Preocupado com a nova disparada do dólar hoje, o presidente Fernando Henrique Cardoso convocou a equipe econômica para uma reunião no Palácio da Alvorada, no final da manhã desta quarta-feira, seguida de almoço. O objetivo foi fazer uma avaliação do mercado e de indicadores econômicos como alta da moeda norte-americana, o crescimento do risco Brasil e a elevação da taxa da inflação.
O governo queria discutir a estratégia de atuação nesta fase, que a equipe econômica acredita que poderá se estender durante todo o segundo turno. A avaliação é que não se ouvirá do candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, novas declarações para acalmar o mercado, como ocorreu na primeira fase da disputa eleitoral. Para o Palácio do Planalto, a nova inquietação no mercado foi provocada por declarações feitas por Lula que foram consideradas dúbias.
A que causou maior preocupação à equipe econômica e que pode ter sido responsável pela deflagração da inquietação do mercado, na avaliação das autoridades, foi a que tem referências ao documento de Olinda. Este documento, lembram esses auxiliares pregava a ruptura com o atual sistema econômico e teria sido deixado de lado, quando a cúpula do PT apresentou em meados desse ano a Carta aos Brasileiros, considerada amena e tranquilizadora para o mercado financeiro. A nova referência, nesta fase da disputa, deixou dúvidas sobre qual dos dois discursos deve ser levado em conta numa administração de Lula.
O governo entende que é a hora de Lula e sua equipe voltarem a dar declarações tranquilizadoras ao mercado. Mas não há a menor chance de os governistas, mesmo que por emissários, fazerem qualquer tipo de apelo do gênero à cúpula petista.
Também está descartada a possibilidade de ocorrer uma nova conversa formal entre o presidente e os candidatos, como a que se seguiu ao fechamento do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). ?Agora é governo contra oposição. É a calmaria contra a incerteza?, comentou um auxiliar do Palácio.
Ainda assim, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, designado por Fernando Henrique para dar todas as explicações públicas possíveis e tentar reverter a subida do dólar, disse em entrevista coletiva hoje que caberia a oposição reafirmar suas posições ditas durante o primeiro turno. Mas o governo sabe que isso será difícil de acontecer porque Lula já afirmou, ontem, que cabe a atual equipe econômica tomar medidas para conter as especulações.
No almoço-reunião de hoje com Fernando Henrique estavam presentes os ministros da Fazenda, Pedro Malan, do Planejamento, Guilherme Dias, do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, da Secretaria-Geral da Presidência, Euclides Scalco e o presidente do Banco Central. Mesmo depois de ter dado as diretrizes para a equipe econômica, Fernando Henrique continuou em contato com esses auxiliares, acompanhando as medidas que estavam sendo tomadas.
Ele estava muito preocupado com o fato de o dólar ter atingido quase a marca de R$ 3,90 e o risco psicológico de a moeda superar a barreira dos R$ 4. O governo achava que isso tem de ser evitado.