Produtores de cachaça se profissionalizam

Produto de perspectivas otimistas no mercado interno e externo, a cachaça produzida no Paraná agrega qualidade e diferenciais na produção que geram um produto competitivo e cada vez mais valorizado. De fabricação artesanal, a cachaça paranaense conta com a ajuda do solo do Estado e de iniciativas que vêm ajudando os cerca de 400 produtores paranaenses a se profissionalizarem e se organizarem em cooperativas que angariam maior lucratividade e expansão nos negócios.

A produção de cachaça no Estado gira em torno de três milhões de litros a cada safra, o que enquadra o Paraná como sexto maior produtor do País – atrás de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo. O mercado por aqui vem se tornando mais promissor exatamente pelas características do produto, integralmente produzido em alambique. ?A produção artesanal tem diferencial em relação à produção industrial, em grande escala. Além disso, a maior parte da cana usada para fabricar nossa cachaça é cultivada de forma orgânica, sem agrotóxicos ou aditivos químicos?, explica o consultor do Sebrae-PR Paulo Porsch, que trabalha no projeto Cachaças do Paraná, instituído com o objetivo de tirar os produtores da informalidade e colocá-los como competidores em potencial no mercado.

Para Porsch, a qualidade da cachaça paranaense também se deve às características naturais. ?O Paraná tem terra forte, que não transfere acidez para cana e, conseqüentemente, para a cachaça. Enquanto a legislação aceita teores de até 150 partes por mililitro, nossas cachaças de maior acidez têm teores que variam entre 50 a 60 partes por ml, no máximo?, avalia.

Projeto

O projeto do Sebrae ?Cachaças do Paraná? vem abrindo portas para os produtores. Baseado nas premissas de combinar tecnologia e organização para conquistar o mercado, já permitiu a criação de três co-operativas que estão rendendo valorização do produto, inclusive no mercado externo. ?Os produtores aprendem as técnicas com os pais, que herdaram dos avôs e assim por diante. O que fazemos é apresentar tecnologias que aprimorem essas técnicas de produção e dar treinamento. Isso inclui investimento em equipamentos, melhorias dos alambiques usados na destilação e na infra-estrutura, desde a colheita até a transformação.?

Além de melhorar o produto, o projeto profissionalizou o setor. ?Já conseguimos trazer para a formalidade boa parte dos produtores com a criação das cooperativas. Há seis meses, 97,5% deles estavam na informalidade porque, individualmente, a tributação, burocracia e falta de estrutura impediam o produtor de formalizar a atividade?, conta. Duas co-operativas já estão em funcionamento – a Copercachaça, no oeste do Estado, e a Coachaça, no sudoeste. Uma terceira está sendo organizada no centro sul do Paraná. ?A Coachaça já lançou seu produto, a Cachaça Sudoeste, e a Copercachaça está para lançar a cachaça Quati, de sua produção?, adianta.

De acordo com o consultor, à medida em que incorporaram novas tecnologias e aperfeiçoaram a produção, os próprios produtores elevaram o status de seu produto. ?Em um ano e meio, o valor médio por litro recebido pelo produtor saltou de R$ 0,80 para R$ 2. Os produtos das cooperativas, por exemplo, estão sendo comercializados entre R$ 17 e R$ 25 a garrafa de 700 ml?, exemplifica.

Melhora que reflete no gosto de outros países pela cachaça fabricada aqui. Apesar da dificuldade em competir com a cachaça industrial, o produto artesanal vem conquistando mercados pela diferença notável no produto final. ?A cachaça do sudoeste do Paraná vai para Suíça e Alemanha, enquanto a do norte vai para Grécia e Estados Unidos. Estas já são certificadas como orgânicas, o que cativa principalmente o mercado europeu. Nossa pretensão é obter a certificação para toda a produção paranaense?, conclui Paulo Porsch.

Cultura contada em livro

A partir do projeto, os pesquisadores do Sebrae editaram a obra Cachaças do Paraná – De gole em gole, da cana ao copo, que relaciona a história da produção paranaense às influências de cada cultura abrangida pelas diferentes regiões do Estado. ?A introdução da cachaça respeitou as diferenças de colonização. A do litoral tem influência da técnica de produção dos açorianos; a do norte pioneiro tem influência mineira, por causa da corrente migratória; e pelo mesmo motivo a do oeste e sudoeste do Paraná tem influência catarinense e gaúcha. Em comum, elas têm a qualidade?, garante.

O livro é comercializado nas cooperativas e disponibilizado nas bibliotecas do Sebrae, além de ser constantemente divulgado em feiras e eventos do ramo. ?As pessoas se interessam muito por cachaça. E como a obra faz cruzamento entre história e cultura do povo paranaense, há sinergia, porque somos carentes de produtos da nossa terra. Isso encanta as pessoas?, enfatiza o consultor. (LM)

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