Preço da soja não deve obter grande valorização

Apesar das recentes altas de cotação da soja na Bolsa de Chicago que animaram os produtores brasileiros, convém não continuar apostando na trajetória ascendente de valorização do produto no mercado futuro.

A recomendação foi feita pelo consultor André Pessoa, da Agroconsult, aos 200 produtores rurais e técnicos da região de Ponta Grossa, durante o Seminário sobre Conservação de Grãos, promovido pela Kepler Weber. A seu ver, o dólar não retornará aos R$ 4,00, o que significa que “é sonho imaginar vender a saca de soja a R$ 50,00, quando os atuais R$ 38,00 se constituem num valor muito bom para o novo momento”.

O cenário mundial mudou, disse ele, referindo-se à produção americana de soja, que há cinco safras mantém a mesma área plantada próxima de 30 milhões de hectares e mostra que chegou ao limite físico de plantio. Além disso, as condições das lavouras apontam para quedas acentuadas na produção que deverá ficar em 77,9 milhões de toneladas, conforme o USDA. Já a Argentina experimenta uma rápida recuperação e registrará uma produção de 38,5 a 40 milhões de toneladas de soja, tendo agregado 1 milhão de hectares de plantio. E será a Argentina, junto com o Brasil, com um adicional de 6,1 milhões de toneladas de soja à produção total de 57,5 milhões, que mudam o futuro dada a grande interferência de ambos nos estoques mundiais do produto.

As estimativas conservadoras da USDA sinalizam uma oferta mundial de soja de 210,5 milhões de toneladas (194,6 milhões na safra anterior) para uma demanda total de 203,0 milhões de toneladas (194,4 milhões em 2002/2003), registrando, pela primeira vez na história, um volume de produção superior ao consumo, resultando num estoque de 37,3 milhões de toneladas de soja. “Em geral, o nível de estoque está associado ao preço que tende a cair”, lembra André Pessoa, alertando os produtores a não se deixarem contaminar pela alta dos preços das duas últimas semanas, reafirmando sua convicção de que o Brasil está num momento favorável à comercialização da soja futura.

Chineses reclamam de impurezas

Brasília

(AE) – Os chineses estão preocupados com a qualidade da soja que importam do Brasil, afirmou ontem o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, José Amauri Dimarzio. Ele esteve reunido com o vice-ministro da Administração-Geral da Supervisão da Qualidade, Inspeção e Quarenta da China, Wang Qinping. “Além de terra, os chineses detectaram resíduos de palha, de sujeira e de produtos químicos usados no combate a insetos em cargas de soja brasileira”, afirmou Dimarzio.

Os chineses também informaram que encontraram ervas daninhas em cargas de soja compradas do Brasil. O ministério pediu ajuda para detectar a origem dos lotes que apresentam problemas. “Pedi que, no desembarque da soja brasileira, seja feita uma análise dos lotes. Eles nos indicarão de quais portos saíram os lotes de soja com problemas. Queremos fazer a rastreabilidade da soja”, explicou.

Tão logo as análises sejam enviadas ao Brasil, técnicos do ministério irão à China para verificar os dados. A expectativa é de que a viagem ocorra em setembro. Apesar da preocupação dos compradores, os embarques de soja não foram alterados, reafirmou Dimarzio. “Os embarques seguem normais, mas vamos identificar a origem do problema.”

Paralelamente, o ministério pediu que os representantes dos exportadores convoquem seus associados para verificar a qualidade da soja. “Os técnicos do ministério também verificarão a classificação da soja para exportação. Queremos saber que tipo de controle é feito”, afirmou. Ele lembrou que outros importadores não se queixaram, mas disse que a China também reclama do produto importado dos Estados Unidos e Argentina.

Febre aftosa

O vice-ministro manifestou preocupação quanto à febre aftosa. A China tem interesse em comprar carne bovina do Brasil. “Informamos à missão chinesa que o Brasil completou dois anos sem nenhum foco de febre aftosa”, afirmou.

O último foco da doença foi registrado no rebanho do Maranhão. O governo chinês pediu à Embaixada do Brasil em Pequim informações adicionais sobre o controle de resíduos – antibióticos, por exemplo – feito nos lotes de carne bovina. O vice-ministro informou que a China tem interesse em exportar para o Brasil maçã, pêra, milho e trigo.

UE e EUA não reduzirão subsídios

Brasília

(AE) – O ministro das Relações Exteriores da Polônia, Wlodzimierz Cimoszewicz, disse ontem que considera “irrealista” a preservação dos subsídios agrícolas concedidos pelos Estados Unidos e pela União Européia a seus produtores e exportadores do setor. Mas, em seu ponto de vista, será igualmente “irrealista” a redução imediata desses benefícios. A Polônia tornou-se neste ano membro da União Européia e, sob essa nova condição, deverá participar das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que estão travadas justamente por conta dos impasses no capítulo agrícola.

“Se os produtores poloneses pudessem receber os mesmos subsídios que os franceses, acharíamos ótimo. Mas manter o atual nível de apoio aos produtores é irreal”, afirmou Cimoszewicz. “A Polônia acredita que seria melhor para todos se nos concentrássemos no desenvolvimento e nas pesquisas tecnológicas” completou.

Segundo o chanceler polonês, seu país e o conjunto da União Européia apresentam os mesmos problemas em relação ao setor, a superprodução, em especial de grãos e de carnes, e a elevada proporção de cidadãos concentrados na atividade.

No caso da Polônia, 20% da população se dedica à produção rural, que contribui com apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. O chanceler deixou claro que o ingresso da Polônia na União Européia foi um objetivo conduzido como “prioridade máxima” pelo governo polonês, por conta das possibilidades que seriam abertas para a melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos e das condições econômicas do país.

O ministro polonês encontrou-se segunda-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem reiterou o convite de seu governo para uma visita à Polônia. Também reuniu-se com os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do Trabalho, Jaques Wagner, e com o presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP).

Ontem, Cimoszewicz se encontrou com empresários e representantes da comunidade polonesa no Brasil e com o vice-governador do Paraná, Orlando Pessuti, em Curitiba. Hoje, na capital paulista, o chanceler polonês conversará com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Fórum

Cimoszewicz defendeu a realização de um Fórum Brasil-Polônia para tratar do incremento do comércio bilateral. Apesar de envolver cerca de 100 itens, a corrente de comércio totalizou apenas US$ 112,693 milhões no primeiro semestre deste ano, com superávit de US$ 22,551 milhões para o Brasil. Em seu ponto de vista, o comércio minguado entre os países se deve basicamente à timidez nas iniciativas de promoção comercial.

A Polônia estaria disposta, conforme afirmou, a exportar ao Brasil equipamentos, barcos e tecnologia relacionadas ao setor da pesca, assim como aviões utilizados na pulverização de inseticidas nas lavouras. Da mesma forma, se vê atraída especialmente pelos embarques brasileiros de frutas tropicais e de aeronaves.

Conforme lembrou, parte da frota da companhia aérea polonesa LOT é constituída por 15 aeronaves da Embraer. Durante entrevista a jornalistas, o chanceler polonês demonstrou desconhecimento do caso das “polonetas”, a dívida acumulada pela Polônia com o Brasil por conta da moratória de seus compromissos com exportadores brasileiros. Em seu socorro, o embaixador polonês no Brasil, Krzysztof Jacek Hinz, afirmou que o caso já foi resolvido, com a recompra da dívida pela Polônia em 2001, e já não traz mais problemas para o comércio bilateral.

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