O litro do etanol deve passar de R$ 2,40 nas bombas dos postos curitibanos nos próximos dias. É o que preveem os proprietários dos estabelecimentos que, dias após a divulgação das 12 prisões da Operação Predador, já estampavam novos valores do combustível. Em um curto trajeto pela região central de Curitiba, a reportagem de O Estado identificou dois locais onde o litro do etanol já estava sendo comercializado por R$ 2,39.

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Nenhum dos postos visitados admitiu que o reajuste de até R$ 0,30 centavos em relação ao preço da semana passada está vinculado ao início do desmantelamento da quadrilha que praticava uma espécie de dumping, por meio do subfaturamento do preço do etanol no Estado via transações fiscais irregulares entre postos e distribuidoras com e sem bandeira.

“Aumentamos nesta semana porque compramos mais caro da distribuidora. Não estamos conseguindo absorver mais os aumentos porque nos últimos seis anos fomos achatando nossa margem de lucro em função do canibalismo causado pela concorrência desses sonegadores”, afirmou na quinta-feira (17) o proprietário do Posto Jardim Pinheiros, Alex Sandro Rezende. Ele opera com bandeira da Shell e, nos últimos seis anos, amargou prejuízos por conta da ausência de fiscalização e da permanência do mercado paralelo de comércio de combustíveis. “Estamos soltando rojão, mas considero que demorou demais para se executar a operação. Enfrentamos pelo seis anos sem ação do Estado”, ressalta. “É o tipo de crime que não aparece, mas prejudica gravemente quem trabalha direito”, aponta.

No caso dos postos bandeirados, que compravam etanol de distribuidoras diferentes das bandeiras, a prática deveria ter sido punida pela Agência Nacional do Petróleo, já que a legislação condena isso. Mas é reconhecido pelo próprio Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Paraná (Sindicombustíveis-PR) que isso não ocorre por falta de efetivo nas equipes de fiscalização da agência.

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Com bandeira da Esso, o Autoposto Lua Azul, também apresentava R$ 2,39 para o litro do etanol. Apesar da pouca diferença para a gasolina, cujo litro estava em R$ 2,69, o álcool continua tendo saída. “Fiz uma experiência na semana passada com a gasolina e vi que o rendimento ficou parecido com o álcool, por isso resolvi voltar para o combustível mais limpo”, disse o professor Rafael da Silva Tanger, proprietário de um veículo com motor flex. Pelos cálculos do professor, por semana, ele tem gasto entre R$ 70 e R$ 80 reais de combustível. “Dou aula em vários lugares, não tenho como abrir mão do carro e do gasto para me deslocar”, explica.

E pela avaliação dos proprietários de postos, os preços da gasolina e do etanol deverão apresentar novos aumentos. “A entrada da nova safra de cana-de-açúcar ainda não surtiu efeito e isso tem aumentado os dois combustíveis”, constata Rezende.

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Além disso, a margem de lucro que o mercado regular trabalhava antes do dumping era entre R$ 0,30 e R$ 0,35 por litro. Caiu para uma faixa de R$ 0,20 nos últimos tempos, ou seja, pode abrir brecha para que os postos resolvam retomar os patamares anteriores de lucro.

Carro só para trabalhar

Para o lavrador e proprietário do Pesque-Pague Nossa Senhora de Aparecida, Odegal Manosso, que tem um veículo movido a etanol, a disparada no preço do combustível desde o final de 2010 está sendo amenizada com a redução na circulação do veículo. “Só uso o carro para repor meus estoques do pesque-pague. Não tem como queimar combustível nesse preço se não for para trabalhar”, indica Manosso.

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