No momento em que a demanda aquecida estimula reajustes de preços, os eletrodomésticos seguem em caminho contrário e, ao mesmo tempo em que mostram ótimo desempenho nas vendas, registram deflação no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a taxa oficial de acompanhamento inflacionário.
Os resultados acumulados no IPCA de janeiro a maio de 2008 mostram queda de 0,39% nos preços de eletrodomésticos. A redução em artigos de TV, som e informática é ainda mais significativa: 5,07%.
"Os eletrodomésticos estão ajudando a conter a inflação", destacou a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Esses produtos são parte do grupo de Artigos de Residência, com peso de 5,48% (similar ao dos grupos de Vestuário e Comunicação) no IPCA. O grupo de produtos registrou a menor alta (0,16%) entre os nove grandes grupos pesquisados, com contribuição praticamente nula (0,01 ponto porcentual) para a inflação de 2,88% apurada pelo instituto no acumulado dos cinco primeiros meses deste ano.
Além disso, no IPCA acumulado de 5,58% em 12 meses até maio, o grupo Artigos de Residência registrou variação negativa de 1,42%, com contribuição também negativa (-0,07 ponto porcentual) na inflação no período. Ou seja, não fossem os eletrodomésticos, o IPCA acumulado em 12 meses já teria atingido 5,65%.
Eulina lembrou que o câmbio está contribuindo para a queda dos preços dos eletrodomésticos, seja nas matérias-primas para produção doméstica ou no aumento das importações que aumentam a concorrência interna e ajudam a evitar os reajustes.
Se dependesse da demanda, os preços desses produtos já teriam disparado. Segundo os últimos dados do comércio varejista divulgados pelo IBGE, as vendas de móveis e eletrodomésticos aumentaram 27,8% em abril e ultrapassaram o segmento de hiper e supermercados – de maior peso na pesquisa de comércio – como principal influência positiva para o crescimento das vendas do setor (8,7% ante maio do ano passado).
De janeiro a maio deste ano as vendas desse segmento acumularam um crescimento de 19,8%, bem acima da média do varejo no período (11,0%). A expansão ocorre após sucessivos e significativos aumentos já apurados no acumulado dos anos de 2004 (26,4%); 2005 (16,0%); 2006 (10,3%) e 2007 (19,8%), com surpreendente aceleração do ritmo em 2008.
O chefe do departamento de economia da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, acredita que os eletrodomésticos vão registrar deflação acumulada de 3,5% em 2008 e também atribui a queda nos preços desses produtos, apesar do crescimento da demanda, ao fato de que são produtos "sensíveis ao câmbio".
O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-RJ, explicou que o câmbio e a concorrência estão ajudando a evitar reajustes nos eletrodomésticos apesar da demanda e, com isso, esses são "praticamente os únicos itens" que estão ajudando a segurar a inflação.
No entanto, ele ressalta que, como o peso dos Artigos de Residência é muito inferior ao dos alimentos (22,14%, ou quatro vezes maior), que estão pressionando muito o IPCA, vão continuar ajudando "um pouco, mas não o suficiente" a conter a alta do índice.