Com filhos gêmeos de 8 anos, a paisagista Luciana Almeida sentiu na prática o aumento do peso da educação no orçamento das famílias. A me

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A mensalidade da escola em que estudavam subiu cerca de 15% em dois anos e Luciana precisou mudá-los para uma mais barata. “Agora, pagamos R$ 1.000 a menos de cada um”, conta. Segundo o levantamento da Tendências Consultoria Integrada, a participação dos gastos com educação nas despesas totais das famílias passou de 4,59% no início de 2015 para 4,82% neste ano.

Além trocar a escola das crianças, Luciana e o marido também tiveram de mudar alguns hábitos. A família deixou de almoçar e jantar fora todos os fins de semana e passou a cozinhar em casa – restaurantes ficaram para ocasiões especiais. Também trocou as idas ao cinema pelos parques e reduziu os presentes que dava a amigos e familiares. A paisagista ainda parou de ir à manicure e seu marido assumiu o cargo de síndico do condomínio para não pagar a mensalidade e reduzir os gastos com habitação.

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O aumento do preço da gasolina foi outro item que pesou no orçamento da família de Luciana nos últimos anos. A paisagista faz, desde 1999, um controle completo da renda e das despesas da casa e, de acordo com sua planilha, os gastos com combustível, seguro de dois carros e IPVA avançaram quase 25% desde 2015.

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Diante dessa alta, Luciana e o marido optaram por vender um dos carros. O marido passou a usar transporte público e Uber em emergências. “Estávamos acostumados a um patamar de vida e o perdemos. O que a gente ganha não acompanha o preço das coisas”, afirma a paisagista.

Melhora desigual

A queda da renda disponível, depois de descontados os itens essenciais, ocorre num momento de inflação comportada e uma lenta retomada da massa salarial. “Mas o que percebemos é que essa melhora não tem sido linear”, afirma o economista da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio), Guilherme Almeida. Ele destaca que o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) mostra que, para as famílias com renda de até dez salários mínimos, a situação é pior do que para quem tem um rendimento maior. “Nesses casos, ainda há dificuldade de aumento de consumo.”

O professor do Insper, Fernando Ribeiro Leite, explica que isso é reflexo do endividamento do brasileiro durante os anos de bonança. Ele observa que, depois de descontados os itens essenciais, a renda disponível do brasileiro é usada para pagar as dívidas. Até janeiro, o nível de endividamento das famílias estava em 41,1%, segundo dados do Banco Central. “O País tem uma baixa poupança uma vez que as famílias alocam um porcentual maior da renda para a desalavancagem (redução da dívida). Isso reduz ainda mais a renda para consumo.”

Outro dado que reforça essa tese é que o crescimento da massa salarial no primeiro trimestre deste ano foi puxado pelo aumento do número de pessoas que entrou no mercado de trabalho, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja, uma das principais prioridades desses trabalhadores que arrumam emprego depois de passar um tempo desempregados é pagar as dívidas em atraso e não consumir.

Inflação

A professora do Ibmec/SP, Rina Pereira, alerta ainda que, apesar de a inflação estar comportada, é preciso tomar cuidado com alguns itens que têm subido bastante, o que pode achatar mais o orçamento dos brasileiros. Além da gasolina e da energia, o valor dos aluguéis voltou a aumentar em março. Pelos dados da Tendências, a participação dessa despesas subiu de 7,19% para 7,4% entre 2015 e agora.

“Na média, o brasileiro voltou a consumir alguns produtos que tinha deixado de lado durante a crise. Mas o consumo poderia estar maior.” Além do aumento do peso de alguns itens essenciais, diz ela, o número de brasileiros que desistiu de procurar emprego subiu. No total, são cerca de 4 milhões de pessoas que estão incluídas no grupo de desalentados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.