Um novo reajuste de preço do álcool combustível e da gasolina – em escala menor – pode estar a caminho. A Petrobras informou que haverá aumento de preços, mas não quis precisar o quanto e nem quando. O motivo é o excesso de chuva, que provocou prejuízo na safra de cana-de-açúcar paulista e levou os produtores de álcool a aumentarem o preço médio de venda às distribuidoras em 11%.
A Petrobras anunciou que não tem responsabilidade pelo aumento de preços nas usinas e que as distribuidoras são obrigadas a fazer o repasse do reajuste para o consumidor, porque, assim como outras empresas, terá que comprar álcool mais caro dos produtores. O reajuste do preço do álcool trará impacto também no litro da gasolina, já que o combustível possui 25% de álcool misturado à sua composição.
No Paraná, o superintendente da Associação dos Produtores de Álcool e Açúcar (Alcopar), Adriano da Silva Dias, acredita que a variação de preço se deve ao mercado em si e não ao excesso de chuva. “A chuva não tem nada a ver. No ano passado, quando o preço caiu de R$ 1,00 para R$ 0,30, o motivo foi a falta de chuva ou excesso?”, questionou o superintendente em tom de ironia. “O preço está simplesmente voltando ao preço que era no passado, há um ou dois anos.” Até agora, segundo Dias, cerca de 8,9 milhões de toneladas de cana-de-açúcar já foram colhidas no Estado. A safra prevista para este ano é de 28 milhões de toneladas.
Aumento de 11%
Pesquisa semanal de preços feita pela Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP) divulgou que o aumento médio do álcool combustível no Estado de São Paulo foi de 11% esta semana em relação à semana anterior. O aumento de R$ 0,55 para R$ 0,65 na média de preços aconteceu em função da oferta e da demanda de mercado, segundo a União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica).
O diretor da Unica, Antônio Pádua Rodrigues, afirmou que os produtores tiveram que aumentar o preço do álcool porque as chuvas no Estado de São Paulo diminuíram a produção em um bilhão de litros de álcool, correspondente ao mercado de um mês de produção. “A produção foi inferior ao que o mercado esperava devido às condições climáticas. Quando chove não há como colher nem produzir a cana-de-açúcar, temos que parar. Deixamos de produzir 15 milhões de toneladas de cana de abril na primeira quinzena de junho e reduzimos a moagem de cana em 12% em relação ao mesmo período do ano passado”, disse o empresário.
Segundo Pádua, o aumento de preços no Estado de São Paulo pode refletir nos outros estados da região Centro-Sul. Ao todo são 230 produtores na região, responsáveis por mais de 80% da produção nacional. “Para baixar o preço do álcool, o produtor teria que ter um incremento forte de oferta para recuperar o tempo perdido, o que não acontecerá tão rápido. É mais provável que o preço fique estável após esse reajuste”, avalia Pádua.
Curitiba
Em Curitiba, os consumidores assistiram na semana passada à alta de preços. Postos que antes vendiam a gasolina a R$ 1,89 o litro aumentaram para R$ 2,09. O motivo alegado pelo Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Paraná (Sindicombustíveis-PR) foi a alta do álcool anidro e hidratado por parte das usinas. Segundo o presidente do sindicato, Roberto Fregonese, houve aumento de R$ 0,20 às distribuidoras. O superintendente da Alcopar, Adriano Dias, negou a alta nesses patamares. Em Curitiba, o litro do álcool é vendido nos postos a R$ 1,09, e a gasolina, a R$ 2,09, em média.
Para Roberto Fregonese, do Sindicombustíveis-PR, o combustível em Curitiba deverá subir mesmo com o reajuste na semana passada. “A tendência atual é de alta. Na semana passada, já começamos a sentir a variação do preço do álcool anidro e hidratado. A Petrobras está atrasada em pelo menos dez dias”, afirmou Fregonese. Segundo ele, o metro cúbico do álcool anidro – que compõe a gasolina – passou de R$ 640,00 a R$ 810,00 nos últimos dias. “Outro agravante é a disparada do barril do petróleo no mercado internacional”, acrescentou.
