Após a polêmica envolvendo a proibição do comércio interestadual de frutas cítricas com ramos e folhas, para evitar a disseminação da doença conhecida como “pinta preta dos citros”, que culminou com a quebra de produção da tangerina da variedade poncã nos municípios do Vale da Ribeira este ano, os produtores apresentam previsões mais otimistas para o setor no ano que vem.
A restrição foi imposta pela Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) em maio deste ano para atender a legislação federal editada em janeiro pelo Ministério da Agricultura. O governo teria baixado a lei por ter encontrado a doença na produção de Cerro Azul – município que é um dos maiores produtores nacionais de poncã -na colheita de 2006.
De acordo com o secretário de Agricultura do município, João Carlos Hilman, a partir de agora os fruticultores da região deverão estar mais preparados na hora de colher os frutos. “A quebra aconteceu porque os produtores foram pegos de surpresa com essa medida. Em 2008, foram colhidas 482 mil caixas de poncã e este ano, até o momento, 150 mil caixas, uma diminuição de 332 mil caixas. Em toneladas, a produção caiu de quase dez milhões de toneladas para três milhões”, explica.
O secretário acrescenta que a situação ficou ainda pior porque, na hora de colher a poncã, choveu muito, o que contribui para a perda significativa. “Como o pessoal está ciente de que essa lei (que proibiu a venda para outros estados) continua em vigor, eles já começam a traçar planos para colher as frutas com mais rapidez, desde que o tempo também colabore”, explica.
Mesmo com a queda da produção, Hilman garante que os produtores de tangerina não tiveram prejuízo com a colheita deste ano graças a uma intervenção do governo federal. “Negociamos com o governo federal a compra de 105 mil caixas de poncã por intermédio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que faz parte do Fome Zero. Conseguimos o preço de R$ 10 a caixa e, descontando o valor do frete, saiu a R$ 7 ao produtor, preço considerado por todos como bom. Se não foi obtido lucro com a fruta, ao menos não tivemos prejuízo, o que já foi grande coisa”, conta.
Para o ano que vem, o secretário revela que um curso de capacitação deve ser ofertado gratuitamente aos produtores. “Queremos prepará-los para lidar com a situação. Com essa normativa, o produtor precisa usar uma tesoura para colher o fruto. Contudo, enquanto ele retirava a fruta com a mão, conseguia encher em média 40 a 50 caixas; com a tesoura, essa média não passa de 20 caixas”, compara.
Para não perder tempo, muitos deles colhiam a fruta da maneira antiga e faziam a retirada de galhos e folhas mais tarde. Entretanto, isso também custa tempo. “Estamos estudando alguma medida para a questão a fim de otimizar melhor o serviço e o tempo despendido”, informa. Hilman diz ainda que há um projeto para criar uma pequena agroindústria de cítricos na região, o que deve tornar os produtos mais competitivos. “A ideia é criar um espaço que faça a polpa da fruta, em particular da laranja. Acreditamos que, agindo assim, poderemos melhorar um pouco as condições para competir com a laranja de São Paulo, maior produtor nacional. Nesse local também iríamos beneficiar outras frutas cítricas, como a nossa tangerina. Mas o carro-chefe seria mesmo a laranja”, adianta.
Pinta preta
A doença da pinta preta dos citros é uma moléstia que não faz mal algum para os seres humanos, porém, prejudica a produtividade. É transmitida pelos galhos e folhas, normalmente transportados junto com os frutos. O secretário de agricultura de Cerro Azul, João Carlos Hilman, confirma que existem casos de pinta preta na localidade, mas garante que são poucos, e bem isolados. “Este ano ela (a doença) quase não apareceu por aqui”, atesta.
Frutos sem galhos geram desconfiança em compradores
O diretor-secretário do Sindicato Rural de Cerro Azul, Aramis Blatner, revela que não apenas os produtores reagiram mal à nova normativa, mas também o mercado. “O problema maior foi que os compradores estavam rejeitando as frutas cítricas sem o galho e a folha por acreditarem que o produto era velho. Entretanto, foi feito um trabalho de conscientização e mostrado que tratava-se de frutas recém-colhidas.” A partir daí, explica, a situação melhorou. “Todavia, temos que admitir que os galhos e as árvores protegem o fruto e dão uma aparência melhor a ele”, ressalva Blatner. Outra constatação é que, embora as chuvas tenham sido prejudiciais à fruta, foram extremamente benéficas ao pomar. “O lado ruim é que a chuva atrasou a colheita e muitas frutas acabaram apodrecendo no pé. Por outro lado, ela melhorou a umidade do solo e muitas árvores já estão abrindo florada. Por causa disso, existe a esperança que a produção volte a ser como era antes”, comenta. O sindicalista diz ainda que o governo ajudou bastante ao comprar parte da produção. “Se isso não tivesse acontecido, amargaríamos um grande prejuízo. Espero que possamos fazer parte novamente do PAA e que, se possível, o governo compre as frutas mais cedo”, conclui.