Atendendo a solicitação do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), uma recente decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) vai possibilitar que, a partir de agora, os produtores de fumo tenham mais facilidades em acessar as linhas de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, o Pronaf. A medida visa incentivar o agricultor de tabaco a iniciar o processo de diversificação da produção, investindo em outras culturas mais saudáveis e igualmente rentáveis.
Impossibilitados até o momento de dar como garantia o rendimento do fumo, os produtores poderão obter crédito desde que fique comprovado que uma parte da renda provenha de outra cultura. ?Nosso objetivo agora é mostrar que existem outras alternativas nos sistemas de produção que podem dar o mesmo rendimento que o fumo?, disse o secretário de Agricultura Familiar do MDA, Valter Bianchini.
Segundo Bianchini, o Brasil está seguindo uma orientação da convenção Quadro para o Controle do Tabaco, onde há uma recomendação para que se adote uma estratégia de assistência técnica e extensão rural e financeira para auxiliar na transição econômica dos produtores e trabalhadores que vivem do tabaco.
Como exemplo, o secretário cita a compra de um trator, que tanto pode ser usado para o fumo quanto para outras culturas. ?O trator ara a terra para o fumo mas também pode arar para o milho. Só que no projeto técnico o agricultor vai ter que comprovar que uma parte da renda virá da nova atividade financiada?, destacou. Ao mesmo tempo, o secretário adianta que haverá um trabalho de assistência técnica, indicando quais alternativas podem ser incentivadas para a diversificação da produção. ?Vamos mostrar que existem outras atividades, baseadas na agricultura orgânica, no leite, na fruticultura, olericultura, que também podem dar renda num trabalho melhor para esses agricultores.?
Além de incentivar inicialmente a diversificação, Bianchini adiantou que há a intenção de futuramente o agricultor trabalhar a substituição da produção. ?Existe a tendência mundial de redução do consumo de tabaco. A conscientização e as restrições só crescem. Acreditamos que no futuro não será uma alternativa como a que parece hoje?, alertou o secretário.
A diversificação e a substituição são um longo processo, já que o fumo ainda é uma atividade de alto rendimento, tem mercado interno e é um grande produto de exportação. ?Seria mentira dizer que vamos acabar com o fumo em um curto espaço de tempo. A intenção não é essa, mas preparar os agricultores para algo que com o tempo deve ser uma necessidade?, sugeriu Bianchini. Outra questão lembrada pelo secretário é o trabalho intensivo em mão-de-obra e a forte utilização de agrotóxicos. ?É uma cultura que dá dinheiro mas contém uma certa insalubridade.? Atualmente cerca de 160 mil produtores do Sul do País plantam fumo, a maioria no Rio Grande do Sul.
Conforme Bianchini, a estratégia adotada será a do diálogo com os produtores por meio de debates com sindicatos, organizações de agricultores, convênios com organizações não governamentais (ONGs) e Emater. ?Vamos investir em assistência técnica e extensão rural e começar a implantar unidades demonstrativas para discutir essa reconversão. O importante é que agora nós temos um crédito que facilita?, afirma.