A forte pressão do mercado financeiro para que a taxa Selic suba em março ou abril a fim de conter o risco de alta na inflação por um suposto excesso de demanda tem incomodado o Palácio do Planalto. Uma importante fonte palaciana avaliou que no mercado “tem muita gente torcendo” e alimentando as expectativas de alta na Selic para poder “ganhar dinheiro”.
Para esse integrante do governo, o BC ainda não deu indicações claras de uma alta iminente dos juros como o mercado faz crer, atuando como se fizesse “campanha” para os juros subirem. Pelo contrário, a avaliação no Palácio é que o BC mostra uma preocupação natural com o futuro da inflação, o que é seu papel, mas em nenhum momento disse que ela está saindo de controle nem sinalizou que enxerga um risco alto de isso acontecer.
“Pelo mercado, os juros sobem toda a semana. Se se fizer o que o mercado quer, estamos fritos. Tem gente que parece que fica torcendo para a inflação subir. Quem faz a política monetária é o Banco Central, é o governo, e não o mercado”, disse a fonte. A leitura feita tanto no Palácio como no Ministério da Fazenda é de que uma subida da Selic não pode ser dada como “favas contadas”. É preciso esperar a evolução da economia e ver se a demanda de fato vai crescer a um ritmo que a oferta de bens não conseguiria acompanhar.
“Tem de deixar a coisa um pouco acontecer”, disse uma fonte, lembrando que, antes dos juros, o governo pode lançar mão de outros instrumentos de restrição monetária, como a retomada de níveis mais elevados de depósitos compulsórios – dinheiro que os bancos têm de deixar no BC -, que foram reduzidos durante a crise. Somam-se a isso o desarme das medidas de desoneração fiscal neste ano, que ajudam a conter a demanda. Fontes do governo também lembram que é natural que, ao retomar o crescimento após a crise, a economia esteja mais acelerada, mas a tendência é de um arrefecimento desse ímpeto mais à frente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.