Produtores rurais se preparam para o La Niña

O Paraná já está sob o efeito do fenômeno La Niña e os produtores rurais do estado se preparam para evitar as conseqüências negativas das mudanças climáticas, que serão percebidas com maior intensidade agora, entre a primavera e o verão.

A Secretaria de Agricultura do Paraná, já sabendo do problema, prevê uma área com grãos 7% inferior à do ano passado. O fenômeno marca um período de chuvas irregulares, trazendo estiagem para algumas lavouras e excesso de água a outras.

Para levar aos agricultores orientações preventivas, seguindo a previsão do tempo, técnicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) trabalham em parceria com especialistas do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

“Na prática é necessário utilizar informações de clima, que são importantes para que o agricultor tome decisões no planejamento e manejo das lavouras. Fazemos uma avaliação de risco e oferecemos assistência técnica”, explica Nelson Harger, técnico do Emater especialista no plantio de grãos.

De acordo com ele, toda a safra de primavera e verão será prejudicada pelo fenômeno La Niña, reduzindo a produtividade média das culturas. É o efeito contrário da safra do ano passado, que esteve sob efeito do El Niño e contou com chuvas regulares, inclusive acima da média histórica. Em 2010, o risco de estiagem é maior entre novembro e dezembro.

Uma alternativa para evitar prejuízos é fugir do período de maior risco, planejando o plantio para favorecer o florescimento e crescimento de grãos a partir de janeiro.

“As pessoas pensam que, se tiveram uma colheita de sucesso em um ano, poderão fazer tudo da mesma maneira que novamente terão bons lucros, mas o clima mudou totalmente de uma safra para outra”, ressalta o técnico.

Ele lembra que, há dois anos, houve estiagem também em novembro e quem atrasou o plantio da soja teve produtividade maior do que quem plantou em outubro, se expondo ao risco.

Nelson ainda sugere que os agricultores façam seguro para a safra 2010/11 e que utilizem ciclos diferentes, com escalonamento do plantio. “Ao invés de plantar só variedade precoce, é importante ter cultivares de diferentes ciclos e não plantar tudo de uma vez, para distribuir o risco”, frisa.

O uso de adubo e de fungicidas também pode ser racionalizado, já que, de acordo com o técnico, a estiagem não favorece doenças como a ferrugem da soja. O adubo equivale a 25% do custo de produção e pode ser menos utilizado em locais onde o solo já está bastante fertilizado. O uso de fungicidas, que teve média de 1,85 aplicações na safra anterior, deve ser menor.

Fenômeno climático provoca consequências no mundo todo

O La Niña causa o resfriamento da superfície das águas do Oceano Pacífico Equatorial por dois a três meses antes de trazer alterações nas chuvas. Neste ano, o Simepar já identificou a presença do fenômeno em abril.

“Agora, na primavera, é que começamos a sentir as conseqüências. O regime pluviométrico é de chuva mal-distribuída. Em algumas localidades, as chuvas podem ficar muito abaixo da média”, explica a meteorologista Ana Beatriz Porto.

O fenômeno afeta de maneira diferente várias partes do globo. Enquanto chove muito no norte e até esfria um pouco no Nordeste do Brasil, o lado oeste dos estados da região sul sofre com a estiagem. Aumenta o frio no Japão e as chuvas na Ásia.

“O La Niña muda a direção dos ventos alísios, que sopram próximo à região do Equador para o sul. Isso modifica o regime da pressão no oceano e causa uma série de mudanças”, diz ela. De acordo com ana Beatriz, os fenômenos climáticos s&a,tilde;o variáveis, sem periodicidade, e este ano deverão ser moderados.

Noroeste do Estado será mais atingido

Quem deve sofrer com maior intensidade o efeito do La Niña são os produtores da região Noroeste do estado, onde a baixa umidade do ar já causou problemas graves nos últimos dois meses.

Segundo Alda Gomes Ferreira, assessora administrativa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Maringá, a preparação da terra e a plantação de soja e milho teve de ser adiada na região. Também não há mais plantação direta devido à seca.

“Houve vários prejuízos para hortaliças por que as minas e poços artesianos secaram. Além disso, aumentou o custo de produção pelo uso excessivo de energia, já que as hortaliças enxugavam muito rápido. A qualidade dos produtos caiu”, lembra.

De acordo com ela, quem trabalha com criação de animais também gastou o dobro para manter a hidratação e alimentação das cabeças de gado ou frango, e a colheita de trigo sofreu com as queimadas.

“Em um caso, depois de terminar a colheita do trigo, saiu uma faísca do equipamento de um senhor de 70 anos, causando um incêndio que destruiu 10 alqueires da plantação dos vizinhos”, conta.

Nelson é otimista. “A previsão é de um outubro com chuvas um pouco melhores, que vão permitir o plantio, mas a partir de novembro a situação será parecida com agosto e setembro”, ressalta.

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