Rio  – A produção industrial cresceu em junho 0,7% ante o mesmo mês do ano passado e também registrou pequena elevação (0,8%) na comparação com maio. Mas a inversão dos sinais dos indicadores do setor, que tinham sido negativos em maio, não evitou a estagnação que vem marcando o desempenho industrial desde abril.

“A produção está parada no mesmo nível há três meses”, disse o chefe do Departamento de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales. Segundo ele, essa “estabilização” aparece também no resultado acumulado do primeiro semestre (-0,1%).

Hamilton Kai, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considera que a produção industrial está estagnada desde o início do ano e acredita que o acordo fechado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) poderá ter algum efeito positivo sobre o setor.

“Supondo alguma normalidade no cenário econômico, o segundo semestre poderá ser melhor do que no ano passado”, disse.

O principal fator que ilustra a estagnação até junho é o cenário apurado pela média móvel trimestral, ressaltou Sales. Este item, considerado o principal indicador de tendência da produção, revelou que o nível de produção industrial no trimestre encerrado no mês foi exatamente o mesmo dos terminados em abril e maio.

Estoques

O economista do IBGE considera também as taxas de crescimento de junho “muito discretas” e disse que os números do mês mostram que as empresas “estão procurando um nível mais adequado de produção que vá equilibrando os estoques”. Sales citou várias vezes a Sondagem Conjuntural da Fundação Getúlio Vargas (FGV) para reforçar sua análise.

Divulgada no final do mês passado, a sondagem revelou altos estoques nas indústriais e diagnosticou “ares de recessão”, de acordo com a expectativa dos empresários para os negócios no trimestre de julho a setembro.

“As estatísticas de julho vão revelar com maior clareza os efeitos das mudanças (volatilidade) na economia na realidade da indústria”, avalia Sales. No que diz respeito ao desempenho semestral, houve diferenças nos resultados do primeiro trimestre (-2,1%) e do segundo trimestre (1,9%), na comparação com iguais períodos do ano passado.

Segundo Sales, os números dos dois trimestres mostraram efeitos substanciais das bases de comparação, já que nos primeiros três meses do ano passado a indústria estava em alta de produção e no segundo trimestre, em conseqüência do racionamento, já havia desaceleração.

Destaques

A indústria extrativa mineral teve ótimo desempenho no semestre (11,8%, puxada especialmente pelo crescimento de 14,3% em petróleo e gás natural), enquanto a indústria de transformação teve queda de 1,5% no período. “A agroindústria e a produção e refino de petróleo foram o foco de dinamismo do semestre”, disse Sales. Os principais resultados positivos foram de gasolina e álcool (3,8%), adubos e fertilizantes (25,9%) e indústria farmacêutica (9,3%), entre outros.

Os destaques negativos do primeiro semestre ficaram com material elétrico e de comunicações (-12,3%), além de produtos como automóveis (12,4%), autopeças (-9,2%), eletrodomésticos (-4 7%) e confecções e calçados (-5,2%).

Segundo Sales, os desempenhos positivos foram influenciados especialmente pelas exportações e pela produção agrícola, além da produção de genéricos no caso dos farmacêuticos. Os produtos em queda, por outro lado, sofreram os efeitos da redução da demanda interna de consumo.

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