Preço de alimento dispara e pressiona a inflação

Os preços agrícolas no atacado atingiram neste mês níveis recordes e devem pressionar os índices de inflação ao consumidor até dezembro. Em agosto, até o dia 23, o índice de preços das commodities agrícolas da RC Consultores atingiu 185,2 pontos. É o maior patamar desde fevereiro de 2002, quando a consultoria iniciou a apuração. O indicador leva em conta as cotações no atacado doméstico de 15 produtos agropecuários, entre os quais estão grãos, café, açúcar, leite e carnes.

Até quinta-feira da semana passada, os preços agropecuários subiram, em média, 7% este mês ante julho e 25,5% em relação ao mesmo período de 2006. Desde março de 2005, as cotações não tinham uma elevação tão acentuada na comparação com o mês anterior. Em março de 2005, a alta havia sido de 7,5%. Só neste mês, o milho subiu 17,1% em reais; seguido pelo feijão (11,7%), café (6,9%), trigo (6,5%), arroz (6,3%), carne bovina (4,8%), entre outros produtos. Até o preço do açúcar teve alta de 3,4% em agosto.

"Ingressamos na entressafra deste ano com várias agravantes. Não é uma entressafra comum", diz o diretor da consultoria, Fábio Silveira. Ele explica que, além da queda na oferta por questões sazonais, a demanda mundial por alimentos está aquecida, especialmente depois do anúncio dos EUA do programa do etanol obtido a partir do milho. Isso impulsionou a alta de carnes e grãos, que se somou à escassez de leite e trigo.

Dólar

Ele ressalta, ainda, que houve uma valorização do dólar em torno de 5% em razão da crise financeira mundial. Como esses produtos têm as cotações balizadas pelo mercado internacional, incorporam nos preços em reais a alta do câmbio. Finalmente, o consumo doméstico está aquecido por causa do aumento do nível de emprego e da renda. "Há uma combinação de fatores que devem pressionar a inflação no varejo até dezembro", prevê. Enquanto isso, o consumidor já sente o peso dos aumentos nas compras. O Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) encerrou a 3ª quadrissemana deste mês com alta de 0,11%, ante 0,17% da segunda prévia. Foi a menor taxa para o período desde junho de 2006.

Apesar da elevação do preço da alimentação que ficou 1,56% mais cara e foi o grupo que mais subiu, a explicação dos analistas para a desaceleração da inflação em São Paulo é o efeito defasado da redução da energia elétrica no IPC da Fipe. No começo de julho, a Eletropaulo reduziu em 12,66% a tarifa. Na 3ª quadrissemana, a conta ficou 7,36% mais barata. A queda da tarifa tem sido suficiente para fazer frente aos sucessivos aumentos dos alimentos. Na 3ª quadrissemana, o leite subiu 5,06% os derivados, 5,06% e as carnes, 2,99%.

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