São Paulo – “É prematuro declarar vitória contra inflação.” A afirmação foi feita ontem pelo presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, durante visita ao Grupo Estado, em São Paulo. Meirelles comparou o combate à inflação a uma partida de futebol. “Muitas vezes estamos perto do final de um jogo de futebol, há um pênalti para ser batido e o jogo está empatado. Evidentemente, isso configura uma possibilidade grande de vitória, mas o pênalti tem de ser batido corretamente, eficazmente e com categoria porque a vitória comemorada antes de sua batida pode levar, inclusive, o chute para fora”, afirmou o presidente.
De acordo com ele, não há dúvidas de que a política monetária está mostrando seus efeitos. “A política monetária funciona no Brasil, mas é importante que nós complementemos o trabalho de forma gradual para que a inércia inflacionária possa ser solidamente reduzida e a inflação se consolide num patamar convergido para as metas. Assim, a economia poderá crescer em seu potencial”, disse.
A atividade econômica atual é fruto da estrutura das taxas de juros de médio prazo do início do ano, na avaliação do presidente do BC. “É importante notar que a atividade econômica no Brasil hoje está sendo determinada pelas estruturas de taxas de juros de médio prazo, que se aproximavam de 33%, mesmo quando a Selic estava em torno de 26% ao ano, e isso condicionou a atividade econômica de agora”, explicou.
De acordo com ele, não serão mudanças bruscas na Selic agora que teriam efeitos imediatos na atividade econômica. “Estas taxas de juros de médio prazo, que estão um pouco acima de 21%, estão já condicionando a retomada da atividade econômica para o final do ano. Isto é, as condições já estão dadas”, disse.
Meirelles afirmou ainda que estudos realizados em vários países e também no Brasil mostram que uma trajetória gradual da redução dos juros básicos tem um efeito mais duradouro e mais importante do que movimentações bruscas. “Estas movimentações podem gerar, inclusive, incertezas no mercado e mais volatilidade.”
O presidente do BC defendeu que é preciso manter a linha cadente da taxa de juros da economia de médio prazo. “Isto já está determinando as condições para a retomada da atividade no final do ano e até podemos ter um crescimento gradual, porém sustentado, evitando essa linha de arrancada e parada que o Brasil vem vivendo nas últimas décadas”, afirmou.
Compulsório
Meirelles disse esperar que migrem para o crédito os recursos obtidos pelos bancos com o anúncio da medida do Banco Central de redução da alíquota do compulsório de 60% para 45% sobre os depósitos à vista. A medida foi anunciada pela instituição na sexta-feira.
“Espera-se que os recursos do compulsório sejam encaminhados para o crédito, na medida em que isso vai permitir, como já está permitindo, uma queda gradual das taxas de juros, o que, em tese, deve levar também a uma demanda gradual por crédito, não só para pessoa física, mas também para pessoa jurídica”, afirmou Meirelles.