Os alimentos ficaram 7,51% mais caros em Curitiba no mês passado, em comparação com outubro. Foi a maior variação desde janeiro e o maior aumento entre as 16 capitais pesquisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese). ?Os preços dos alimentos aumentaram e vão pressionar a inflação de novembro?, avisou o supervisor técnico do Dieese-PR, Cid Cordeiro.
Segundo o economista, os preços dos alimentos já haviam subido no atacado em setembro e outubro, por conta da entressafra de alguns hortifrutis ou, ainda, devido ao aumento de algumas commodities agrícolas, que refletiram nos preços internos. ?No varejo, a alta leva mais tempo para ser observada?, comentou. Cordeiro acredita que, em novembro, índices que medem a inflação como o IPCA e o INPC devam registrar alta de 1,5% nos preços dos alimentos. ?A diferença é que aqui pesquisamos apenas 13 itens?, disse. Já o levantamento do IBGE (responsável pelos levantamentos dos dois índices) contempla mais de cem produtos diferentes. Apesar da elevação dos preços dos alimentos, Cordeiro acredita que o nível de inflação no ano não será comprometido. ?A expectativa é que o INPC fique abaixo de 3% e o IPCA feche em 3%.?
Reversão
Com o resultado de novembro, a cesta básica em Curitiba – que apresentava deflação de 6,71% no acumulado de janeiro a outubro – reverteu a tendência e agora apresenta aumento de 0,30%. No acumulado dos 12 meses, os alimentos registram alta de 2,82%.
De acordo com o economista do Dieese-PR, o ano de 2006 foi marcado pela volatilidade dos preços dos alimentos em Curitiba. ?O comportamento foi muito oscilante, com variações muito altas – caso de novembro (7,51%) e abril (6,58%) – e muito baixas, como em janeiro (-7,78%)?, apontou.
Em novembro, o aumento da cesta básica ocorreu por conta do tomate (alta de 42,31%), da banana (22,13%) e da batata (7,62%). Com exceção da banana, os outros dois itens estão em período de entressafra, apontou Cordeiro. Também tiveram aumento de preço a farinha de trigo (7,53%), o pão (3,96%), o feijão (3,67%), a carne (2,56%), o óleo de soja (0,98%) e o café (0,95%). A alta do pão, segundo o economista, reflete parte do aumento da farinha de trigo, mas também é resultado da mudança da venda, que era por unidade e agora é por peso. No sentido oposto, ficaram mais baratos o leite (-0,96%), o arroz (-1,32%), o açúcar (-2,58%) e a manteiga (-2,75%).
Com estes resultados, a cesta básica custou em novembro, em Curitiba, R$ 177,45, a sexta mais cara do País. O maior preço foi verificado em Porto Alegre (R$ 192,01) e o menor em Fortaleza (R$ 129,27). Quanto à variação, 15 das 16 capitais pesquisadas pelo Dieese registraram aumento. A maior alta foi verificada em Curitiba (7,51%) e a menor em Fortaleza (0,99%). A única queda foi registrada em João Pessoa (-0,74%).
Previsão
Para dezembro, a expectativa do economista é que os preços dos alimentos continuem subindo. ?A cesta deve fechar o mês com alta de 3%, sem considerar a carne?, apontou. Segundo ele, embora em dezembro aumente a demanda de carne vermelha, o produto já vem num patamar elevado de preço. ?A carne acumula no ano alta de 3,09% e, nos 12 meses, 6,62%. Aumentou mais do que a inflação?, observou. Independentemente do resultado de dezembro, Cordeiro adianta quais foram os ?vilões? da cesta em Curitiba este ano: a banana, que acumula alta de 50,30% mas é volátil, seguida pela farinha de trigo (aumento de 17,70%), açúcar (17,05%) e o arroz (13,74%). Tanto a farinha como o açúcar são cotados no mercado internacional. Na outra ponta, a batata e o feijão ficaram mais baratos -queda de 33,92% e 26,37%, respectivamente.
Produtos de higiene apresentaram queda de 3,26%
Produtos de limpeza apresentaram em novembro queda de 3,26%, em Curitiba, influenciada sobretudo pela redução nos preços da esponja de louça (-11,77%), sabão em barra (-6,42%) e sabão em pó (-1,91%). Já os produtos de higiene registraram um pequeno aumento de 0,15%, puxado pelo bronzeador, que ficou 20,48% mais caro, xampu (7,28%) e sabonete (2,90%). Em contrapartida, houve queda no preço do creme dental (-7,53%) e do condicionador (-7%). Os dados fazem parte da pesquisa realizada pelo Dieese-PR, em conjunto com a Feaconspar (Federação dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação do Paraná).
No levantamento entre o maior e o menor preço, a maior discrepância observada continua sendo a do balde de oito litros – o preço varia entre R$ 1,58 e R$ 9,15, ou seja, diferença de 479,11% -, seguido pela esponja de louça – entre R$ 1,09 e R$ 2,59 -, pano de chão – entre R$ 1,89 e R$ 4,39. O Dieese-PR faz levantamento de preços junto a 15 estabelecimentos de diversos bairros de Curitiba e pesquisa marcas específicas, geralmente líderes de mercado.
Salário mínimo deveria ser de R$ 1.613,08 e não de R$ 350
O salário mínimo deveria ser de R$ 1,613,08 no mês passado para suprir as necessidades básicas do brasileiro, e não de R$ 350. A afirmação é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com base em levantamento com base na Pesquisa Nacional da Cesta Básica de novembro, realizada pela instituição em 16 capitais do Brasil.
Com base no maior valor apurado para a cesta, de R$ 192,01, em Porto Alegre, e levando em consideração o preceito constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para garantir as despesas familiares com alimentação, moradia, saúde, transportes, educação, vestuário, higiene, lazer e previdência, o Dieese calculou que o mínimo deveria ser 4,61 vezes maior que o piso vigente, de R$ 350. Em outubro, o total necessário ficava em R$ 1.510,00 (4,31 vezes) e, em novembro de 2005, correspondia a R$ 1.551,41, o equivalente a 5,17 vezes o mínimo daquele período, de R$ 300.
De acordo com o Dieese, depois de sete meses em que a jornada média necessária para que o trabalhador que ganha salário mínimo conseguisse adquirir a cesta básica permaneceu abaixo de 100 horas por mês, em novembro, o tempo de trabalho necessário chegou a 100 horas e 29 minutos, como conseqüência das fortes altas de preços ocorridas no período. Em outubro, para comprar a cesta básica, o trabalhador que ganha salário mínimo precisava cumprir uma jornada de 96 horas e 15 minutos na média das 16 capitais. Em novembro de 2005, o tempo de trabalho necessário chegava a 115 horas e 3 minutos.
Quanto ao comprometimento do salário mínimo líquido (após o desconto da parcela referente à Previdência Social), o Dieese destacou que, apesar da alta, o porcentual necessário para a compra dos gêneros essenciais, na média das 16 capitais, ainda é inferior a metade do valor líquido, pois a compra da cesta básica exigiu, em novembro, 49,46% do rendimento líquido. No mês anterior, eram necessários 47,37% e, em novembro do ano passado, eram comprometidos, em média, 56,63%.