A produção industrial deve seguir um ritmo de recuperação ainda relativamente lento no início deste ano, devido aos efeitos da fraca demanda externa. A previsão foi feita pelo economista da Área de Pesquisas Econômicas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Marcelo Machado Nascimento.
“Achamos que a recomposição da demanda externa não vai se dar em um passo tão largo e, então, a produção industrial não vai se recuperar tão rápido quanto a gente gostaria”, disse à Agência Estado, após citar dificuldades em países como Espanha e Irlanda.
Nascimento e o também economista do BNDES Fernando Puga fizeram o estudo “Desempenho exportador explica a recuperação lenta da indústria”, publicado hoje pela série da instituição
“Visão do Desenvolvimento”. No texto, eles observam que “o fraco desempenho das exportações foi responsável por quase dois terços da queda da produção industrial, entre os terceiros trimestres de 2008 e 2009”.
De acordo com o trabalho, a parcela da produção industrial brasileira que se destina ao mercado externo é maior que a simples soma das exportações diretas de cada setor, que seria de 19,3% na indústria geral.
Nascimento e Puga consideram como destinados à exportação também a parcela de produtos industrializados vendida no mercado interno, mas que é utilizada em outros bens, que, por sua vez, são exportados.
Com isso, a parcela da produção industrial brasileira destinada às exportações sobe para 32,6%. “As pessoas não veem que a participação das exportações na produção industrial é tão grande”, observou Nascimento, referindo-se ao conceito ampliado de exportações, utilizado por ele e Puga no estudo.
“Conseguimos enxergar a parte do aço que está no carro que é exportado. Então, não são cerca de 25% (26,6% na metalurgia básica) dos produtos metalúrgicos que são exportados, são mais de 40% (exatamente 47,6% na metalurgia básica, segundo o estudo)”, explicou.
Em vários setores estudados, a participação das exportações na produção industrial é significativamente maior com o conceito ampliado. Na extração de minerais metálicos, por exemplo, a participação direta é de 56,5% e a ampliada é de 72,9%.
Entre os não metálicos, os percentuais são, respectivamente, de 18,4% e 61,8%. Os produtos de madeira, por sua vez, mostram coeficientes de 33,3% (restrito) e 54,2% (ampliado). Em papel e celulose, os porcentuais são de 27,6% e 39,6%.
Já no setor de couro e calçados, tradicionalmente visto como exportador, a participação das exportações diretas na produção industrial é de 34,3%, mas o coeficiente ampliado é de 44,9%, abaixo de vários setores básicos.
O trabalho do BNDES considera diversos outros setores e usa como base os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento e da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).