A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo (Procon-SP) divulgou hoje um relatório que revela baixa adesão dos donos de veículos aos recalls feitos pelas montadoras. Com base nesse resultado, a fundação pretende tomar diversas iniciativas. “Além de campanhas educativas, podemos cobrar do fornecedor que realize novas campanhas na mídia”, afirmou o diretor executivo do Procon, Paulo Arthur Lencioni Góes.

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O relatório do Procon-SP foi obtido com base em um banco de dados criado pela fundação, que reúne todas as 433 campanhas de recall (de todos os tipos de produtos e serviços) realizadas no País desde 2002. “Esse banco de dados pode servir para orientar as políticas públicas. Uma hipótese seria fazermos uma parceria com o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) para saber por que os sistemas de freio apresentam tantos problemas. De onde vem essas peças? Quem as fabrica?”, questiona o diretor.

Outro fator que deve colaborar para aumentar o índice de participações em recalls é uma portaria conjunta entre o Denatran e a Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça, editada em março. De acordo com a nova norma, o veículo que não comparecer ao recall no prazo de um ano terá essa informação no Certificado de Registro e licenciamento de Veículo (CRLV), o que, na prática, dificultará a venda deste automóvel.

Segundo o relatório do Procon, 5,71 milhões de pessoas foram afetadas pelos recalls de carros no País desde 2002. Um dos recalls que envolveu o maior número de veículos foi o do modelo Novo Ka, da Ford, realizado em dezembro de 2008. Dos 41.460 motoristas que deveriam fazer a manutenção, só 3.928 (9,47%) responderam ao chamamento, segundo dados da própria montadora. Nesse caso, existia a possibilidade de ocorrerem fissuras no tubo de freio, que poderiam acarretar na perda da eficiência de frenagem, com risco de acidente.

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Dos 334 recalls realizados no setor automotivo, desde 2002, 68 (20,36%) foram relativos ao sistema de freios. Em seguida aparece o sistema elétrico-eletrônico, com 16,77%, e o sistema de combustível, com 11,38%. Ainda de acordo com os dados do Procon, a montadora que mais realizou recalls foi a Ford (7,29%), seguida pela Volvo (6,83%) e pela Mercedes-Benz (5,69%).

Ricardo Morishita Wada, professor de Responsabilidade Civil e Direito do Consumidor na Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), lembra que o Brasil é o quinto maior vendedor de veículos do mundo. “As empresas precisam mudar a forma como elas comunicam o recall. Elas fazem recall nos Estados Unidos desde 1966. O consumidor paga pelo produto. O recall não é uma benesse, uma bondade, é uma questão de segurança”, afirma.

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Saúde e produtos infantis

A pesquisa do Procon-SP também computou os recalls feitos em outras áreas, além do setor automotivo. No segmento de produtos para saúde, por exemplo, foram 33 casos desde 2002. É a área onde o maior número de pessoas foram afetadas: 48,92 milhões. Em oito recalls, o problema tinha relação com efeitos colaterais nocivos à saúde; e em três casos havia contaminação por bactérias ou outras substâncias tóxicas. Num dos casos, do medicamento Prexige (lumiracoxibe) 400 mg, da Novartis, só 2,99% das 12,75 milhões de pessoas afetadas atenderam ao recall.

O segmento de produtos infantis foi o terceiro que mais registrou recalls desde 2002, com 20 casos. Um dos recalls com maior número de afetados foi o do brinquedo Magnetix, da Gulliver, em que 49,6 mil unidades apresentaram o problema. Havia a possibilidade dos imãs presentes no brinquedo se soltarem e serem ingeridos pelas crianças, ocasionando ferimentos graves com, risco de morte. O índice de atendimento desse recall foi de apenas 16,34%.

Segundo o Procon-SP, uma das explicações para a baixa adesão aos recalls nos segmentos de saúde e produtos infantis é o valor dos produtos. De acordo com Cleni Dombroski, técnica de defesa do consumidor da fundação, “muitas vezes o brinquedo é barato, quebra rápido, e as mães acabam não fazendo o recall”.