O ?pacote? de medidas anunciado pelo Ministério da Agricultura, em abril, parece não ter sequer amenizado a situação. As manifestações de desespero dos produtores rurais continuam em todo o País. No Paraná, esta semana o movimento começou forte, principalmente na região norte. A medida desta vez é drástica. Não tendo preço, agricultores de Maringá e municípios vizinhos tentam impedir que o produto deixe a região. Segundo os manifestantes, os produtores paranaenses estão articulados em solidariedade aos ?irmãos matogrossenses?, que também protestam.
Com tratores, os produtores rurais se articularam e, em esquema de revezamento, ontem bloquearam vários pontos, entre empresas multinacionais de grãos e cooperativas, em toda região. Trechos da linha férrea da América Latina Logística (ALL) também foram bloqueados. Em Marialva, no início da tarde, 50 tratores impediam a passagem da carga. Em Maringá, em um ponto mais polêmico da manifestação, mais de 200 agricultores bloqueavam, desde domingo, o trecho da ALL da Rua Paranavaí, acesso ao parque industrial. O outro trecho da ferrovia foi bloqueado pelos manifestantes, também no início da tarde de ontem, na região central de Maringá.
Em nota, a empresa informou que, para evitar prejuízos, os carregamentos foram redirecionados para Londrina e oeste do Estado. A ALL ainda informou que no trecho paralisado são movimentadas, diariamente, 80 mil toneladas de grãos. Como ainda trazia a nota, já pela manhã a ALL entrou com pedido judicial de reintegração de posse. ?A juíza da segunda vara cível, Lieje Aparecida de Souza Bonetti, deferiu, em liminar, ordem para que os agricultores desobstruam a passagem. A juíza determinou, inclusive, o uso de força policial caso necessário. A empresa vai responsabilizar cível e criminalmente todas as pessoas envolvidas.?
No entanto, como afirmou o produtor rural de Mandaguaçu, Juliano Fracasso, o oficial de justiça e a polícia chegaram ao local, no início da tarde, mas, em acordo com a ALL, os manifestantes iriam deixar o local, pacificamente, somente após as 17h de ontem. Porém, eles garantem que o movimento ia continuar. ?Os bloqueios vão continuar por tempo indeterminado. Quase todas as cooperativas da região estão sendo fechadas. Aqui (Maringá), estamos na Cocamar e em outros pontos além da linha férrea. O setor está parado?, afirma o produtor. Segundo ele, a manifestação é contra a política cambial do governo. ?Há mais de três anos estamos comprando insumos caros e vendendo produto barato. Com isso, nossa conta está impagável. Só a minha dívida está em meio milhão de reais. Aqui na região, nenhum produtor deve menos de R$100 mil?, lamenta o agricultor.
O presidente do Sindicato Rural de Maringá, José Antônio Borghi, informou que o entidade oferece apoio logístico e jurídico aos produtores. ?Praticamente todos os agricultores da região estão envolvidos nesse movimento. São vários pontos fechados e eles se revezam. Se, por ordem judicial, forem obrigados a desfazer algum bloqueio, eles montam outro. Assim ficam por tempo indeterminado. O objetivo é evitar que o produto saia da região, em função do preço baixo?, explica Borghi.
Ainda segundo ele, as medidas do governo para a agricultura, anunciadas no início de abril, não foram efetivas. ?A situação dos produtores continua caótica. O governo não cumpre a legislação em relação ao preço mínimo, nem em relação a seguro agrícola e ainda não tem recurso para a agricultura?, reclama. Borghi diz que sem ?o alongamento das dívidas?, para um prazo acima de dez anos, dando tempo ao produtor de se restabelecer, nada resolverá. ?O agricultor só tem perdido renda por conta da política cambial. O setor produtivo de alimentação está asfixiado?, lamenta o presidente do Sindicato Rural de Maringá.
O movimento de produtores rurais começou no Mato Grosso, já no final de semana, quando os manifestantes fecharam algumas rodovias federais. No início desta semana, em apoio aos mato-grossenses, foi que Paraná e Goiás intensificaram os protestos.