O petróleo disparou ontem e se aproximou do patamar inédito de US$ 50 na Bolsa Mercantil de Nova York, o que pode levar a um novo reajuste da gasolina no Brasil. A Petrobras tem afirmado que espera o petróleo atingir um novo preço de equilíbrio para calcular o aumento nos combustíveis. Os atuais preços brasileiros são da época em que o petróleo estava no patamar abaixo de US$ 40 o barril.
Ontem, o preço do petróleo atingiu a marca dos US$ 49,40 pela primeira vez na história da negociação do contrato futuro do barril em Nova York. O crescimento da demanda na China e na Índia combinado à escalada da violência no Iraque estão entre os principais responsáveis pelo contínuo aumento no preço da commodity.
No encerramento dos negócios, porém, o petróleo acabou a semana em US$ 47,86, com queda de 4,06% no dia.
Diferentemente do que aconteceu nos choques dos anos 70 e 80, a disparada atual do petróleo dá sinais de que demorará a passar, segundo reportagem do “Wall Street Journal”. Em 1981, o petróleo chegou, a preços corrigidos, ao equivalente a US$ 73 o barril em Nova York.
Nos anos 70 e 80, o petróleo alto levou os EUA à recessão. Hoje, os preços sobem porque os norte-americanos continuam consumindo para manter o crescimento da economia e porque a demanda mundial consome praticamente toda a produção.
Instabilidades políticas, como a greve dos petroleiros na Venezuela, ocorrida entre dezembro de 2002 e janeiro de 2003, e a situação de insegurança com os contínuos ataques a instalações petrolíferas no Iraque, aumentam os temores de escassez da commodity no mercado mundial.
Anteontem, o barril registrou o maior fechamento da história da Nymex, US$ 48,70, terceiro fechamento recorde consecutivo e nono só neste mês. O barril do tipo Brent, negociado em Londres, também recuou, para US$ 44,30, depois de cravar novo recorde, US$ 45,15.
O governo americano se pronunciou ontem a respeito dos preços do petróleo, primeiro por meio do secretário do Tesouro, John Snow, e depois pelo porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, reafirmando que a reserva estratégica de petróleo do país não será utilizada nem deixará de ser abastecida para conter os preços.
Ataques
O preço atingiu o novo patamar em razão dos ataques das tropas americanas à cidade de Najaf (sagrada para xiitas e reduto dos seguidores de Al-Sadr). Ontem também, uma bomba explodiu em um oleoduto que liga a cidade de Kirkuk (norte do Iraque) à refinaria de Baiji (próxima a Bagdá), o que afetou a distribuição local de petróleo.
Ainda na quinta-feira, sabotadores atearam fogo à sede da petrolífera estatal iraquiana South Oil, na cidade portuária de Basra, sul do país, onde fica o principal terminal exportador de petróleo. A exportação do produto foi reduzida quase à metade (cerca de 1 milhão de barris por dia) desde um ataque anterior ocorrido no dia 9.
Demanda
O crescimento da demanda por petróleo na China e na Índia é outro fator que só tem feito preocupar ainda mais os investidores quanto a uma escassez de oferta do produto no mercado mundial. As refinarias da China já processaram neste ano 17,2% de petróleo a mais do que no mesmo período do ano passado e as importações aumentaram 40% em relação a um ano antes. Na Índia, a refinaria estatal Indian Oil, maior do país, anunciou anteontem que as importações do produto deverão crescer 11% entre este ano e o próximo.
Indústria petroquímica projeta reajustes
A disparada do preço do barril de petróleo tipo WTI (EUA) e Brent (Europa) para quase US$ 50, nos últimos dias, leva a indústria petroquímica a projetar o preço da nafta em US$ 430 a tonelada, para setembro. O gerente de matérias-primas da Companhia Petroquímica do Sul (Copesul), Hardi Schuck, afirma que, se o preço da nafta chegar a esse nível, baterá o recorde histórico mundial.
Anteontem, a tonelada da nafta pela cotação ARA, Europa, estava em US$ 444, ante a média de US$ 374, em julho, e de US$ 254, em julho de 2003. Em agosto do ano passado, a tonelada da nafta pela cotação ARA estava em US$ 269. “A Petrobras deverá seguir os preços mundiais, não vai segurar aumentos no Brasil”, avalia Schuck. A Petrobras reajusta o preço da nafta no início de cada mês com base no preço médio da nafta e da variação do dólar no mês anterior.
Apesar da evolução do preço da matéria-prima básica da petroquímica nacional, a indústria está otimista. Isso porque os petroquímicos básicos e os derivados continuam em progressão de preços no mercado internacional. “Não há compressão de margens em aromáticos nem em olefinas”, destaca Schuck.
As perspectivas de preços para o barril de petróleo nos próximos meses mantêm as estimativas de cotação da nafta em alta. O executivo da Copesul pontua as várias situações no cenário mundial que levam a crer na manutenção de preços em alta do petróleo.
Refino e uso
Na área de refino de petróleo, a situação não é menos crítica. O uso da capacidade instalada para refino nos Estados Unidos e na Europa ficou na média de 94% nos últimos três meses. Nos Estados Unidos, está próxima dos 96%. “O uso quase pleno no refino também pressiona alta dos preços”, considera Schuck.
Não bastasse todo esse cenário crítico de oferta, o Japão programou para este semestre paradas para manutenção de suas usinas nucleares. A produção de energia no período ficará por conta de geração térmica, movida a derivados de petróleo.
O gerente da Copesul avalia que no passado o petróleo chegava a afetar mais a economia. “Agora, apesar da alta da cotação, a economia continua em processo de crescimento”, observa o executivo. Ele pondera, porém, que os Estados Unidos podem suportar tais aumentos. Já a China, onde a riqueza é menor, não. “Os chineses podem não ter renda suficiente para suportar os aumentos, e reduzirem o consumo, tendo como conseqüência um crescimento mais lento da economia”, analisa Schuck.