A alta no preço dos insumos e as oscilações no mercado internacional são fatores que irão influenciar a safra de milho do Paraná, maior produtor nacional do grão. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), do governo do Estado, a redução na área plantada deve chegar a 6,3%, passando de 1,38 milhão de hectares para 1,295 milhão de hectares. A produção deve ser 9,1% menor que na safra passada, ou seja, 8,81 milhões de toneladas, contra 9,69 milhões de toneladas em 2007/2008. Alguns produtores estão optando por aumentar a área de soja ou substituir o milho por outra cultura.
No município de Prudentópolis, região central do Estado, a área com plantio de feijão pode passar de 30 mil hectares, enquanto o milho deve ocupar apenas metade desse território. O gerente do Departamento Técnico da Cooperativa Agroindustrial Mista de Prudentópolis, José Tarcísio Pontarolo, afirma que, entre os cooperados, a redução com o milho chega a 30%.
“O produtor sentiu no bolso a diferença e, apesar de o mercado do feijão ser mais instável, o preço, na casa de R$ 180 a saca, está estimulando o plantio”, comenta. O milho, que bateu recordes no mês de junho, sendo vendido a US$ 296 a tonelada, na última semana foi comercializado em torno de US$ 168 a tonelada.
Segundo a engenheira agrônoma do Deral Margorete Demarchi, os levantamentos apontam para uma redução mais significativa na área de milho na região sul do Paraná, que hoje responde por 50% da produção do grão no Estado. “Em localidades como Ponta Grossa, Guarapuava e União da Vitória, a diminuição no plantio pode chegar a quase 8%”, estima. Em outras regiões, quem não reduzir a área poderá reduzir o uso de tecnologia ou adotar o uso racional de fertilizantes.
Apesar das previsões, há quem prefira não arriscar e manter plantio
José Adair Gomercindo/Secs |
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Plantação no sudoeste: da primeira safra de milho do Estado, 61% já está no campo, percentagem considerada um pouco baixa para o período. |
Mas há ainda quem prefira não arriscar. Na Cooperativa Mista Agroindustrial de Witmarsum, em Palmeira, os produtores irão manter a mesma área da safra passada. O engenheiro agrônomo e gerente agrícola da cooperativa, Gernold Schartner, afirma que, como os produtores locais adotam a rotação de culturas, irão repetir os 3 mil hectares de milho cultivados na safra anterior. “Não haverá expansão por causa do alto custo”, diz. O engenheiro destacou que o mesmo irá acontecer com a soja, sendo a única diferença uma redução na área de transgênicos, que passará de 48% para 28% do total plantado. Isso se deve à rentabilidade inferior da safra passada.
Na avaliação de Margorete Demarchi, nos últimos dez anos o Paraná viveu uma tendência de redução no cultivo do milho e conseqüente expansão das áreas com soja. “Até porque o Estado tem a opção de plantar o milho safrinha no inverno”, explica. Da primeira safra de milho do Estado, 61% da produção já está no campo, percentagem considerada um pouco baixa para o período. Isso se deve à instabilidade do clima, com temperaturas médias baixas para a época do ano. No entanto, apesar desse cenário, a engenheira do Deral afirma que ainda é cedo falar em algum comprometimento do potencial da lavoura, que, com o solo mais frio, teria atraso na germinação.
Redução segue tendência nacional
A redução no plantio do milho é uma tendência nacional. O primeiro levantamento da estimativa de safra da Co,mpanhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontou que a cultura no País deve sofrer redução de 1,66% na área plantada, chegando a 9,5 milhões de hectares, contra 9,6 milhões na safra passada.
Já na produção, a redução atinge 5,5%, tendo como estimativa a colheita de 37,7 milhões de toneladas, contra 39,9 milhões da safra anterior. Para os especialistas, essa redução deverá ter pouco reflexo no mercado. O operador de soja e milho da Intertrading, Carlos Gallas, acredita que a diminuição na quantidade de grãos, além de não ser tão expressiva, não afetará setores dependentes do milho.
Isso porque o País teria estoques que podem chegar a 9 milhões de toneladas. Gallas lembra ainda que existia a expectativa de que a exportação de milho atingisse 10 milhões de toneladas. No entanto, as operações não passaram de 6 milhões de toneladas. Para o analista da Safras e Mercados Eduardo Reinaldo Sarmento, o impacto no mercado também será pequeno. Ele aposta que o agricultor irá substituir as áreas de milho com soja, ou, ainda, em algumas regiões, avançar com as áreas de cana.