A deflação dos preços no atacado, principalmente dos agropecuários, tem surpreendido os economistas do mercado financeiro, dado que suas previsões têm ficado acima dos resultados dos Índices Gerais de Preços (IGPs) divulgados recentemente. Profissionais consultados pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, além de darem como certa uma nova deflação para os IGPs em junho, acreditam que o fôlego de queda pode se estender até julho pelo menos.
Após fechar maio em queda de 0,13%, a taxa mais baixa desde junho de 2011, o IGP-M tem tudo para se manter no terreno negativo este mês, tanto na visão do mercado quanto na do próprio superintendente adjunto de Inflação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Ao comentar o recuo de 0,64% da primeira prévia do IGP-M deste mês, ele disse que as chances de o indicador fechar junho com uma taxa negativa são grandes, mas com uma deflação menor. Na pesquisa AE Projeções, o piso das estimativas para o resultado da primeira prévia era de recuo de 0,59%.
Dentro do IGP-M, tanto os preços industriais quanto os agropecuários têm vindo em queda, assegurando a permanência do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) no terreno negativo (-1,32% no primeiro decêndio). Mas o ritmo da deflação dos preços agrícolas, de 3,09%, foi o que mais surpreendeu, sendo bastante espalhada dentro desse segmento, com destaque para os in natura e grãos, como café e milho. Nos itens industriais, o movimento é liderado pelo minério de ferro. Na primeira prévia de junho, o IPA Industrial caiu 0,63%.
“O IGP tem surpreendido para baixo, principalmente o IPA agrícola. Nossa expectativa agora é de forte queda nos IGPs no mês de junho, perdendo o fôlego em julho”, disse a economista Natalia Cotarelli, do Banco Indusval & Partners, cuja previsão preliminar para o IGP-M de junho é de baixa de 0,50%. “A queda no atacado está sendo muito forte no mês de junho, acho difícil voltarmos para o campo positivo já em julho”, disse. “Os alimentos in natura ainda estão devolvendo a alta provocada pela falta de chuvas. Os bovinos também estão devolvendo uma parte da alta do início do ano, e o milho reflete a perspectiva de uma boa safra”, disse, quando perguntada sobre as razões para o comportamento dos agropecuários.
Opinião semelhante sobre até quando os IGPs devem manter-se em queda tem o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Souza Leal. “Pelo menos até o IGP-M de julho. As coletas não mostram reversão da tendência. Por enquanto, dá para pensar em IGP-10 e IGP-M ainda negativos em julho, já o IGP-DI não dá para garantir”, disse. “Uma coisa que tem surpreendido é a parte de carnes, que é mais significativa que a de in natura”, disse. Em seus cálculos, o IGP-M de junho deve ter recuo próximo de 0,50%, enquanto o recuo do IPA Agropecuário deve continuar perto dos 3% da primeira prévia.
Também na opinião do economista Étore Sanchez, da LCA Consultores, o cenário de preços benignos no atacado deve prosseguir até meados de julho. Já a deflação dos produtos agropecuários deve persistir um pouco mais e se alongar para próximo de agosto, refletindo as perspectivas mais favoráveis para a safra e grãos, além de um câmbio mais apreciado, estimou. Segundo ele, o IGP-M de junho deve apresentar baixa de 0,56% e relativa estabilidade (de alta de 0,02%) em julho.
Apesar da queda verificada recentemente nos preços industriais, que também compõem o IPA, ele explica que este movimento deve durar menos em relação ao esperado para o IPA Agropecuário. “A queda dos industriais não é tão intensa e a devolução da baixa deve ser mais rápida. Além disso, o IPC e o INCC também estão com alta. Então, o caminho para a ramificação positiva é mais veloz nos IGPs, que agrega todos os índices, do que no próprio agropecuário”, justificou.
O consumidor, segundo Sanchez, também deve contar com uma inflação mais branda até pelo menos o mês que vem, influenciada, no curto prazo, pela estimativa de queda do IPA Agropecuário e também de outros itens que estão em desaceleração. “Principalmente por meio de alimentos cuja cadeia é mais curta, como os in natura, que (praticamente) saem da lavoura para a mesa do consumidor final. No caso dos grãos, o impacto no varejo acontece por meio da ração, das carnes, que tem uma defasagem maior, mas já está aparecendo em ovos e bovinos”, contou.
O economista da LCA pondera que a inflação de serviços deve impedir um arrefecimento mais significativo nos IPCs. “Tem a parte de passagem aérea, por causa da sazonalidade (desfavorável), e o evento Copa, que acaba por puxar para cima alimentação fora do domicílio e os preços do setor hoteleiro. Ou seja, é uma resistência à desaceleração de Alimentação e Transportes”, afirmou.
Para o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, ainda não está claro quando os preços do atacado mudarão de tendência. Segundo ele, entretanto, a percepção atual é de que vários dos IGPs ainda devem trazer um cenário de atacado em queda. “Não temos uma previsão. Pelo nosso acompanhamento, o declínio ainda deve persistir nos próximos índices”, comentou. “Como ainda não vimos o fundo do poço no nosso acompanhamento, creio que a deflação nos agrícolas pode continuar em julho, ainda que perdendo força”, opinou.