O Federal Reserve (Fed, o BC americano) anunciou ontem a sétima elevação consecutiva da taxa básica de juros dos Estados Unidos. O juro subiu 0,25 ponto percentual, para 2,75% ao ano. O banco também tranqüilizou os investidores ao afirmar que vai prosseguir com sua abordagem ?moderada? no ajuste dos juros. Essa abordagem vem sendo adotada desde junho do ano passado ao aumentar a taxa em 0,25 ponto percentual por reunião.
No mês passado, o presidente do Fed, Alan Greenspan, havia dito em seu testemunho ao Congresso que a taxa de juros do banco continuaria a subir de modo gradual nos próximos meses, uma vez que a economia americana vem se expandindo e que a inflação está sob controle. Ele acrescentou, no entanto, que o ritmo da inflação daria o tom dos ajustes.
O banco, no entanto, não julgou suficientes para elevar seus juros, os últimos dados sobre inflação, que mostram avanço dos preços. O núcleo da inflação no atacado (que exclui os preços de alimentos e energia) subiu 0,8% em janeiro, maior aumento desde dezembro de 1998 – superando em muito a expectativa de alta de apenas 0,2%. Em fevereiro, a alta foi de 0,4%, com 0,1% de aumento no núcleo.
As previsões para a inflação nos próximos meses são pessimistas. Quando os preços no país começarem a refletir a atual onda de aumento de preços do petróleo, a expectativa é de que a inflação registre novas altas. O barril do petróleo já está acima dos US$ 57, sem queda no horizonte.
Como o consumo de petróleo durante a primavera costuma ser menor que no inverno e no verão, devido ao menor consumo de combustível e de destilados, o impacto para o consumidor pode ser atenuado.
?Moderado?
A alta de ontem mostrou que a inflação passou a ocupar mais o centro do palco das preocupações do Banco Central americano. Para amanhã é esperada a divulgação da inflação ao consumidor de fevereiro, que deve apresentar uma alta de 0,4% no resultado geral e de 0,2% em seu núcleo, segundo analistas.
Mesmo que na próxima reunião (marcada para 3 de maio) o banco continue a adotar um aumento de 0,25 ponto percentual, o termo ?moderado? deve sair do vocabulário do Fed nas próximas reuniões.
Em junho do ano passado, quando a atual tendência de alta dos juros começou, a taxa do banco estava em 1% ao ano, a mais baixa desde 1958. A perspectiva dos economistas é que os juros fiquem entre 3% e 5% até o fim do ano, nível considerado neutro pelos analistas -contém a inflação e não prejudica a atividade econômica.
Emprego
No mercado de trabalho, o desempenho da economia americana no mês passado foi saudável. Foram criados 262 mil postos de trabalho, maior número em quatro meses. Mesmo com a ligeira alta do desemprego – que voltou ao patamar de 5,4%, depois de ter registrado 5,2% em janeiro – o número de empregos gerou otimismo quanto à economia do país.
Dados otimistas sobre a economia geram, no entanto, apreensão no Fed. Os novos empregos, por exemplo, não foram acompanhados por um aumento de produtividade, que, no ano passado, registrou alta de 4,1%, menor desde 2001, segundo o Departamento do Trabalho dos EUA.
A queda na produtividade elevou os custos por trabalhador em 2,3% em 2004, o que representa um risco inflacionário. Menos produtividade leva as empresas a contratarem mais empregados, o que afeta as margens de lucros. Para manter as mesmas margens, os custos dos novos empregados acabam tendo que ser repassados para os preços aos consumidores.
Países emergentes sofrem mais
Com rendimento maior, os títulos do governo norte-americano – considerados as aplicações financeiras mais seguras do mundo, com risco próximo de zero – atraem investimentos que, em tese, se sujeitariam a riscos maiores, como ações, dívidas públicas e privadas e o câmbio de moedas.
Na prática, o aumento dos juros nos EUA motiva uma completa realocação dos investimentos a partir de novas percepções de risco. Assim: como o investimento de risco zero paga um juro maior, quem aceitava correr um pequeno risco para ter um rendimento um pouquinho melhor perde essa necessidade – pois pode ter o mesmo ganho sem risco algum.
O mesmo acontece para os investidores mais arrojados que se submetiam a um risco maior ainda para ganhar bem mais. Com o aumento dos juros pagos, esse investidor não precisa correr tamanho risco para ganhar a mesma coisa.
O mercado considera como de alto risco papéis de países emergentes – como o Brasil -, além de títulos de empresas em dificuldades financeiras. É por isso que o aumento nos juros norte-americanos quase sempre coincidem com o retorno de dinheiro aos EUA, valorização internacional do dólar e melhor financiamento do déficit das contas externas americanas.
Esses movimentos são ainda acompanhados pela diminuição dos investimentos em países emergentes e pelo fim do dinheiro barato disponível para esses países.