Os detalhes das metas econômicas estabelecidas pelo Partido Comunista da China (PCC) durante o Congresso Nacional do Povo, que acontece desde o final de semana, mostram que as autoridades locais estão preocupadas mais com os efeitos políticos dessas medidas do que com a questão econômica em si.
Na abertura do evento, o primeiro-ministro Li Keqiang anunciou que o país vai perseguir um crescimento de entre 6,5% e 7,0% nos próximos cinco anos, uma meta ambiciosa dada a desaceleração econômica dos últimos anos.
Mais do que economicamente crível, o anúncio parece querer mandar uma mensagem de confiança ao relembrar outro bordão econômico dos dirigentes chineses: o de dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) chinês entre 2010 e 2020, criando um poderoso motivo para a celebração do centenário do PCC, em 2021.
Essa troca é surpreendente em um país onde os dirigentes eram conhecidos até então por perseguir metas econômicas com feroz pragmatismo. Nos anos 1990, Zhu Rongji, o então primeiro-ministro chinês, impressionou o mundo ao conduzir uma reforma avassaladora das empresas estatais que eliminou 30 milhões de postos de trabalho. Os problemas a ser combatidos eram: enorme excesso de capacidade produtiva, grande crescimento da dívida corporativa, lucros decrescentes e declínio dos preços nas fábricas.
Essa também é a tarefa de Li Keqiang, o atual primeiro-ministro. No entanto, o atual mandatário chinês parece relutante em assumir tamanha tarefa. No mesmo discurso, as medidas anunciadas para conter o crescimento do crédito e reduzir o excesso de capacidade ficaram bastante aquém do que muitos analistas julgavam ser o necessário para garantir um crescimento econômico saudável. Ao comentar sobre os calotes das empresas, que estão subindo no país, Li disse apenas que elas seriam gerenciadas de forma “proativa porém prudente”.
O balanço do discurso de Li sugere que o governo pretende impulsionar o crescimento econômico no curto prazo, mesmo que isto venha às custas das reformas e da redução do endividamento do país.
É verdade que o ambiente na China mudou muito desde a década de 1990 quando Zhu comandava a economia com mão de ferro. Naquele momento, as empresas estatais eram pequenas e financeiramente frágeis. Hoje, elas estão anabolizadas por grandes volumes de empréstimo bancário e também desenvolveram influência política, o que torna mais difícil seu enquadramento.
Ainda assim, o fato de que os líderes chineses adotaram uma atitude de procrastinação revela uma insegurança por parte da elite política local. E muitos trabalhos acadêmicos no Ocidente sugerem que, quando toda a ratiSão Paulo, 09/03/2016 – onale dos sistemas autoritários se foca em se manter no poder, ao invés de dar espaço a mudanças, esse é o começo do fim para o establishment. Fonte: Dow Jones Newswires.