O rating soberano do Brasil está sob pressão desde abril e alguns riscos no País têm piorado, incluindo uma recessão que tem sido mais profunda, e pode ser mais longa, do que o inicialmente esperado, afirmou ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, nesta quinta-feira, 10, a diretora de ratings soberanos para a América Latina da agência de classificação de risco Fitch Ratings, Shelly Shetty, logo após participar de um painel sobre América Latina para investidores em Nova York. Questionada pela plateia do evento se a agência seguiria a Standard & Poor’s (S&P) e também rebaixaria a rating brasileiro, Shelly disse que a perspectiva “negativa” para a nota, adotada em abril, indica que a probabilidade de rebaixamento do Brasil é “superior” a 50%.

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Quando a Fitch fez a avaliação do rating brasileiro em abril, mudando a perspectiva para “negativa”, Shelly disse que naquele momento a agência de classificação de risco levantou preocupações com a trajetória das contas fiscais brasileiras, o baixo crescimento econômico e o cenário político adverso em Brasília.

Desde abril, a diretora da Fitch destaca que alguns dos riscos apontados pioraram. Ela menciona que as contas fiscais se deterioraram em ritmo mais rápido que o cenário-base traçado pelos analistas da agência e indicadores da economia apontam para uma recessão econômica no Brasil “mais profunda” este ano e que “pode ser mais longa”, se estendendo para 2016. “O ano que vem vai ser um ano bastante desafiador”, disse Shelly durante o painel. Uma recuperação da economia pode ocorrer só em 2017.

Questionada pelo Broadcast sobre a próxima revisão do rating soberano brasileiro, Shelly disse que as notas são avaliadas anualmente, mas para o Brasil a data não é pública. “As coisas são dinâmicas. Permanecemos em contato com autoridades do governo e podemos tomar qualquer ação necessária no rating que vermos necessidade”, afirmou.

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Shelly afirmou que questões políticas no Brasil terão que ser levadas em conta na reavaliação do rating, bem como as perspectivas de crescimento, a trajetória da dívida pública e a consolidação das contas fiscais. Os desafios na política brasileira aumentaram em meio à queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff para mínimas históricas, destacou a diretora. Um dos focos será ver se a presidente vai conseguir tomar medidas de austeridade em meio a alta insatisfação da população.

A previsão para a Fitch é que a economia brasileira tenha contração de 1,5% em 2015, mas Shelly disse que o número deve ser revisado para baixo este mês. Além de indicadores de atividade sinalizando que a atividade econômica continua ruim, a confiança de investidores e consumidores permanecem em patamares historicamente baixos, o que contribuir para manter a economia desaquecida.

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Comparações

De acordo com Shelly, o Brasil ainda tem alguns indicadores, como as contas externas, que estão em linha com países classificados como grau de investimento, mas tem outros números, como inflação, o Produto Interno Bruto (PIB) e a dívida pública, que são piores que seus pares.

A relação dívida bruta/PIB do Brasil está na casa dos 60%, acima da mediana dos países com classificação “BBB”, que é de 40%, segundo a diretora da Fitch. Entre os emergentes, a Índia é o país com indicador mais alto, perto de 70%, enquanto a Rússia tem uma das menores, perto de 10%. Já os gastos com juros do Brasil como porcentual das receitas do governo estavam em mais de 15%, sendo que a mediana do grupo é de menos de 10%.

No caso da dívida bruta, Shelly ressaltou que é importante avaliar a dinâmica do endividamento, que tem sinalizado desafios no Brasil, mas não parece explosiva. Projeções oficiais do governo apontam o indicador ao redor de 65% em 2015. Na Croácia, que perdeu o grau de investimento em 2013, o indicador estava em 69% naquele ano e as previsões eram de que subiria para perto de 100% nos anos seguintes.

Outro ponto negativo do Brasil é a inflação, que vem se mantendo acima da meta do Banco Central e está em nível mais elevado que a mediana dos países classificados com o mesmo rating que o Brasil, a nota “BBB”. México, Peru, Filipinas e Colômbia têm índices de preços mais próximos da mediana, com inflação na casa dos 3% ao ano.

Outro ponto problemático do país é crescimento econômico brasileiro, mencionado em vários momentos por Shelly no painel desta quinta-feira. A fraca expansão do PIB brasileiro está abaixo da mediana de países com o mesmo rating, que crescem entre 2,5% e 3% ao ano. As taxas de expansão do PIB do México, Índia, Peru e Uruguai estão ou neste patamar ou acima, enquanto a Fitch prevê contração de 1,5% este ano no Brasil, número que deve ser revisado para baixo este mês pela agência. Segundo Shelly, a sinalização é que a recessão se prolongue também para 2016 e uma recuperação só venha em 2017.

Em uma apresentação distribuída no seminário, Shelly ressalta que o superávit primário brasileiro virou déficit em 2014 e que a meta do governo para 2015 foi reduzida. No painel ela destacou que os indicadores fiscais têm mostrado piora em um ritmo mais rápido do que o traçado no cenário base da agência de classificação de risco.

Como pontos positivos do Brasil, Shelly ressaltou as contas externas do país, citando a melhora recente da balança comercial, por conta da forte desvalorização do dólar. A diretora citou ainda a proporção maior no Brasil de dívida em moeda local que em outros emergentes, como Uruguai, Peru e Croácia, que têm peso mais expressivo das dívidas em moeda estrangeira.

Sobre a possibilidade de reformas estruturais no Brasil, Shelly avalia que, com o cenário político adverso em Brasília, medidas desse tipo devem ser raras nos próximos meses.

Outros países

Baixo crescimento da economia, deterioração de indicadores fiscais, crise política, crise bancária e falta de reservas internacionais estão entre os fatores que levaram países emergentes a perderem a classificação grau de investimento e passarem a ser avaliados no grau especulativo ou “junk” (“lixo”, no jargão do mercado financeiro), de acordo com Shelly.

Em uma apresentação distribuída no evento, Shelly mostrou fatores que levaram outros países a serem rebaixados nos últimos anos e deixar o seleto grupo dos mercados que fazem parte do grau de investimento. Na Tunísia, em 2012, uma crise política desencadeou a mudança na nota. No Chipre, também em 2012, o catalisador foi uma crise bancária. Na crise da Ásia, em 1997, a falta de reservas internacionais para lidar com o cenário externo adverso levou alguns países a perder o grau de investimento, disse a diretora.

Já na Croácia, em 2013, o rebaixamento ocorreu por conta de fatores parecidos com o Brasil. Baixo crescimento econômico e crescentes desafios fiscais levaram o país a perder o grau de investimento. Shelly mostrou em sua apresentação que o país foi rebaixado para o rating “BB+” em um momento em que a relação dívida bruta e o PIB estava em 69%, com previsão de se aproximar de 100% nos anos seguintes. No caso brasileiro, Shelley ressaltou que a trajetória do indicador mostra desafios, mas não é “explosiva”. Previsões oficiais do governo citadas na apresentação mostram a relação dívida/PIB do Brasil em 65% em 2017.