Rio

  – A gangorra de preços mais acelerada está deixando o consumidor tonto de tanto pesquisar nos supermercados. Os que insistem em fazer as compras rapidamente, levando apenas os produtos de sua preferência, se arriscam agora a levar marcas com preços até 72% mais altos que a similar na mesma prateleira. É o caso do extrato de tomate Elefante, da Cica, que subiu para R$ 1,48 enquanto que o da Arisco se mantém em oferta por R$ 0,86 na rede do Mundial.

Essa disparidade mais acentuada nos preços é um dos reflexos amargos deixados pela alta do dólar sobre as tabelas das indústrias e os repasses no varejo. Nesse processo, as marcas líderes, de melhor qualidade, são as que mais vêm perdendo espaço nos carrinhos de compras.

O sabão Omo Máquina, por exemplo, já encontrado por R$ 6,75, está sendo trocado por outras marcas com menos benefícios, que custam entre R$ R$ 4,90 e R$ 5,30, como Minerva e Bold. De 30 produtos pesquisados pelo jornal O Globo, na quinta-feira, 14 apresentavam diferenças acima de 40%. Num quadro de estabilidade, a dispersão média nos preços dos supermercados é de 25%.

Em casos de marcas desconhecidas, há pouco tempo nas lojas, as diferenças chegam a ser bem maiores. Um exemplo é o extrato de tomate Luc, em oferta por R$ 0,62 na Sendas (a marca Elefante estava 138% mais cara). O preço atraiu a aposentada Júlia Tavares, que levou a marca, e a Beira Alta, a R$ 1,05.

– Com essa confusão de preços, temos que experimentar tudo. Se for bom, levo mais. Só não gosto de trocar de arroz. Mas com o Tio João a R$ 9,79, vou ter que mudar.

A Luc Alimentos, pequena fábrica de Taguaritinga, interior de São Paulo, não tem do que reclamar. Segundo o diretor Antônio Carlos Lucentini, em pouco tempo a marca já chegou às grandes redes do País.

– Nosso produto tem qualidade. O preço mais baixo é conseguido com uma estrutura mais enxuta. Não temos os gastos de marketing dos grandes fabricantes.

O presidente da Bolsa de Alimentos, José de Sousa, admitiu que em fases de turbulência de preços, o consumidor fica mais atento e esquece a fidelidade à marca. É em momentos como esse que marcas líderes correm o risco de perder fatia de mercado. Isto já aconteceu com o óleo de soja Liza, que perdeu a liderança para o Soya, que entrou nas prateleiras e permaneceu por um bom tempo com preços mais atraentes.

O economista Nelson Barrizelli, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, reconheceu que a dispersão pode estar aumentando porque as indústrias tentam emplacar tabelas com certa gordura. Ele lembrou que o consumidor já enfrentou este processo depois da desvalorização e, em 2001, com os repasses do reajuste das tarifas e do clima intranqüilo após o atentado nos EUA.

– É uma época em que o consumidor fica mais disposto a mudar, especialmente quando ele percebe que a outra marca é de qualidade semelhante. É aí que os novos concorrentes entram com força.

Essa mudança de comportamento foi confirmada pela administradora de empresas, Francesca Fraga, que gasta cerca de R$ 400 em compras.

– Tudo subiu demais. Como desafio, estou trocando todas as marcas. Até do azeite importado. Só levo o mais barato.

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