O superintendente adjunto de segurança operacional e meio ambiente da Associação Nacional do Petróleo (ANP), Hugo Affonso, disse que a produção de gás de xisto no Brasil só será viável em 2023 caso os investimentos comecem a ser feitos já.
“Demorará cerca de dez anos para a produção de gás de xisto se tornar viável”, disse em seminário realizado em São Paulo. “Se não tivermos investimentos agora, daqui a dez anos não teremos recursos.”
No evento, Affonso falou sobre a 12.ª rodada da licitação voltada a gás convencional e não convencional (xisto), que será realizada pelo governo em outubro deste ano.
As áreas licitadas ficam nas bacias do Acre, São Francisco, Parecis, Paraná e do Recôncavo Baiano. Segundo ele, todas elas têm potencial para a exploração do xisto.
“Nossa expectativa em relação ao leilão é a melhor possível”, afirmou. “Temos certeza de que vai haver interesse nos blocos de gás natural, e esperamos boas notícias para o mês de outubro.”
Ranking
Segundo dados do Agência Internacional de Energia (AIE), o Brasil ocupa a décima posição no ranking mundial que mede a quantidade de reservas recuperáveis de gás de xisto, com 6,4 trilhões de metros cúbicos.
A lista é liderada pela China, com 36,1 trilhões de metros cúbicos, seguida por Estados Unidos (24,4 trilhões) e pelo México (19,3 trilhões).
O vice-diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), Colombo Tassinari, afirmou que explorar a reserva nacional de gás não convencional pode trazer benefícios para o setor industrial.
“A exploração do gás de xisto vai contribuir muito para a competitividade da indústria brasileira”, disse. Ele citou o caso dos Estados Unidos como exemplo.
Lá o aumento da produção desse tipo de gás levou a uma queda no preço do insumo: de cerca de US$ 12 para US$ 3 por milhão de BTU (british termal unit, unidade térmica britânica, medida usada para gás). No Brasil, o preço do gás convencional está entre US$ 12 e US$ 16 por milhão de BTU.
Caro
“Se há um problema energético sério no País é o de que o gás aqui é caro, e sendo caro, é pouco usado”, disse José Goldemberg, presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecomércio/SP, que também esteve presente no evento.
Para Tassinari, mesmo com a expansão da exploração do xisto no Brasil, a cotação não deve cair para os patamares americanos.
“Não acredito que o gás de xisto caia para US$ 3 dólares, pois aqui temos outros custos, bem diferentes dos Estados Unidos”, afirmou. “Mas certamente vai ser menor do que os atuais US$ 15 por milhão de BTU.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.