São Paulo – Depois de duas semanas de muito bom humor, o mercado brasileiro teve ontem um dia negativo, refletindo o mal-estar causado pela entrevista do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, distribuída ontem pela Agência Estado, indicando que o Judiciário poderá bloquear uma reforma mais ampla e profunda da Previdência. O dólar fechou em alta de 2,06%, cotado a R$ 3,327, o risco país subiu 2,27%, para 1.263 pontos, e a Bolsa caiu 1,67%.
O otimismo do mercado nas últimas semanas se deveu em boa parte à expectativa de que o PT faria uma reforma da Previdência até mais ampla e mais ousada do que a proposta pelo governo Fernando Henrique Cardoso, como afirmou o economista Fábio Akira, do banco JP Morgan. As declarações de Marco Aurélio no entanto, mostraram que a aprovação da reforma, tida como a mais importante pelos investidores, não será uma batalha fácil.
Essa percepção levou os investidores a comprar dólares e a se desfazer de ações e títulos da dívida brasileiros. Na terça-feira, a notícia de que os militares continuarão a ter direito a aposentadoria especial já havia desagradado a parte do mercado, mas ficou em segundo plano por causa do anúncio das captações da Vale do Rio Doce e da Companhia Siderúrgica Tubarão (CST) no exterior, totalizando US$ 339 milhões.
“A entrevista de Marco Aurélio foi negativa, mas não acho que ela seja suficiente para fazer o mercado desabar e reverter totalmente as expectativas em relação à reforma da Previdência. As declarações também foram uma boa justificativa para o mercado embolsar os elevados ganhos recentes”, ressaltou Akira.