O fim da queda dos preços da soja no atacado respondeu por um terço da aceleração do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) em outubro, no âmbito do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). A seca, justamente no período de plantio do grão no Brasil, alimentou expectativas de um rendimento menor na safra 2015, o que deixou o produto 0,40% mais caro. Com isso, o IPA saiu de uma queda de 0,18% em setembro e avançou 0,73% no mês passado. O IGP-DI acelerou de 0,02% para 0,59%.

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“Outubro foi um mês em que a palavra seca apareceu de forma bastante destacada, tanto pela questão do abastecimento de água em São Paulo quanto pela questão agrícola. Este tem sido um ano seco, com ocorrências sucessivas de estiagens. E agora esse assunto fica importante de novo porque é época de plantio. Tem áreas como Paraná e Centro-Oeste que estão extremamente secas justamente na época do plantio. Então há preocupações com o rendimento para a safra do ano que vem, se a produção vai ser prejudicada”, explicou o superintendente adjunto de inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

As más notícias climáticas no Brasil afetaram, além da soja, o trigo e o milho. No caso do milho, que acelerou a 3,80% em outubro, houve ainda um componente internacional. “Começou a chover além do esperado nos Estados Unidos, onde ainda tem colheita”, disse Quadros. Já o trigo caiu 1,57%, ritmo bem menor do que a redução de 9,00% em setembro.

O café também sentiu o impacto da estiagem atual e subiu 7,99%. No acumulado de 12 meses, o grão já avançou 75,33% no atacado, segundo a FGV. “A preocupação é porque essa época deveria ser de maior irrigação para desenvolver o fruto”, explicou Quadros.

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A expectativa para as próximas semanas, no entanto, é que esse efeito termine, já que há perspectiva de que o volume de chuvas volte ao normal. “Não deve haver novo ciclo de alta da soja”, exemplificou o superintendente. No caso dos outros grãos, a leitura é semelhante, com as taxas positivas diminuindo de intensidade ao longo do mês de novembro.

Alimentos in natura

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Além das matérias-primas brutas agrícolas, a estiagem também se fez sentir nos alimentos in natura, que saltaram de -5,66% para alta de 2,65% em outubro. De acordo com a instituição, ficaram mais caros no atacado o tomate (20,20%) e a batata-inglesa (15,17%), em ambos os casos com repercussão imediata sobre o varejo. Houve ainda pressão dos ovos, que caíram 12,95% em setembro e passaram a recuar 3,16% no mês passado.

“Os in natura estão num ciclo de alta, isso ainda não acabou, embora uma parte do fenômeno (de estiagem) já tenha acabado. Estamos pegando aqui uma primeira fase. Se você realmente tem um problema de clima afetando, isso não termina aí, pode avançar mais um pouco”, disse Quadros.

A pressão só não foi maior porque os alimentos processados estão dando uma trégua. Após subirem 1,01% em setembro, o grupo avançou apenas 0,03% em outubro, diante dos laticínios e das carnes bovinas, no frigorífico, mais baratos.