Uma das maiores companhias de alimentos do mundo, a JBS amanheceu nesta quarta-feira, 13, sem dirigente e viu-se forçada a pensar a sucessão de Wesley Batista, medida que a cúpula da empresa vinha tentando postergar. Acusado de valer-se de informação privilegiada para lucrar no mercado acionário e de câmbio, Wesley teve a prisão decretada. Seu irmão, Joesley, já estava preso desde domingo, acusado de omitir informações em sua delação.
Com Joesley e Wesley presos, o irmão mais velho, José Batista Júnior, conhecido como Júnior Friboi, compareceu à empresa para ajudar seu pai, José Batista Sobrinho, fundador da JBS, em deliberações emergenciais. Júnior já foi presidente da JBS. Wesley Batista Filho, filho de Wesley e presidente de uma divisão da JBS nos EUA, também participou das conversas.
Segundo fontes que acompanharam as discussões ontem, a família ainda trabalha com a possibilidade de Wesley retornar ao cargo nos próximos dias. Conforme apurou o Estado, há preocupação de que uma substituição imediata do empresário sinalize que a JBS não acredita que ele será libertado em breve.
Apesar disso, a discussão sobre novos nomes já começou. Em reunião do conselho de administração ontem, a representante do BNDES, a advogada Claudia Azeredo Santos, sugeriu que Gilberto Tomazoni, hoje à frente das marcas internacionais da JBS, assumisse interinamente. Como a reunião foi apenas informativa, a proposta não foi votada.
Tomazoni já era um dos nomes aventados pela cúpula para a eventual necessidade de uma rápida sucessão como a de agora, mas há dúvidas se ele aceitaria o cargo. Próximo da família, Gilberto Xandó, que assumiu o lugar de Joesley Batista no conselho de administração da JBS, também é visto como possível sucessor. Existe ainda a alternativa de se buscar um nome de mercado.
Apesar da dificuldade da família em aceitar a sucessão imediata, a permanência de Wesley na presidência da JBS ficou insustentável, segundo fontes. Além da pressão do BNDES, a acusação que pesa agora sobre ele é de ludibriar o mercado financeiro. Por isso, é considerado improvável que o mercado vá aceitar que ele permaneça à frente de uma grande companhia de capital aberto.
Uma definição sobre a sucessão, seja ela qual for, deve sair nos próximos dias, segundo pessoas próximas à empresa. A avaliação é que a JBS precisa de um interlocutor com o mercado. Com dívida bruta de R$ 60 bilhões, a JBS renegociou cerca de R$ 20 bilhões com bancos, ampliando prazos. O contrato foi assinado, mas ainda não foi finalizado. Por isso, a situação desperta atenção dos assessores financeiros da empresa.
Segundo um banqueiro, depois de vender vários ativos, incluindo Vigor e Alpargatas (veja quadro), a empresa vem cumprindo os pagamentos. Não há motivos, por ora, para desfazer o acordo, afirma. Os bancos também esperavam uma substituição no comando da JBS em até um ano a partir de uma sinalização do próprio Wesley.
Sucessão
A JBS não tinha um processo formal de sucessão, algo que Wesley Batista considerava um erro. Em sua avaliação, a JBS tinha executivos de talento, mas com domínio restrito a suas áreas.
A terceira geração da família ainda estava sendo preparada e é vista como “verde”. Wesley Filho está no grupo desde 2010. Murilo, filho de Joesley, trabalhava em funções laterais na J&F. Já o pai de Wesley e Joesley e o irmão mais velho estão fora do comando há anos. As irmãs nunca atuaram no negócio. Por isso, agora que há pressão imediata para trocar o comando da empresa, a JBS se vê obrigada a conduzir à presidência a alguém de fora da família.
Procurados, a JBS e o BNDES não se pronunciaram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.