O prejuízo de R$ 10 bilhões da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) com a atual crise financeira representa uma exceção que não contaminará os demais fundos de pensão, avalia a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Segundo a entidade, o setor está preparado para enfrentar a desvalorização das ações porque, na média, aplica pouco nas bolsas de valores.
Atualmente, a Previ, fundo que complementa as aposentadorias e as pensões dos funcionários do Banco do Brasil, tem 65% do patrimônio investido no mercado de renda variável (ações). A média dos fundos de pensão nacionais, no entanto, não passa de 37,7%, de acordo com a Abrapp. Ao desconsiderar a Previ, a média cai para 20%.
Para o presidente da Abrapp, José de Souza Mendonça, o percentual, na verdade, é ainda menor. Segundo ele, muitos fundos têm ações não por aplicar na bolsa, mas por participar diretamente da administração de empresas. “Como a crise tem se alastrado principalmente nas bolsas, o efeito da turbulência internacional sobre os fundos ainda é limitado até porque os prejuízos com as ações são compensados por outros investimentos”, diz.
Pelos cálculos da associação, no início de janeiro, os fundos de pensão tinham aplicados R$ 160 bilhões em renda variável. Se for levada em consideração a queda acumulada no ano de 20,3% no IBrX-50, um dos índices que compõem a Bolsa de Valores de São Paulo, a perda chega a R$ 32,5 bilhões.
No entanto, o lucro de R$ 25,4 bilhões em rendas fixas e outros ativos – conforme os dados mais recentes divulgados pela entidade – reduzem o prejuízo do setor para algo em torno de R$ 7 bilhões. Como os ganhos com renda fixa até o final de setembro ainda não foram divulgados, as perdas acumuladas, na prática, podem ser mais baixas.
Mesmo respondendo pela maior parte das perdas do setor, a Previ alega que o prejuízo está restrito ao valor de mercado das ações e não será incorporado aos resultados do fundo. “Para a perda ser realizada, seria necessário vender as ações na queda, mas agora a gente tem de mantê-las até recuperarem o valor”, explica o diretor de Investimentos da Previ, Fábio Moser.
O principal impacto da crise sobre a Previ, ressaltou o diretor, não foi a perda de valor das ações, mas o atraso no cumprimento do acordo com o Conselho Monetário Nacional (CMN) que determina a redução, até 2012, da fatia aplicada em renda variável para 50% do patrimônio. “De fato, a estratégia para este ano ficou prejudicada, mas até 2012 dará para recuperar o tempo perdido e continuar a se desfazer das ações”, justifica Moser.
Com 30% dos ativos investidos em ações, a Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) teve prejuízo bem menor. Atualmente, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras tem patrimônio de R$ 39,5 bilhões, contra R$ 40,4 bilhões registrados em maio.
Para o presidente da instituição, Wagner Pinheiro de Oliveira, a crise representa uma oportunidade para a Petros comprar ações baratas, que poderão subir com o fim da instabilidade nos mercados financeiros e resultar em receitas futuras: “A crise pode ser uma chance para gerar lucros interessantes no longo prazo”. Segundo ele, a política de investimentos da Petros permite que o fundo aplique até 40% do patrimônio em ações.