Há pouco o que esperar da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), organismo do Banco Central que decide os rumos da taxa básica de juros, a Selic. O órgão na terça e na quarta-feira. Há um consenso entre os economistas de que os juros serão mantidos em 14,25% ao ano.
Dois fatores levam a essa conclusão. O primeiro é o aprofundamento da recessão. Praticamente todos os indicadores da economia estão sendo revistos para pior. Na sexta-feira, o Estado teve acesso às previsões do Comitê de Macroeconomia da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que costumam ser divulgadas às véspera do Copom (veja números abaixo). O grupo, com mais de 20 economistas-chefes de instituições financeiras de diferentes portes, foi unânime: os juros não vão subir, porque mais juros vão agravar um cenário já muito ruim.
“Por unanimidade se estimou que o Copom não sobe o juros nos próximos meses e, se mexer, vai ser para reduzir, no final de 2016”, diz Marcelo Carvalho, economista do Banco BNP Paribas Brasil e presidente do comitê.
A outra razão para o Copom deixar as coisas como estão agora é “o aumento da incerteza”. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, tem uma analogia para a situação. “Vamos supor que a gente tivesse um painel de controle para monitorar o País. Hoje, as coisas ali estão turvas e não dá para traçar nenhum cenário”, diz Goldfajn “O problema hoje não está no BC. O problema é político-fiscal: a incapacidade de se aprovar no Congresso as medidas do ajuste. Vamos supor que se aprovem duas ou três – isso já melhoraria o cenário, então, é preciso esperar um pouco.”
Dominância. O tamanho da encrenca fiscal fez reacender um debate entre os especialistas: se o Brasil enfrenta ou não o que se chama de “dominância fiscal”. Ou seja, se a política monetária (o controle dos juros pelo Banco Central) perdeu efeito e a inflação só vai ceder quando o governo tiver uma boa política fiscal (fizer o controle mais rigoroso dos gastos públicos).
Entre os economistas, há muita polêmica e nenhum consenso em relação ao tema. A melhor maneira de descobrir se a dominância fiscal está ou não entre nós seria o BC jogar os juros para cima e a inflação continuar subindo. Mas ninguém considera prudente fazer o teste.
Independentemente, todos concordam que o governo precisa gastar menos para ajudar no combate à inflação. “Já ficou claro que o desequilíbrio fiscal é a fonte do problema”, diz José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e ex-diretor de Mercado Aberto e Dívida Pública do BC.
Erros do passado.
Para os especialistas, parte do problema atual é culpa do próprio BC. A inflação é mais resistente porque a instituição deixou que ela ficasse no teto da meta, de 6,5%. A estratégia era ter um pouco de inflação para ajudar a economia a crescer. A manobra era especialmente arriscada porque, em paralelo, o governo segurava tarifas, como preços de passagens, gasolina e energia elétrica, que um dia teriam de subir.
“Estamos enfrentando uma situação causada pelos erros dos anos anteriores. O BC deixou a inflação ficar sistematicamente perto dos 6%”, diz o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC.
Outro erro foi o BC se comprometer a levar a inflação para 4,5% no final de 2016. O economista Daniel Gleizer, também ex-diretor diretor de Assuntos Internacionais do BC, lembra que na virada de 2014 para 2015, quando o governo decidiu ajustar as tarifas, já se sabia que seria complicado cumprir a promessa. “Foi um erro fazer a promessa na partida. O BC se meteu em outra armadilha. O que é mais custoso para a credibilidade dele agora? Rever o discurso ou perseverar nele, com um custo altíssimo para a economia?” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.