O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, falou hoje à agência de notícias Xinhua sobre as expectativas crescentes de inflação, reconhecendo que Pequim pode estar pagando um preço alto pela sua resposta agressiva à crise financeira.
Wen, no entanto, rejeitou as críticas estrangeiras à política cambial chinesa, afirmando que a estabilidade do yuan ajuda a economia global e que a China não vai se curvar às pressões para deixar que o yuan se aprecie. “Manter o valor do yuan praticamente estável é nossa contribuição para a comunidade internacional numa época em que as principais moedas do mundo têm se desvalorizado”, disse Wen.
Os economistas preveem um aperto das condições do crédito na China, mas até o momento o governo do país fez pouco para reverter as políticas que tiveram como objetivo estimular o crescimento por meio do crédito bancário e do gasto governamental. O governo apenas sinaliza que os excessos não serão tolerados, um ponto reforçado por Wen.
O primeiro-ministro afirmou que os preços dos imóveis estão subindo “rápido demais” em algumas cidades, uma situação que exige “grande atenção” do governo. Ele disse que o combate a esses preços altos inclui um possível ajuste na taxa de juros e reconheceu que o excesso de crédito bancário no início deste ano pode ter custos econômicos.
Inflação
Wen não especificou como Pequim pretende reduzir as expectativas de inflação, que, segundo ele, estão refletidas nos preços globais mais elevados das commodities e na expansão da oferta de dinheiro no país. Mas ele deixou a porta aberta para ajustes “de acordo com mudanças na situação”. “A China não enfrenta o problema da inflação agora”, disse Wen. “Mas devemos prever essa possibilidade e manter os preços ao consumidor numa faixa razoável.”
Os comentários de Wen não representam uma mudança de posição pelo governo chinês, mas deverão atrair atenção porque os líderes chineses raramente concedem entrevistas, mesmo a órgãos oficiais, como a Xinhua.
Suas palavras não deverão diminuir a especulação de que Pequim deverá deixar que o yuan se aprecie no ano que vem, tendo em vista o impulso das exportações chinesas. Wen não descartou explicitamente a apreciação, tendo dito apenas que uma mudança como essa não vai ocorrer por pressão internacional.
O premiê parece ter reconhecido que a resposta dada pelo governo do país à crise foi forte demais em algumas áreas, em particular no crédito bancário. “Teremos de pagar algum preço e enfrentar uma dificuldade inesperada em lidar com uma crise tão grande”, disse ele. “Seria bom se nosso crédito bancário fosse mais equilibrado, mais bem estruturado e em menor escala”, disse Wen, acrescentando que a situação melhorou no segundo semestre deste ano.