a seleção for bem, o comércio em geral já cresce 40% e se mantiver um bom desempenho no segundo jogo, deslancha o movimento até o final da Copa”, observa.
“Por enquanto a procura por fogos está parada”, confirma o proprietário da Distribuidora Brasília, Ismail dos Santos Lima. “Espero que melhore, mas não tenho muita esperança por causa dos jogos de madrugada e do momento econômico do País. Talvez a partir do momento que o Brasil for para as quartas-de-final, o movimento suba 30 a 40%”, torce. Segundo ele, “a Copa de 98 já não foi tão boa para o comércio quanto a de 94, mas o brasileiro é muito otimista de última hora”.
Os foguetes de 12 tiros por um, que são os mais procurados, custam, em média, R$ 5, enquanto uma bateria de 780 tiros chega a R$ 65.
Expectativas frustradas
“Achei que o mercado iria se comportar de forma bastante agressiva, mas vendi pouca coisa de fitinha de cabeça, camiseta e caneta”, diz o proprietário da Digital Way, Almir Pereira. “Esperava bastante solicitação de visitas, mas isso não aconteceu, por isso a rentabilidade não aumentou muito”, relata. “Pode ser que durante o andamento da Copa melhore, mas estou mais confiante na política e no fim de ano”. Segundo ele, um setor que ganhou com o mundial foi o de material gráfico, devido à impressão de tabelas.
Na Paraná Brindes, a situação não é diferente. “A procura para a Copa é bem pequena – não chegou a 5% de aumento nas vendas. Estamos fazendo mais orçamentos para política”, informa o vendedor João Carlos Massarutti. “Antigamente esse período era uma loucura, mas hoje não há mais aquela febre. Ninguém está botando fé na seleção, e eu também não”, afirma.
Apesar de oferecer canetas personalizadas (R$ 0,68), botons de lapela (R$ 2,80 a R$ 3,00) e chaveiros de metal (R$ 3,20) com a bandeira do Brasil e bandeiras simples (R$ 0,60 a R$ 0,80), a empresa não criou nenhum produto específico para o período da competição. “Se dependesse da Copa, estava todo mundo morto”, salienta Massarutti.
Visual
Na tentativa de levantar o patriotismo, vale tudo. A manicure Leia Toniolo de Souza criou oito modelos de unhas decoradas com motivos da Copa: são corações e estrelas com as cores da bandeira nacional, a própria bandeira ou então unhas amarelas com a inscrição “Brasil” em verde. Cada desenho custa R$ 2, e a mão completa, R$ 10. Mesmo antes dos jogos da seleção brasileira, a procura por unhas decoradas com desenhos da Copa gira em torno de três clientes por dia. “O povo tem a esperança no coração, está pintando antes de saber. Com certeza, o Brasil ganhando, aumenta bastante o movimento”, opina Leia. (OP)