Foto: Arquivo/O Estado

 Indústria mantém o pé no freio.

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A produção industrial brasileira registrou leve alta de 0,1% em outubro na comparação com setembro, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado, no entanto, não é suficiente para reverter a queda verificada no mês anterior. Em setembro, a pesquisa havia apurado retração de 2,3%.

O IBGE afirma que a produção praticamente estável verificada em outubro não reverte a trajetória de queda de indicadores em uma análise de prazo mais longo – ou seja, ao longo do segundo semestre ainda persiste uma tendência de desaceleração.

Analistas, porém, previam um novo recuo da produção em outubro. O economista Estêvão Kopschitz do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) esperava uma queda da ordem de 0,5%.

Segundo a gerente da pesquisa, Isabella Nunes, dois fatores fizeram com que o resultado do estudo fosse diferente do esperado. O primeiro foi a recuperação dos segmentos de bens de consumo duráveis (veículos e eletrodomésticos), não-duráveis e semiduráveis (alimentos e roupas). O segundo foi o fato de que indústrias como a de refino de petróleo e outros produtos químicos lideraram a expansão. Normalmente elas estão fora do modelo de projeções dos economistas, segundo o IBGE.

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Para o quarto trimestre, analistas prevêem uma melhora mais significativa apenas a partir dos meses de novembro e dezembro, com o aquecimento do setor em razão das festas de fim de ano. As vendas de veículos, por exemplo, já sinalizaram recuperação no mês passado.

Em relação a outubro do ano passado, a indústria registrou crescimento de 0,4%. Segundo o IBGE, na comparação com igual mês do ano anterior, setembro e outubro apresentaram os resultados mais baixos desde 2003. No acumulado do ano, a expansão é de 3,4%.

Setores

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Apenas uma das quatro categorias de uso apresentou queda entre setembro e outubro. Os bens de consumo duráveis (veículos e eletrodomésticos) tiveram alta de 2,8% em outubro, após retração de 9,3% em setembro. Essa categoria depende muito do crédito para alavancar as vendas.

Segundo Nunes, a recuperação da chamada linha branca (geladeira e freezer) puxou a recuperação dos bens duráveis. Nos últimos meses, este segmento vinha apresentando quedas expressivas. O resultado sugere o fim do período de ajuste de estoques que prejudicou o desempenho da indústria no terceiro trimestre.

Já os bens de consumo semiduráveis (roupas e calçados) e não-duráveis (alimentos) avançaram 0,5% em outubro e os bens intermediários (insumos industriais) tiveram alta de 0,1%. Os bens de capital (máquinas e equipamentos) registraram uma produção 3,9% menor.

De acordo com Nunes, a alta dos não-duráveis poderia ter sido maior, caso seu principal segmento, o de alimentos e bebidas elaborados para consumo não tivesse sido afetado pelo recuo na produção de carnes em razão da febre aftosa.

O comportamento da indústria em outubro também reflete o aumento da produção em 13 das 23 atividades pesquisadas com ajuste sazonal. As altas mais significativas foram verificadas em máquinas, aparelhos e materiais elétricos (2,5%), refino de petróleo e produção de álcool (0,9%) e outros produtos químicos (0,8%). As principais influências negativas vieram de material eletrônico e equipamentos de comunicações (-6,7%) e têxtil (-2,7%).

Retração compromete investimentos futuros

O resultado das vendas da indústria paranaense caiu 2,5% em outubro, na comparação com o mês anterior. Com isso, o faturamento do setor acumula queda de 1,98% no ano, ante os dez primeiros meses de 2004. Apesar da redução dos negócios ser sazonal e esperada, em função da venda antecipada para as festas de fim de ano, o cenário preocupa os empresários. ?O que vemos é reflexo da política econômica. A opção pelo juro alto, que impacta a taxa de câmbio, prejudica o desempenho da indústria. O faturamento negativo vai afetar diretamente a capacidade de investimento das nossas empresas paranaenses em 2006?, adverte o presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures.

Segundo a pesquisa Análise Conjuntural, elaborada pelo Departamento Econômico da Fiep, apenas seis segmentos industriais (Produtos Farmacêuticos e Veterinários; Material de Transportes; Papel e Papelão; Perfumaria, Sabões e Velas; Material Elétrico e de Comunicações e Químico) tiveram resultados positivos no acumulado do ano. Outros 12 apresentaram desempenho negativo em comparação com o ano passado.

Para o economista Maurílio Schmitt, da Fiep, outro entrave para o setor produtivo é a política tributária. ?A arrecadação está apenas cobrindo rombo e a União passa a ser cada dia mais cara para a sociedade. Infelizmente, o cenário político futuro indica ser inviável qualquer mudança estrutural, como as reformas tributária e política ou o aprofundamento das mudanças na previdência e na gestão administrativa do governo federal?, avalia. Schmitt destaca que esta política econômica refletirá no crescimento futuro do País, porque a União deixou de realizar importantes investimentos na melhoria da infra-estrutura, serviços de saúde, educação e segurança.

Desempenho

A queda no faturamento em outubro foi influenciada pela retração do mercado interno e pela taxa cambial desfavorável, que prejudicou os ganhos com as exportações. Naquele mês, o resultado dos negócios dentro do Estado recuou 3,46% e 0,86%, no Brasil. As exportações apresentaram recuperação de 3,33%, em relação a setembro, mês em que as vendas ao exterior caíram 19,56%.

Emprego

Dados da pesquisa também indicam que o efeito cambial e a queda na demanda influenciaram no nível de emprego do setor industrial. O setor de Couros, Peles e Produtos Similares registrou queda de 5,72% nas oportunidades de trabalho. Já o setor de Madeira (4,55%) reduziu postos de trabalho em função do câmbio desfavorável e da queda na demanda. Estes mesmos efeitos, atingiram o setor Químico, que diminuiu em 2,72% a mão-de-obra.

No mês, doze dos dezoito segmentos apresentaram resultados negativos na contratação. Porém, no acumulado do ano, o nível de emprego ainda está 6,26% positivo. Em outubro, a capacidade instalada caiu um ponto percentual, atingindo 78% e as horas trabalhadas recuaram 2,13%.