As carnes bovinas foram um dos grandes responsáveis pela variação de 6,40% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em 2010, a maior alta desde 2004. O segmento subiu 34,45% no ano passado e, dentro dele, os ganhos foram comandados pelo aumento de 67,74% do filé mignon. “A carne subiu muito mais do que o padrão dos últimos anos. A explicação se dá pela entressafra severa a partir de julho e agosto, quando os pastos ficaram muito prejudicados pela falta de chuva. O aumento da demanda também pressionou”, afirmou o coordenador do índice, Antonio Evaldo Comune.
A carne contribuiu para que o grupo Alimentação como um todo subisse 12,20% em 2010 e respondesse por 2,65 pontos porcentuais de toda a variação do IPC. Os alimentos, segundo Comune, devem continuar pesando neste ano. “Em 2011, a principal pressão deverá vir de Alimentação”, disse ele. “Existe também o fato de que outras commodities agrícolas estão pressionadas, como açúcar, trigo, soja e milho, seja por maior demanda seja por problemas de produção.”
Outro grande pilar da inflação em 2010 veio de Transportes, grupo que subiu 7,06% ao longo do ano. “Em janeiro houve um aumento de 17% da tarifa de ônibus”, lembrou o economista. Segundo os cálculos da Fipe, esse reajuste fez com que os preços do subgrupo Transportes Coletivos avançassem 13,40% no ano passado, acrescentando 0,74 ponto porcentual ao índice geral no período. Comune observou ainda que, quando não há um reajuste de tarifas de ônibus urbanos no início do ano, a média do IPC em janeiro gira em torno de 0,5%, 0,6%. Em janeiro do ano passado, no entanto, quando houve o reajuste, o IPC subiu 1,34%.
Comune recusou-se a classificar de “exagerado” o aumento de 11% da tarifa de ônibus em São Paulo, em vigor a partir de hoje. Esse aumento, calcula a Fipe, deve acrescentar 0,42 ponto porcentual ao IPC deste ano, sendo 0,36 ponto apenas em janeiro. “É preciso ver qual a inflação relevante para o setor. O que me chama atenção aí é a mão de obra, que tem obtido aumentos reais de salário. Só isso já justificaria um reajuste acima da inflação”, afirmou o economista da Fipe. “Mas é no mínimo um jeito de administrar reajustes muito estranho. Eles deixam o preço estável durante muito tempo e depois querem compensar as perdas”, acrescentou Comune. Antes do ano passado, o último reajuste das tarifas havia ocorrido em novembro de 2006.