Ninguém duvida que é cada vez mais difícil ter o mesmo padrão de um vida inteira de trabalho só com a aposentadoria paga pela Previdência Social, mas ainda são poucos que se aprofundam em conhecer as opções oferecidas pelos planos de previdência complementar. Entre os consultados pela reportagem que fazem algum tipo de planejamento para essa fase da vida, a maioria respondeu que prefere a poupança, devido ao menor risco. Mas do ponto de vista dos analistas, esse caminho é bem contestado.
A planejadora financeira da Praisce Capital, Licelys Marques, explica que os planos de previdência complementar têm a clara finalidade de ser uma fonte de renda na aposentadoria. “Não pode ser confundido com a poupança, que atende a finalidade de ser uma reserva para as situações de emergência. Quem trata a previdência privada como poupança ou vice versa se frustra, porque o resgate antecipado do plano costuma ser bastante tributado e a poupança não garante uma rentabilidade tão interessante”, defende.
A representante comercial Simona Zanellato, 41 anos, comenta que optou pela poupança por se sentir mais segura. “Qualquer reviravolta no governo eu posso sacar na hora”, justificou. Segundo a planejadora financeira, essa facilidade é outro agravante. “Como não é o produto financeiro certo para quem quer se aposentar, fatalmente a pessoas acabam utilizando para outro fim e ficam desprotegidas”, observa.
O afinador de pianos Olavo Carneiro, 67 anos, vivencia essa realidade. Ele se aposentou aos 65 anos, mas o valor recebido supre apenas um quarto das suas despesas. “Sigo trabalhando para cobrir o restante, mesmo tendo uma poupança. O erro foi não ter pensado nisso antes”, admite.
De acordo com o consultor especialista em previdência Renato Follador, essa realidade é demonstrada em números oficiais. “O teto do benefício que na década de 70 era de 20 salários mínimos, hoje não chega a seis e, pelas projeções financeiras, em 20 anos, não passará de três salários mínimos. A grande questão a fazer é se essa renda será suficiente. Se não for, o caminho é escolher um plano de previdência”, aponta.
Avesso a riscos, o garçom Adriano Ulrich, 23 anos, pai de Victor, de apenas 11 meses, conta que o filho possui uma caderneta de poupança. “É para garantir o futuro dele”. O receio de perder dinheiro em um plano de previdência foi o que o motivou a investir na poupança.
Follador conta que para quem começa bem jovem a fazer um plano de previdência, os ganhos são extremamente vantajosos, a ponto de tornar a poupança algo bem pouco recomendável. “Com uma contribuição baixa, quem contribui por 40 anos vai receber ao final do período uma renda na qual 26% foi o capital investido e 69% são os ganhos com juros e 5% os incentivos fiscais”.
Riscos
A rentabilidade de qualquer plano está vinculada ao desempenho da carteira de investimentos, que pode ser mais conservadora, composta por renda fixa, ou multimercados. Outro riso é o de deixar boa parte do capital nas taxas de administração, que são as grandes vilãs dos planos. As taxas variam de 1% a 3% ao ano sobre a rentabilidade total da aplicação. Follador alerta que planos de bancos costumam ter taxas mais caras. “Fundos de grandes empresas ou sindicatos costumam ser mais competitivos porque a rentabilidade da carteira não vai ser dividida com os custos de uma instituição bancária, que tem fins lucrativos com o produto”.