Álcool combustível já aumentou 74%
Depois de iniciar 2004 vislumbrando uma tendência de queda dos preços do álcool combustível, o setor sucroalcooleiro tem desfrutado um aumento de rentabilidade graças a uma recuperação sustentada das cotações do produto, observada desde março. Segundo Fábio Silveira, sócio-diretor da consultoria MSConsult, o preço do litro do álcool anidro, que havia caído para R$ 0,39 em março – o nível mais baixo desde outubro de 1999 -, chegou neste mês a R$ 0,68, consolidando alta de 74%.
“O que está contribuindo para essa alta é um atrelamento dos preços do álcool combustível aos preços internacionais do açúcar, que dispararam depois de informações da quebra da produção da Índia”, diagnosticou Silveira. Influi também para a alta uma recuperação do nível de consumo de combustíveis no País observada justamente a partir de março.
Os preços do álcool combustível começaram 2004 em queda, com a perspectiva de uma grande produção mundial de açúcar. Segundo levantamento da MSConsult, o consumo nacional de combustíveis e lubrificantes vinha repetindo, nos primeiros dias do ano, uma queda que foi observada ao longo de todo o ano anterior. “Ao longo de 2003, houve uma redução de 4,13% no consumo de combustíveis e lubrificantes”, disse Silveira. “Em agosto do ano passado, houve uma retração de 8%, em comparação ao mesmo mês do ano anterior.” A partir de março deste ano, contudo, iniciou-se um processo de recuperação do nível de consumo, para o qual contribuiu a manutenção, por um longo período, dos preços da gasolina. Em abril, por exemplo, houve um aumento de 9,23% do consumo em comparação ao mesmo mês de 2003, segundo a MSConsult.
Silveira prevê que os preços do álcool combustível tendem a continuar em alta, ainda sobre a influência do movimento dos preços internacionais do açúcar. O consultor considera que o nível de R$ 0,68 “não está muito longe da média de preços registrada no ano passado”. Silveira lembra que os preços do álcool anidro haviam atingido, no início de 2003, a marca de R$ 1,00 o litro – o que motivou uma reunião, convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com os usineiros. Depois desse pico, os preços oscilaram, entre meados do ano até dezembro, de R$ 0,60 a pouco mais de R$ 0,70 o litro. (AE)
Yukos e temor de escassez elevam petróleo
A interdição judicial sobre a produção da gigante russa do petróleo, Yukos, e o temor de escassez do produto, à medida que cresce o consumo mundial, levaram o barril do petróleo tipo cru leve a atingir US$ 43,05 na jornada de ontem, maior preço já registrado desde que o barril começou a ser negociado em Nova York. Em Londres, o barril do tipo Brent também subiu, atingindo US$ 39,60, a maior cotação desde outubro de 1990, quando fechou cotado a US$ 40,95.
O recorde anterior do barril do cru era de US$ 42,45, atingido durante a jornada de 1.º de junho, às vésperas do aumento da cota de produção dos países membros, de 23,5 milhões de barris por dia para 25,5 milhões.
Em Nova York, o barril do cru para entrega em setembro fechou cotado a US$ 42,90. Em Londres, o barril do tipo Brent fechou a US$ 39,53. “O que ocasionou as altas de hoje (ontem) foi o caso Yukos, que causa incerteza sobre eventuais perturbações na produção”, disse o analista do banco Barclays, Kevin Norrish. A partir de 1.º de agosto, a Opep deverá aumentar novamente a cota, em 500 mil barris diários, na esperança de conter as altas de preços.
A Yukos anunciou ontem que a extração e venda de sua produção (de 1,7 milhão de barris por dia) poderá ser interrompida nos próximos dias. Três unidades de produção da Yukos receberam ordem judicial “proibindo toda operação que afete o atual estado dos bens da empresa”, segundo carta enviada pela Yukos ao ministro da Justiça russo, Yuri Shaika, informou a agência de notícias Interfax.
“A partir deste momento, estas (unidades) estão obrigadas a interromper a extração e entrega do produto (…) (A ordem judicial) proíbe vender seus bens, portanto, também de entregar sua produção”, diz a carta.
A EIA (Energy Information Administration, agência reguladora do Departamento de Energia dos EUA) informou que os estoques de petróleo nos Estados Unidos aumentaram em 1,2 milhão de barris, totalizando 300,5 milhões de barris na semana encerrada em 23 de julho. Os estoques de gasolina recuaram em 700 mil, para 207,7 milhões de barris.