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Indústria teve ?recuperação discreta? em novembro. |
A indústria surpreendeu positivamente em novembro, mas não abandonou a tendência de crescimento lento e moderado apresentada em todo o ano de 2006. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem um aumento na produção do setor de 0,8% em relação a outubro e de 4,2% na comparação com novembro de 2005. As vendas de artigos de informática aumentaram 54,5% e foram o destaque entre as atividades pesquisadas.
Os analistas de mercado que fazem projeções para a taxa esperavam, em média, crescimento zero na produção na análise com outubro e de 3% ante novembro de 2005. Mesmo com a surpresa positiva, Silvio Sales, coordenador de indústria do IBGE, disse que a recuperação é ?discreta? e os desempenhos heterogêneos entre os segmentos industriais estão impedindo uma reação mais forte do setor. Ele avalia que a indústria prossegue com taxas de crescimento moderadas porque há uma ?dispersão dos ritmos setoriais?.
Segundo o IBGE, no ano passado a indústria acumulou até novembro aumento na produção de 3,1% e, para os analistas, deverá fechar 2006 nesse patamar de expansão. Os dados finais do ano serão apresentados em fevereiro. Segundo Sales, o ?crescimento moderado? da produção industrial no ano se deve a fatores como a menor influência positiva das exportações sobre o desempenho do setor do que nos anos anteriores.
14 dos 23 segmentos que têm séries sazonalmente ajustadas registraram crescimento na produção e os destaques positivos foram, nessa ordem, em termos de peso no resultado final: refino de petróleo e produção de álcool (4,6%); outros equipamentos de transporte (caminhões, ônibus, aviões, com 10,1%); bebidas (4,9%); outros produtos químicos (1,8%) e indústria extrativa (2,2%).
Os destaques negativos entre as atividades, em novembro ante outubro, foram veículos automotores (automóveis, autopeças, com -1%); metalurgia básica (-0,7%); perfumaria, sabões e produtos de limpeza (-1,4%) e vestuário (-2,1%).
O bom desempenho de bens intermediários nos resultados da produção industrial de novembro pode sinalizar um aumento na produção de bens finais ?a frente?, segundo Sales.
A produção de bens intermediários cresceu 1,6% em novembro ante outubro e 3,2% ante novembro de 2005. Na comparação com igual mês do ano anterior, um dos destaques de intermediários foi a reação de adubos e fertilizantes, segmento que vinha sofrendo com a crise agrícola, mas mostrou aumento de 15% na produção no mês.
Bens de capital
A produção de bens de capital para indústria acelerou em novembro e cresceu 13,9% na comparação com igual mês de 2005. O chefe da coordenação de indústria do IBGE disse que esse desempenho, em conjunto com o aumento das importações de bens de capital, mostra ?um sinal de expansão do investimento dentro da indústria?.
As importações de bens de capital, segundo lembrou Sales, aumentaram, em quantidade, 34,5% em novembro ante igual mês de 2005 e 28,6% no acumulado de janeiro a novembro. Sales disse que as importações desse segmento são especialmente de bens de capital para indústria, o que acentua os sinais de investimentos no setor mostrados pelo crescimento na produção desses equipamentos na indústria nacional.
Crescimento de bens de capital é relevante, diz Iedi
Rio (AE) – A boa notícia trazida pelos dados da produção industrial de novembro, divulgados ontem pelo IBGE, foi o crescimento de 2,2% da produção de bens de capital em novembro de 2006 ante outubro e aumento de 7,9% em relação a novembro de 2005, segundo o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgar Pereira.
?A informação é relevante, sobretudo pela ótica da política monetária, por demonstrar que o crescimento da demanda de consumo está induzindo as empresas a investirem na ampliação de sua capacidade produtiva, mesmo que ainda marginalmente?, observou Pereira. ?O indicador sustenta haver perfeitas condições para a continuidade da redução dos juros pelo Banco Central, uma vez que a produção tem sido adaptada ao aumento da demanda e, portanto, eliminando riscos inflacionários?, acrescentou.
O economista-chefe ressaltou que analisava o comportamento da produção de bens de capital com base somente na ?nota técnica? do IBGE, pois ainda não possuía as planilhas com dados detalhados por setor. Enfatizou, entretanto, que a nota técnica indica que os investimentos foram ?difusos?, atendendo setores diferentes, caso dos crescimentos em ?uso misto em fins industriais? e em ?energia elétrica?. Por outro lado, lembrou que construção civil não acompanhou o crescimento.
?Parece claro que as empresas compram equipamentos, nesse momento, expandem unidades já existentes e aguardam a consolidação da nova demanda para viabilizarem investimentos de maior vulto?, pontuou.
Para Fiesp, alta é positiva, mas número é enganoso
São Paulo (AE) – O crescimento da produção de bens de capital, de 2,2% em novembro ante outubro e de 7,9% em relação ao mesmo mês de 2005, é positivo, porém ?enganoso? por não representar a efetivação de investimentos no conjunto da indústria. A opinião é do gerente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), André Rebelo, ao destacar que os investimentos estão concentrados nos setores de construção civil e na indústria extrativista.
?Os dois setores vivem momentos distintos do restante das indústrias: construção civil deve ter um Produto Interno Bruto de 5%, em 2006; e extração é resultado dos investimentos de Petrobras e Companhia Vale do Rio Doce, que contam com níveis de preços de seus produtos em patamares muito bons nos mercados doméstico e internacional?, avaliou Rebelo.
Segundo ele, o crescimento industrial, de 0,8% em novembro ante outubro, permanece concentrado nos dois segmentos e nos setores de fabricação de máquinas para escritório, refino de cana-de-açúcar e equipamentos elétricos para o setor de energia.
?Não por acaso, o presidente Lula comemorou nos últimos dias os excelentes resultados do programa ?Luz Para Todos?, que tem puxado a produção de equipamentos de distribuição de eletricidade. Por isso, esse setor vai bem?, ponderou.
A visão da Fiesp é de que a produção industrial feche 2006 com alta de 2,8% a 3%, aquém das possibilidades da economia brasileira, sobretudo quando comparada com as taxas de crescimento da economia global, de 5%, e de países como a Argentina, com 9%.
?Percebemos que o Brasil perdeu a oportunidade de crescer, mais uma vez, e a prova disso é que o uso da capacidade instalada das indústrias cresce pouco, desmotivando novos investimentos?, comentou.
A esperança da entidade empresarial é de que o Banco Central mantenha o ciclo de cortes dos juros pelo menos no ritmo de 0,50 ponto porcentual a cada nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
?Entendemos que há espaço para cortes maiores, pois a inflação está muito abaixo da meta. O boletim Focus, do BC, abriu 2006 com previsão de IPCA de 4,5% e vamos fechar entre 2% e 3%. Para 2007, já rebaixaram a previsão de 4,6% para 4%, deixando claro que o risco inflacionário não existe?, argumentou. ?O uso de capacidade instalada da indústria também revela que não há o crescimento de demanda tão temido pelo BC?, adicionou.