Lavouras

Produtores de hortigranjeiros aprendem a lidar com o frio

O rigoroso inverno de Curitiba já não constitui uma barreira intransponível para os produtores da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que aprenderam a utilizar aparatos para reduzir os efeitos do frio e da geada na lavoura.

Com a produção protegida e com a oscilação da temperatura, com dias atípicos de sol, os agricultores têm contabilizado um excesso de oferta de alguns produtos no mercado, o que culmina num preço de venda pouco atrativo para os produtores.

Por outro lado, o consumidor tem encontrado preços bem mais em conta nas prateleiras. Além de mantas e lonas, é comum a utilização de estufas para a produção de hortaliças, como acontece na área rural do município de Colombo, onde aproximadamente 600 produtores respondem pelo segunda maior produção de hortaliças do Paraná.

“Pelo menos metade da produção do município está protegida dos fenômenos climáticos. A cada ano, os efeitos da geada são menos impactantes”, afirma o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Colombo, Pedro Ademir Cavalli.

O produtor Edson Luiz Ceccon, que trabalha no sistema de economia familiar com uma produção de cerca de 6 mil unidades de folhosas por mês, conta que o rigoroso inverno da RMC obriga os produtores a optar por culturas mais resistentes ao frio.

Segundo ele, ao contrário do que acontece no verão, quando há mais de 30 variedades de folhosas e outras leguminosas que se adaptam bem ao clima mais quente, no inverno são apenas 15 variedades disponíveis.

“O problema é que todos os agricultores plantam a mesma coisa. Com a oferta maior que a demanda de um único produto, o valor de venda cai e o preço baixo encosta no custo de produção”, diz.

Ceccon, que utiliza mantas de TNT durante a noite para reduzir os efeitos do fenômeno sobre a plantação, afirma que há dez anos a geada vinha com mais força e a quebra na produção era bem mais acentuada.

Segundo o agricultor, além do frio, a oscilação de temperatura também influencia na produção e no preço final dos produtos. De acordo com Ceccon, em uma semana de sol e temperaturas mais altas, a colheita de um determinado lote (aglomerados cultivados de 15 em 15 dias) pode acabar sendo feita na mesma época de um lote anterior.

“O excesso da produção mensal também faz a oferta crescer e o preço final cair”, explica. O agricultor acredita que o frio também diminui a procura pelas hortaliças. “Com a temperatura mais baixa as pessoas preferem o carboidrato e consomem menos salada, o que reflete diretamente no agronegócio”, diz.

Hidroponia é mais cara, mas o custo compensa

Uma das formas de produção de hortaliças que vem ganhando força na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) é a hidroponia, cuja estrutura que permite a irrigação por tubulações cobertas por estufas já serve como um bloqueio para as baixas temperaturas.

Um dos adeptos da técnica é o agricultor Mario Sérgio Fioresa, que mantém uma produção média de 16 mil unidades por mês, também na zona rural de Colombo. Fioresa conta que optou pela produção hidropônica a partir de 2005 e não se arrepende da mudança.

Ele revela que o custo da produção hidropônica (somente a instalação do metro quadrado da estrutura representa um custo médio de R$ 45) fica entre 15% a 20% mais cara na comparação com as lavouras tradicionais.

O investimento maior, no entanto, é justificado pela margem segura de lucro do produtor. Fioresa explica que o percentual maior do custo de produção dos hidropônicos nem sempre é repassado para o preço final dos produtos.

“Se por um lado há uma margem menor de lucro, por outro você tem a segurança do retorno, já que as lavouras convencionais podem ter quebra de até 50% no inverno. J&aacute,; na produção hidropônica, a perda é insignificante”, comenta.

O agricultor afirma que a temperatura mais quente no interior da estufa já diminui automaticamente as chances de congelamento das folhas. Ele explica que é preciso ficar atento à previsão do tempo para evitar maiores problemas.

“Quando recebemos a notícia de que poderá haver geada, o sistema de irrigação é desligado durante a noite. Assim, as raízes ficam mais secas e a possibilidade de congelamento é mínima”, diz.

Fioresa lembra que, se por um lado a geada prejudica parte dos produtores, por outro ajuda a melhorar o preço final dos produtos, já que a quebra na produção diminui a oferta de hortigranjeiros no mercado. “Como neste ano não tivemos geada, o preço dos produtos ficou normalizado. Neste ano, a chuva foi o fator que mais influenciou no preço”, complementa. (NA)

Preços oscilaram 11% na Ceasa

Os recordes de temperaturas baixas registrados na última semana de julho se refletiu nos preços dos produtos do Central de Abastecimento do Paraná S/A (Ceasa) em Curitiba na primeira semana de agosto.

Na comparação com a semana anterior, no período entre os dias 2 e 9 de agosto o preço médio dos produtos comercializados na Ceasa apresentou uma variação de cerca de 11%.

Apenas três, dentre os 30 hortigranjeiros mais consumidos tiveram variação negativa. Apenas a vagem macarrão (-11,11%), o pimentão verde (-7,14%), e a cebola (-8,33%) tiveram baixa nos preços.

Entre os dezessete produtos com cotações mais elevadas nesta semana, o destaque é o chuchu, que subiu 76,92%, cuja cultura é bastante sensível às oscilações climáticas.

Outros produtos também tiveram oferta reduzida e, consequentemente, preços mais elevados caso da couve flor grande (60%), pepino salada (50%), batata doce branca e beterraba (33,33%), cenoura (28,57), aipim extra (22,22), tomate (21,74), abobrinha verde (16,67) e batata comum especial lavada(5%).

Outros dez produtos não apresentaram oscilação no preço na primeira semana de agosto: abóbora seca, alface crespa grande, repolho híbrido médio, abacaxi havaí grande, banana caturra primeira, laranja pera grande, manga tomy, melão amarelo grande, tangerina ponkan e ovo branco extra.

Já as frutas ofertadas nesta época do ano na Capital são, na maioria das vezes, importadas de outras regiões e chegam com custos adicionais de embalagem e transporte.

A maior alta foi registrada no mamão comum, em 33,33%, vindo da Bahia, Espírito santo e São Paulo. De acordo com o chefe da Divisão Técnica do Ceasa, Valério Borba, além das condições climáticas adversas, vários produtos estão em período de entressafra na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Ele afirma que o clima afetou de fato as lavouras e os efeitos do frio só não foram maiores porque não houve geada na região. “Mesmo em patamares mais altos, os preços continuam atrativos para os consumidores. Um exemplo é a alface, que não teve variação, mas o preço permanece a R$ 0,30 a unidade”, diz. (NA)

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