Brasília – Para o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Clayton Campanhola, a soja transgênica, cujo plantio foi liberado pelo governo, é um “tremendo abacaxi”. Campanhola, que dirige o órgão responsável pelos estudos envolvendo alimentos geneticamente modificados, admite que não há qualquer pesquisa no Brasil garantindo que o produto não faça mal à saúde. E chega a dizer que evitará comer alimentos transgênicos.
“Soja transgênica é um assunto que peguei em andamento. É um tremendo de um abacaxi que foi herdado para ser resolvido”, disse ele, num encontro com líderes de movimentos sociais que são contra a liberação dos transgênicos, na quarta-feira, na sede da Embrapa. A conversa foi gravada e filmada pelo grupo, que preparara um questionário para Campanhola. A reportagem de O Globo teve acesso às fitas
Entre confissões e desabafos, o presidente da Embrapa defendeu o princípio da precaução e criticou os pesquisadores da entidade que dão declarações sobre transgênicos sem apresentar provas. Perguntado pelos manifestantes se a Embrapa garante, com base em pesquisas, que a soja transgênica não oferece risco à saúde, Campanhola não titubeou:
“Não. Não temos, na verdade, garantia alguma. Garantia é uma coisa muito séria. O que acontece em relação à soja transgênica é que virou um fato consumado. O pessoal estava plantando a soja. Quando todo mundo quer, fica difícil essa guerra. Tem muita coisa que a Embrapa ainda tem de esclarecer. Não temos o risco à saúde medido”, disse.
Ele afirmou que a pesquisa com soja transgênica anda a passo de tartaruga e revelou que somente em três anos o país teria condições de liberar a soja transgênica com os estudos de impacto realizados. “Tem muita gente falando sem saber. Eu sempre disse que falta informação. Precisamos investir mais em pesquisa no caso da soja. Não temos competência na esfera mais ampla, de interesses econômicos. Fico numa situação que não é fácil “, afirmou.
Cobrança
A Embrapa é subordinada ao Ministério da Agricultura. O ministro da pasta, Roberto Rodrigues, é o principal defensor dos transgênicos no governo.
Perguntado sobre o comportamento de pesquisadores da Embrapa que têm declarado que a soja transgênica não faz mal, Campanhola criticou os colegas dizendo que deveriam comprovar o que dizem.
“Não posso jamais punir um pesquisador, como se fez na administração passada, porque ele manifestou uma posição divergente, contrária a da Embrapa. Mas, se falou como pesquisador, tem que mostrar o resultado, tem que mostrar de onde vem a informação”, disse. Para ele, enquanto não há estudo conclusivo nem informação concreta sobre os efeitos da soja transgênica, qualquer declaração fomenta e aumenta as dúvidas da opinião pública. Campanhola lamentou que os produtores do Rio Grande do Sul estejam plantando soja transgênica há alguns anos e acusou o governo anterior de ter permitido a plantação das sementes.
Para mostrar que se preocupa com estudos de impacto ambiental e o efeito dos transgênicos sobre a saúde, Campanhola citou o seu passado para os manifestantes: “Venho da área do meio ambiente. Trabalhei com isso. Não há necessidade de me sensibilizar para isso. Tenho a maior preocupação com os transgênicos, principalmente com a saúde”. O presidente da Embrapa confirmou que não há estudo no Brasil que garanta que a soja transgênica não faz mal à saúde. Ele ressaltou que em pesquisa agropecuária é difícil garantir o risco zero.
Investimento em culturas
Brasília
(Agência Brasil -ABr) – Duas opções de cultivo disponibilizadas recentemente para a região dos Cerrados, a quinoa e o amaranto, serão tema de um encontro entre agricultores e empresários do setor de alimentação no Distrito Federal no próximo sábado (11), na sede da fazenda Dom Bosco, das 9h às 12h.A quinoa e o amaranto, duas plantas que tiveram sua primeira safra comercial no DF em 2002, têm grãos de alto valor nutricional e baixo valor calórico. O interesse por produtos à base de grãos ou folhas de quinoa e amaranto, conhecidos das Américas ao continente indiano, vem crescendo no mundo inteiro. No entanto, enquanto restaurantes criam pratos alternativos e saborosos à base dessas matérias-primas, sua oferta ao consumidor no Brasil ainda é tímida. O amaranto é utilizado em cereais, farinhas, massas e biscoitos isentos de glúten, o que o torna atrativo também para a indústria.
O pesquisador da Embrapa Cerrados Carlos Spehar, coordenador da pesquisa que desenvolveu as cultivares BRS Piaburu, de quinoa, e BRS Alegria, de amaranto, explica que o objetivo do encontro é promover o mercado desses produtos.
A sede da Fazenda Dom Bosco fica na BR 251, km 30, após a Coopa-DF, no sentido de Unaí, à direita.